pregos e blocos
O meu prego
É moscovita,
Num dia torce
Para a direita,
No outro não entorta
Nem a crista.
É bolchevique
E fundamentalista,
Rasputine e encapuzado,
Por vezes ,o prego,
Sente-se ilhota e desencantado,
Outras, um Lorca fuzilado,
O meu prego,
É artista , da cidade
Dos comediantes
E dos segredos,
Nem ele sabe ,
O que sussurram,
Nus ,em negros becos,
Escondidos,
Com medo
Dos sem dedos,
Os Espíritas.
O meu prego mendiga,
Mechas de cabelo,
Com o filho cego.
O meu prego,
Esconde-se na sebe
E nos rochedos,
Tem ego de elefante
E ADN de mostrengo,
È Moscovita.
Jorge Santos
Oração
A um Deus Anão
Procuro castigo puro,
Porque Profanei o tumulo
Destinado do destino
E a Mansão do Emílio Zola.
Procuro quem me iluda,
Dedo aponte ao proscrito,
Traslade do garrote,
Armadilho em Covil de Zorra.
Procuro castigo duro,
Carga de rinoceronte
Ou Cornada de bisonte,
Abate contra o muro
Como um Goya fuzilado.
Procuro castigo rasgado,
Pelo corte picotado,
Missiva de Degolado reles,
Enxertado nos baldios
Dos infernos dos montes
Dos Perdidos.
Procuro rastilho
Curto de explosão
Rápida em paiol
Procuro lábios de sangue
E segmentos de enxofre
Que chamem a atenção
Procuro castigo puro
Por saquear a vala comum
De um Deus anão.
JORGE SANTOS
Joel em PESSOA
"Sou daquelas almas
Que as mulheres dizem que amam,
E nunca reconhecem quando Encontram,”
Daquelas que, se elas as reconhecessem,
Mesmo assim não as reconheceriam.
Pra ser franco sinto perto uma linha que me divide
Entre o concreto e o metafísico, e uma dor extrema no peito.
“Sofro a delicadeza dos meus sentimentos,”
De alquimista e maquinista dos invernos
“Com uma atenção desdenhosa.
Como dos caracóis recolho-me e d’eles
“Tenho todas as qualidades,
Pelas quais são admirados os poeta românticos,
Mesmo aquela falta dessas qualidades, pela
Qual se é realmente poeta romântico.
Encontro-me descrito (em parte) em vários romances
Como protagonista de vários enredos;
Mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é
Não ser nunca protagonista."
É antes ser autista quando preferiria ser artista e quiçá igual ao
Anarquista do conceito quando afinal sou grosseiro.
"O cais, a tarde, a maresia entram todos,
E entram juntos, na composição da minha angústia.
As flautas dos pastores impossíveis não são mais suaves
Que o não haver aqui flautas e isso
Lembrar-mas."
Lembrar-mas nos ermos que lasquei fascinado
Sem encontrar uma clave de Sol e os tesouros
Que valem ouros prosados e vícios fenícios.
Me levem daqui pós migrados de aves de voo
Tantas vezes replicado no sul.
Os paióis de minhas explosões são artefactos
Caseiros e artes que não detonam.
Sou sequelas d’almas com rasgado sorriso
Que se transmuta em ouriço
E parte para outro orifício , outra angústia.
Joel em PESSOA
Águas Mil
No que sobeja d'águas Caim
E magos em prados e cutelos,
Até que um rio correndo
M'arrastou e despiu d’árvore ,
Me envolveu d’folhas ,
Protegeu do frio , no sobejo
d'fraguas fortes , caí protegido ,
Caíam de mim , arrastadas no borborejo
Da fonte e cresci defronte ela
(minha amante), a fonte era distante
Mas soube-me a sede.
Descobri-me dum pouco no mar semfim
O acordeão lânguido, ritmado,
Das ondas salgadas,
O saguão pintado,bruxelante,
Refúgio das horas fundas,
No sobejo de águas-furtadas
Jorge Manuel Santos
Jorge Santos
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