Me levem os ares ...






Me levem os ares porque quero
Pertencer ao terreno ignoto sem
Precisar que me adornem a campa
Ou que me chorem e ao que oprime
Saber ser corrompido como esteiro,

Me levem os ares num soluço
E em poeira abale pois os caminhos
São feitos de pó e é um privilégio
Ir pegado aos sapatos e cascos,
Aos buxos e às árvores e às aguas,

Me levem os ares e a emoção
Com que vivo num nó gordo amarrado
Até ao mais profundo dos abismos,
Para regressar nos outros, nos parques
E na paisagem ou ficar no ar

Pro resto da minha vida,me levem
Os ares e me deixem sentir ser
Parte da vossa, como a dor ou a alegria,
Eu estou onde o meu espírito paira,
Apenas não sei definir como e onde,

Me levem os ares sem substancia,
E ao couro do meu corpo pra onde
Não preciso de sensações ou de cura,
Para o infinito desejo que ainda visto,
E vibra tanto, me levem ...




Jorge Santos (09/2016)
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Incólume quanto Ricardo Reis ...





Incólume quanto Ricardo Reis ...



Há quem diga que viu,
( tomando por reais as coisas que o não são)
um escritor de língua pátria nos soturnos passeios
duma rua da freguesia de Campo Grande


1700-190 Lx a 30 Novembro, pelas 5 horas
da madrugada,
- faz mais de um século, quase nada,
continuam magníficos, talhados, incólumes
quanto a cidade por onde ainda passam descalças
e calçadas,
pessoas pequenas e grandes, enormes


Nessas soturnas calçadas caladas
do Campo Grande ao Chiado por
onde passam grandes enormes pessoas e pequenas também,
ficaram descritas com cem palavras nos passeios
talhados desta cidade azulejo
que nem de azul ou anil tem, ou se veste do Tejo certo
nas cores ou sem elas bem,


Mas usa de palavras como se fossem
os céus sete e os desejos
mil pedaços certos, desta pátria incolor
e incólume ,
Ficou escrito como um grito de ar em luz crua
dessa cidade que dorme,


Há quem diga que foi por sentir correr
por si o rio como por seu leito a 30 Novembro de 1935,
tal e qual como no ano da morte de Ricardo Reis



Jorge Santos(10/2016)
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O legado das minhas mãos ...





O luar nas minhas mãos
Fez uma estrada,um caminho de prata
A cheio que vai da consciência
Ao lugar onde dela me perco,

O luar das minhas mãos,
É tão de perto quanto a vastidão
Ou o mistério a assomar
Por entre o arvoredo ...

O legado das minhas mãos,
Tem um peso que custo
A levantar e me mantém nos píncaros,
Preso aos ramos, à terra, aos rochedos

E à estrada de todos os medos,
Que não só meus mas se vêm
Através de mim e dos meus dedos,
Em prata de luar e no arvoredo,

No veludo do musgo manhã cedo,
A julgar serem mãos minhas
A verde e veias, todo eu
Luar e céu, rochedo e orvalho

No lugar das minhas mãos...


Jorge Santos (08/2016)
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Sonhar agora ...









Culpo o pensar por tudo,
As árvores e o mar
O vento sem parar e o mundo
Puder sonhar meu sentir,

Culpo o pensar por tudo,
A vontade, sobretudo a
Pequena, a natureza parece
Ilusão apesar de ser feita
Para me achar e não pra me
Perder dela,

Culpo o pensar por tudo,
O que fica e tudo que há,
Antes do pensar meu está
O que os outros conhecem
Já que não sei eu mas podia,
Escutando o dia e o vento,

Culpo o pensar por tudo
O que é e o que foi, tudo isso
É o que é e o pensar incluo
Nesse mundo sem terra,
Quanto mais minha
A consciência de tudo ou todos,

Culpo o pensar por tudo
Mesmo o mesquinho e o destino,
Puder ser outro que não isto,
Outra coisa é o sonho,
Onde creio em tudo e que sinto,
O vento sem sossego,

As árvores e o mar
O vento sem parar e o mundo
Puder sentir meu sonhar
D'agora, o mesmo...






Jorge Santos (08/2016)




Leste nas minhas mãos ...





Leste nas minhas mãos
As veias que me destroem
E os sinais que vêm da mudança,
Pintados a castanho negro,

Leste nas minhas mãos
O futuro em partes,
Por ordem decrescente
E pontos de cruz,

Leste nas minhas mãos,
Nada que seja público,
Nem valha a pena confirmar
Se indulto ou apenas aspereza,

Os sinais que vêm na lembrança,
Pintados a castanho negro,
Leste nas minhas mãos,
Desesperança, frio ou medo,

Peço-te não leias não...


Jorge santos (08/2016)
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Onde quer que vás ...




Onde quer que vás, apenas
Não há passado nem presente, 
Nem esperanças nem certezas,
Há espaços exteriores e libertação,

Onde quer que vás apenas,
A honra das cinzas é o sonho
E o viver era nada, imperfeição
Perfeita , viagem através dos olhos

Onde que que vás apenas cabemos,
Nas dimensões pequenas um vaso 
Não nos contém, já que não nos podem
Reduzir em tamanho às doutros

Sonhos, onde quer que vás
Não sei se diga mas em nós não cabe 
O mundo e viajamos de baixo 
Pra cima sobretudo onde quer 

Que foste, apenas foste, não fugiste
Viajaste num sonho,
Onde quer que vás eu já lá fui,
Ou ainda vou ...


Jorge Santos (07/2016)
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tradutor

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