Gente em Technicolor...



Demónio benevolente ou Dragão,
O perfume seu não deixa indiferente,
Minhas narinas de peixe gato ou balão,
De sentirem o que é urgente,

Preciso do sentir desta gente,
Pra sentir de que sonho eu sou
Parte, pra o descrever num aparte,
E mastigar os aromas inteiros,

Sentir o calor do sol tártaro e intransigente,
O brilho da lua, pitada d’estragão,
O sal do mar quanto baste,
E as lágrimas quando o mar bate,

E se o sal me cega de cegueira,
Inexplicável permanece, o sabor a terra,
Demónio benévolo ou dragão bastardo,
Não me deixes indiferente,

Nem ao próprio inferno de Plutarco,
Se isso servir meu coração diverso,
De imaginação rosas e rostos,
Misturados de perfumes e gestos,

Colados a grude nesta alma,
Que se pensa flor,
Sendo gente-de-sonho-menor,
Que a natureza a sonhar,

Ser gente supra em Technicolor,

Jorge Santos (11/2014)

Nada me pertence.



 
Nada me pertence mais que as memórias do uso a que me dou,
Sirvo tudo o resto e acabarei por esquecer, nu e em branco sótão,
Como tudo o que faço, fazendo disso o que se chama um jantar a 2,
Como a ilusão num acostumado raso prato, jantando-nos no alto divã,

Na divisão de barraco que em mim mora, pode ser amanhã ou foi noutra
Era d’antiga hora, onde não existo nem quero insistir.Fora d'portas
Nada me pertence mais do que uma trouxa e a memória destas notas,
A firmar que estou eu entrando no sonhar que esquecer não quero,recuo

Senão quando o ouço clamar ao ouvido incincero dizendo adeus,
Como sonho ido embora, esqueço o que diz meu barraco coração
Agora mesmo e se chora partido, perdido e sem historia ou vã-glória,
Mas conscienço-me que foi par’outro estado novo, estrada que não vou

No meu ir, fui noutra e minha e vou plas masmorras que minha vinda
Sentiu e soam no passado que sou e me mal'agrado, ou mal'm’agradeço
Do limite que me limita a felicidade que volta na memoria esteira
Minha e desses outros tolos, tantos e todos. Cansei de mandar em mim

E no que há acima da morte, quiçá se chama sorte ao Deus-dará,
No entanto nada mais me compraz que ler de frente pra trás, o que foi
Dito como às voltas numa estranha errata, sem começo nem fim,
Encerrada, errado sentir - oh Deus meu que nem ao meu desespero

De parado tempo me afeiçou, nem eu rezo d'joelhos avé marias,
Zero, zé ninguém sem decisão ,doente por dentro e com o historial dum'sisifo,
Sendo eu noutra paralela historia o absurdo da peste e o surto,
Com que empesto um mar de vida ,que em mim vive intenso, imenso,

Nada mais me pertence que esse mal de pensar que vem  em mim dentro,
E cobre d'igual indiscrição a acrescida fronha, em que meus
Desgrenhados sonhos ponho e comunicar tento,,,



Jorge Santos (11/2014)

O Homem é isto...







A natureza do homem é isto,
Um número primo que se fez vida,
Contra todas as probabilidades existe.
Como vontade não se realiza, provoca-se
-Digo eu, pra que me perceba, depois

Insisto no horizonte subtil, querido
Existo em mim na mesma nomenclatura
E na mesma derrota curvada, abandono…
Os antepassados que exprimo, calo
E desnecessariamente abafo

Acredito no propósito belo,
Da natureza e no homem convicção,
Composto de êxitos e fracassos,
Sei que depois do que fomos, nada é nosso,
Nem mesmo o coração deitado,

A natureza do homem é isto, algo
No meu sorriso e desabafo,
O descambar de impérios vistos,
E qualquer coisa na vontade,
Parecendo coisa alguma,

Mas que se vê ao longe,
È emoção, é vida, canta-se,
 (e encanta quando se encontra a si)
O Homem é isto...







Jorge Santos (11/2014)






O frio sentir do meu rosto.






Qualquer coisa eclode em meu dormir,
Um som extenso, intenso, estrangeiro
Entra p’la noite e em mim adentro ,
Toda’noite calada, excita meu sentir

De corvo dileto, que coabito na noite, visitante
Do mau agoiro, no sangue-frio da alma,
Qualquer coisa rodeia meu dormir,
Angustia, tragédia, danação de viúva morta,

Do passadouro do Pilar comum da vida,
Vem um rumor oculto, quase choro, balido
Vazio de rostos e sentidos de quem não vive,
Quantas vezes penso fugir, eu preso no limbo,

Do que eclode em meu dormir e peso
O som, peso a angustia, em mim criada…
-Criado velho, tal o meu anseio arcaico,
Da transfiguração, da maldição infinita,

Qualquer coisa de roda no meu dormir,
Um prazer infame de gestos frios, carentes,
Parceiros do inatural som, que em mim não dorme,
Como a noite tardasse em apagar o mundo,

Assim meu estranho coração apagou, dum todo.
Gostaria de sentir o que os outros sentem, a meias,
E eu mesmo sentiria, veias minhas
Nas coisas que digo velhas, frias.


Parecem queimar como bagaço ardente,
Na verdade é uma maldição,
Aquilo que carrego desde que travisto,
No espelho, o frio sentir do meu rosto.




Jorge Santos (11/2014)


As Estrelas,os Estrôncios e os Sonhos...






As Estrelas, os Estrôncios e os Sonhos.

Gosto do que gasto, duma dúvida suposta,
À luz movediça que gasto, forte e revessa,
Passa, baça Pessoa, inquietação que gasto,
Gasto o tempo, gasto o grito instinto, rezo
Egrégoras, aflito, inatural dantesco, Freud e sonho.

É dessagrada a mudez minha e a nudez báltica,
Da caliça e da estátua grega, cimento sacro,
Sacros meus rins e varizes espessas, espicaçadas,
Gosto quando m’aposso, sem possessão, d'Isolda,
Que se lixe Pessoa, chega, libido meu, viuvez,

Estive triste e contente duma vez, alheio a tudo…
A montanha d’m’achar, mas duvido que me procure,
No caminho em curva, pra recordar Caeiro D’andas,
Ou mesmo o rebanho sem desejos, Reis, páginas tantas,
Atraiçoaram-me, chega, d’egos, mitos e Campos,

Estrelas e Estrôncios, calor súbito que não dura,
Amor que se ergue e declina num ápice, nem lembro,
Fixado na emoção de reaver o que a minha jugular
Interna pressente, “O deve e o haver” da dúvida
Convertível em cinza, - antes fosse, lírica a areia.

Dos mares que não sendo, são três, engoli um reles,
Desagradável sabor a vagão, a fumo, -Oh Deus meu…
Das estrelas estacionadas, dos estrôncios veios
E dos sonhos vãos, larvais, lavados, gosto a gasto.








Jorge Santos (11/2014)








(imagino que'inda o amo)





 (imagino que ainda o amo)

Sou indiferente ao homem,
Homem -  cigarreira, crime,
Sendo o homem uniforme,
Assassino, tenente,
Insulto, júri e juiz,
Carreira de tiro, ódio,
Homem Adamastor anónimo,
Homem dor sofrimento,
Homem carcinoma,cisão,
Homem bacio grosseiro,
Homem extinção cão de fila,
Ionesco vendido em pilha,
Lição à mostra no e-bay,
Homem vasilha, bacilo,
Homem televisor ecran,
Reagente tardio e temente,
Homem tardo baço demente,
Homem sem tino cegueira,
Bosta de cavalo crua,
Homem carroceiro de rua,
Destino curvo contra-mão chulo,
Inútil frio suicídio esgar,
Desenquadrado delito,
Convicção conveniente,
Amordaçada proveta,
Proxeneta prostituto,sarjeta,
Para-brisas chiante,
Invertebrado sifrão,
Broccoli  in-victro,  
Sangrenta raiva de cão,
Sem carácter, vinho acido,
Cínico afronta canseira,
O homem confronto,
Barreira, homem sifão,
O criado ultramudo e provisório,
Servo caseiro despojado,
Espargo lácteo, vazios…vazios

Tenho uma fome dantesca,
De ingrediente queimoso na língua,
Do frenesim da orgia, do romance de cavalaria,
Do Romanesco sermão da montanha,
Do futuro se ind’existe, do arrojo,
Da Harmonia de romã tinta cheia,
Do autor, da Justiça intransitória,
Pero sadia e dum pero sadio também,
Do despojamento da alma, vagão,
Do intransigente, do sânscrito, do Incriado,
Do instigante, do intrigante, da invenção,
Do confidente e da confiança,
Do homem cor tição, homem braseiro,
Homem químico, homem gerador,
Homem paladar, homem pimenta,
Alcunhei-o eu de Godo, druida, intenção,
Estrela, magia, alquimia, poeta, visão,
Homem arrepio, não de frio, balada, canção,
Para-raios vivo do céu, aviso, homem Actor,
Homem praia, tinto arroio, adivinha,
Ernest e o subconsciente que o sente,
Homem elefante, disfarce, mão cheia,
Gente..quem dera..quem dera

Sou a metáfora da Mata Hari agente,
A liça do cancro do homem morto,

Nada me interessa, nada disso, nada sou
Transito roubado ao penhor de um curioso
Homem quási-morto, qu’inda em mim vive
E noto - imagino que ainda o amo-


JORGE SANTOS (11/2014)

tradutor

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