Meu país breve


Vago sussurro me leva,
Através deste breve país,
Que nem me louva,
Nem me indulta, como juiz,

Mas condena à tristeza,
Como sentença do que não fiz,
(Valia mais cear com o demo à mesa,
Tão bastardo como estas leis).

Breve sussurro me leve,
D’outra e outra vez,
Breve e branco como neve,
Pisada por meus pés,

No silencio de quem não me ouve,
No rumor débil que hasteio,
Ao ouvido de quem não me vê,
E ao meu olhar raro e alheio.

Vago sussurro me leve,
Nas vagas leves, nas marés
Do destino que m’envolve,
De heróis e almirantes.

E assim vogo entre desencantos,
Amores e saudades d’antes,
De migrados nostálgicos,
E exilados, outrora senhores,

De terras e campos.
Breve sussurro me leve,
Ao régio do que fomos,
Nas penas da mais famosa ave,

À  herança que perdi
E á memória d’elefante,
Tudo o que era antes, eu esqueci,
Excepto que não sou, de todo, inocente.

Jorge Santos (05/2011)

A sensação de ter vivido devagar


Não tenho da banal pressa nem sequer o vagar
Nem quem se ofereça pra falar por falar
Não sou de conversa “fiada”ou ocasional
E nem por nada me considero pessoa “normal”

(Quero lá eu saber o que isso é!)
Diziam-me que, “seria o que eu quisesse!”
Nem me lembro de ter esperança, nem quando era criança
E diziam no jogo do berlinde “marralhas pr’ás meças...”

Se nem pr’ás “moças”era “o primeiro que se namora”,
Invisível até para a professora,
Enchia a sala de aula de fedor ao vulgar, ao pobre...
E de gargalhada geral, daquela que açoita e fere.

Era anti-social e desconfiado, um fósforo apagado
Num espaço exíguo dobrado sobre si mesmo, ouvindo
O terrível silêncio no latejar das minhas veias.
E o que faço eu desta profissão de ideias?   

-Evoco o que esqueci, como um vómito seco,
Ou talvez a conversa calada em que me fico,
Não tenha pressa de mais nada,
Talvez nem conheça a sensação de ter vida,

Tal como a conheço agora…

Jorge Santos (05/2011)

tradutor

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