Sei apenas, valer isto.





Sei apenas, valer isto,
-Uma criatura de relance,
Crendo-se frade ou monge,
Não passando do Ex. Tio,… Ausente

Num romance de Dumas Filho,
Que ninguém leu ou viu.
Sei valer apenas isto,
(Sem reenvio depois d’ido)

Sobrevivo nulo, goro
E ridículo, na versão
De gordo-cachorro-vadio,
Sinto-me perdido, anão,

Vazio, um sem talento,
Pra empreitada alguma,
Penduro-me 100 %,
Em realidade refractada

E planto plátanos num ilusório palco,
Sonho inútil até para mim,
Estou cansado do café, da bica
E dos bicos dos pés que a cabeça

Não alcança, nem noutra valência,
A minha maior coragem,
É no levantar dos ditos,
Como se um Cristo dissesse,

"Anda" - e ele andou
Não admira, “pau-mandado”, 
Confuso e estúpido, ele andou
Sem sentido, despido, nu…

O meu destino é a demência
2oo mil olhos me mirando
Na jaula dum zoo, distante…
No oriente…nenhum lado

Nem pensar, nem olhos nem janelas,
Banal  triste forasteiro
Preenchido de nada e ar,
Não aguardo o regresso de Cristo,

Nem explicar tudo isto, escapulir
No silêncio do mundo interno
Incurável covardia,
Estafeta vulgar, incompetente

Sem sonho nem frete...
Sei valer, apenas isto.


















Jorge Santos (02/2014)

A hora é do tempo, a gorra.




Todas as minhas horas são eleitas p’lo uso.
Por me permitirem um usar diferente
Nas horas cujo fato não me serve de refúgio,
Quer me fite ao espelho, de lado ou de frente,

Uso de fato e gravata que serve a quem se chama vazio,
Vago, inexistente e então esse, sou de facto, eu.
O facto é que as horas sendo um axioma de Descartes
Todas as horas minhas, serão viúvas, ou eu; delas órfão.

Nem penso se sou real pra elas, ou se real existo,
Sei por certo descartar Descartes e visto o tempo,
O fato e as luvas como um tal Maquiavel Fausto,
Ou Abias Rei, tendo na casula, ao invés; o cruxifixo,

As minhas horas, feitas são, todas de simples uso,
Porque os sentidos que uso não são medíveis,
Nem medível é o céu, que imagina um cego,
Apenas pelo tato, sendo esse lato teto, o meu lema,

A mesma desilusão sem fim, apesar do uso diferente,
E do tema que colo ao peito, em cada hora…
Não estranho pois, se na minha alma ausente,
Não sobrar atenção, pras honras no balcão desta Terra.

Com as horas, é tarde e decresce a aptidão de viver
Entre gente, como se vivesse por viver, sem nada à frente,
Por ser tarde e a hora não crescesse por dentro da noite
De mim, que tenho a alma fora e, a hora é do tempo, a gorra.,

não minha...











Jorge Santos (02/2014)

Talvez o sonho do mar, seja meu pensamento.




                                                                                                Fernando Pessoa aos 7 anos (1895)

Tenho horror ao que vou contar
Sobre o mar, costumava sentar-me
Na orla como se fosse num banco
E debruçava-me e balouçava
Nos braços que me adormeciam,

Fosse real ou não aquela sensação,
Envolvia-me o pensar, esquecia
A ideia do medo, depois separava-me
Do corpo sem deixar intervalo…
Tenho horror ao que vou contar,

Mas sinto necessidade de ter medo,
Para que possa recontar a historia
Dos meus súbitos sentimentos.
Quero contar a razão do mar ser triste,
Porque nada se parece com ele,

Nada é tão profundo e desmedido,
Porventura a vontade de me afundar nele
E isso apavora-me, ele e a espuma,
Cantam-me a morte por esclarecer,
“Quem sabe o que está no fim dela”

Sinto uma espécie de longe, no acordar
De quem recorda junto ao mar,
Sobretudo sem saber de onde vem
A tristeza dos sonhos que se sonha
P’los fundos do mar.

Quem sabe o que está no fim dele,
Acaso algo que nem Deus permite
Que se saiba,
Talvez o sonho do mar, seja
No fundo, o meu pensamento.






Jorge Santos (01/2013)

tradutor

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