Barca de volta e Ida...


A minha ida é feita num barco,
Sem uma única onda lavrando a quilha.
Afeito à vida, virada de borco,
Já nem ardor tem, a minha trilha…

O mar que é branco, quebrado
No silêncio que dista d’ilha em ilha,
Será a Visão do oco medo?
Num barquito sem quilha !?

Tod’o ego meu, eu renego
E inclusive me narro e ressalvo,
-Nau sem vida, náufrago
Cansado, fadiga de ser’inda, salvo

Por si mesmo, d’si próprio,
Náufrago sem quilha,
Nau sem vida, nem barc’a sério
Mas que sempre, sempre me auxilia,

Sem saber, aonde acaba o dia ou me leva,
Nesta viagem de volta e ida,
-É o movimento ondeante da onda barca
Na cresta da onda partida,

Que mede a medida da minha nau e avança,
Abranda a luz do dia…
Então aceito que tudo aconteça,
(E confesso um laivo, não de ira, mas de alegria)

Jorge Santos (12/2012)

Se soubesse que morria amanhã...


Se soubesse que morria amanhã,
Punha na cara, a máscara da verdade,
Que ainda lembro a pouca que tinha
Ontem, por acaso, ao cair da tarde,

Renunciava no futuro,
A ter d’orar a alguém.  
E a solidão seria como um tesouro.
Sem m’importar do desdém,  

Por me sentar, na multidão,  
Estando em vão, no meio deles.
Encher-me-ia de amor sem conclusão
E do coração suave das aves.

Pagaria qualquer preço,
Para sentir fundo, o suspiro último,
Esse que, sem parecer, aqui vos ofereço,
Depois; calmo, abalaria esvaecido em fumo…

Jorge Santos (21/12/2012)

Dizia eu, no outro dia...


Dizia eu, no outro dia,
Que meus rostos todos, não sou eu,
Mas antes o momento relembrado,
D’uma esperança que no corpo guardo.

Digo hoje em dia eu,
A propósito de lembrança
Que não há dia nenhum, que não Peça
De volta a esperança de quem a perdeu,

Nalgum recanto de si.
Dizia eu, outro dia,
Quando não era assim
Tão invernoso o dia,

O tempo e a alma tão fria,
Que estranhos eram, pra mim, os outros
Mas não eu.(pois não me via...)
A propósito de gestos,

Dizia-me eu, n’outro dia,
Invisível ao resto
Do mundo,
Bastava um gesto

E pronto…
Quando acordava
Eu era um outro
Ou simplesmente eu…

Dizia eu…um dia,
Sair vencedor de tudo,
Mas o vencido fui eu,
Que não lembro no futuro

O que disse outro dia...


Jorge Santos (12 /2012)

tradutor

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