Peixes ...




Não me livro desta sinistra coisa, feia,
Que se nota e depois esquece, sou fútil, inútil
Até no que consigo descrever, as sensações
Apenas decoram a minha crença e delas não me livro,

Às vezes dou por mim a pensar,
Se terei nascido do lado errado do mundo,
Pois tudo o que faço, já foi feito 
E mesmo que rasgue este peito,

Fazendo o que mais sei, não surte efeito,
Se é que é um feito, fazer o que tento,
Se o mesmo foi feito por todos,
Nascidos do lado certo de tudo.

Se tive sete minutos da vossa atenção,
Foi o mais íntimo que vivi em vós outros,
Não o tempo que gastámos juntos, não
Somos dois ouvindo, mas um falando só,

Falar queria eu falar, na língua dos peixes,
Pra discursar sobre o equilíbrio
E me livrar daquilo que é ter peso
E não ter nada pra dizer aqui na Terra

Que seja novo ou verdade, mas aos peixes,
Ah, os peixes sinistros, feios,
Deuses me livrem ... não me livro desses
Peixes.






Jorge Santos (05/2018)
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Sou pasto de fogo fácil



Sou pasto de fogo fácil e melancolia dessa 
Que passa depressa mas acho que sou, 
Provavelmente o mais alegre dos homens à Face
Do mundo, não sou um optimista, 
Espero que o fogo por mim se propague 
Sem que eu o atice, nem protagonista sou
E não conto com a chuva pra que se
Extinga um fogo, um pessimista é alguém
Que não confia na ajuda divina,
Penso que provavelmente faço da
Melhor poesia do mundo na língua que me Deram
A entender e me cumpre engrandecer,
Assim me ajudem os deuses.

Pode ser poesia outra coisa senão
Sensações sensíveis, emoções emocionais,
Intimidades intimas, experiências
N/experimentadas, temperamentos n/ 
Temperados, frases inesperadas, 
Manifestação de descontentes,
Pensamentos como de quem pensa
Valer a pena sem deveras valer, 
Sentir arder, sofrer, sangrar sem nada disso
Ter, seja alegrar o doer, depressa o devagar, 
Lento dentro dentro dentro ...

Pode ser poesia o luar,
A ciência dos astros, também pode ser
Um eucalipto a arder e o verão no verão;

Dizer é peculiar, Deus é deus,
Pode ser poesia o luar acrescido
E o prazer que tud’isto me dá,
Que outro não há na terra,
Tão imortal como este,

Sem ser dos Deuses e o meu
Mar, pode ser a poesia,
Outra coisa senão sensação
Emocional, manifestação
Do pensamento ou fenómeno externo,
Extremo e inteiro ...




Jorge Santos (05/2018)
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Minha alma é um lego





Minha alma é um lego


Minha alma é um lego aos bocados,
Pena eu não os saber montar certo
Nem direito, sobram sempre peças
E o mais difícil é montar as palmas

Nas mãos e na ponta dos dedos, as 
Unhas e o encantamento na floresta
De cabelos, não recordo cada um dos
Pelos ou a ordem por que são postos

Os cotovelos, apostos ao torço,
Não sei desmontar palavras,
Sinto-lhes a angustia de sentirem
Presas a mim, tanto que não posso

Definir o que sentem ser amor ou 
Ódio por serem presas e não guelras,
Que nos pregaram na boca.
Minha alma é um leque aberto q-b.,

Minha alma é um lego e os pedaços
Pensam não os saber montar, nem certo
Nem direito, falta sempre o pulso no braço
E o mais difícil é montar as palmas

Em pleno voo, abertas quando.bato.asas,
Fechadas porque as celas tem grades,
Querendo eu escrever meu nome no
Espaço Em Letra Grande Gigante, Maior

Que o Maior Monte, Lago ...





Jorge Santos (05/2018)
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Quero o beijo antes que seja boca,






Quero o beijo antes que seja boca,


Quero o beijo antes que seja boca 
A íntima delicadeza do fazer amor !!!
A sensação de grandeza ao cantar o hino
A agudeza do orgasmo e a cor dos sonhos

Um flor e uma ponte ligadas por um arquitecto
Louco, quero sobretudo o beijo antes que a boca
E as orgias de tudo o que me é exterior 
Pra que possa ver do outro lado, 

As coisas sonhadas do lado de cá de tudo,
A íntima delicadeza do fazer amor !!!
A agudeza do orgasmo e a cor dos sonhos,
A sensação de grandeza ao cantar o hino,

A certeza de uma boca meio-aberta,
O movimento com que cinjo a tua cintura
E a aperto contra mim em linha recta,
Tal como a intercessão de pensamento

Que tento e não consigo, não sou mágico,
Não sou magnífico, o que digo é o que sinto
E o que a alma deixa cair no chão, se parte
Numa sucessão de pedaços que não é carne,

Não é sangue mas dão a sensação de ser boca,
Perdida enfim a fé no beijo antes de ter vida, 
Mas não neste meu ritual que é falar despido,
Sentir que te aperto contra mim por puro gozo,

Não por estética, efémero o beijo, a troca
Da dor pelo amadurecer, da serra o amarelar
Do chão ... 









Jorge Santos (05/2018)



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(Demente em contra-mão)





(Demente em contra-mão)



Pra mim o inferno
É onde toda'luz é rara,
Dispersa a névoa,
Suspensa no dia,
Em que tud'é pó
E no que me fizer então,

Pra mim o paraíso
É aí e só falta beber
A ira d'est'alma torda,
Que me conjura e dói,
Como o instinto aceso,
Dum louco no verão,

Pra mim o inferno
É onde me sento,
Timoneiro de cento
E um torpedeiros e penso
Se amanhã serei eu pó
Em contra-luz, eu não,

Apenas céu e vento lento,
Minh'alma sem ralho,
Bocejo de "gajo" manso,
Disperso, infeliz "à sorte"
De fruta podre e tão só...
(Demente em contra-mão)







Jorge Santos (05/2018)
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Como rei deposto numa nação de rosas ...





Como rei deposto numa nação de rosas,
Tenho palavras sem futuro, sem álibi
Nem provas, a recordação é um mito
Tal como o universo é infinito, as rosas, flores.

Coroai-vos de espinhos e tereis ares de rei,
Coroai-me das mesmas e renunciarei nesse dia
Ao trono temendo que elas aí murchem,
Tal como a maioria dos homens que sonham

E não podem ter, sensibilidade é aquilo que
Não se pode possuir, digamos que é
Preciso sentir pra ser leal à ideia do príncipe,
Ser vencido é abdicar dessa realidade de

Dimensão divina como rei deposto numa
Nação de rosas, vê-las é o sentimento desfraldado,
desfeito o pau da bandeira, do Império,
Como um rei deposto numa nação sem rosas,

Um testemunho antigo acrescenta à razão
Não só o que me faz, mas o que traz meu
Coração súbdito do rei, do reino longínquo
Que é onde a utopia é estrela e a coroa é de farsa ...






Jorge Santos (05/2018)
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Põe flores no meu quarto ou não, nenhuma ...



Põe flores no meu quarto,


Nem só as casas geram ruas,
Ao passar destruí-as uma a uma,
Duas a duas, nenhuma resta 
Durmo a céu-aberto, m'embala

A alma, não preciso de tecto,
(Põe flores no quarto ou não,
Não ponhas nada por enquanto)
Vivo sem querer, sonho sem sentir,

Caminho, não para passear em ruas,
(Falsa idéia essa de serem casas)
Onde ando concerteza não é certo,
Nem só as casas geram luz,

O coração humano é um universo,
Não o ver é estar dentro ou perto,
Procuramos e não vemos nossas casas,
Contemplamos a distância com timidez

De vaga-lume, usamos guarda-chuva
Aberto quando a alma não precisa
D'tecto, nem o arame do trapézio
É fixo, a giz se desenha e altera,

Há que não fechar duas a duas, 
As janelas das ruas, uma a uma,
Quarto a quarto, certo no Homem
É o génio, esferas serão casas,

Nós os anjos...




Jorge Santos (05/2018)
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Matéria é escuro e o ouro...





A matéria é escura ...



Leve, leves as sombras almas,
A ciência aos espíritos não importa,
Em analogia a luz é a ribalta,
Aos olhos do oculto, do mistério,

As minhas visões são mero limo,
Ideia abstracta e nua o que penso
E vejo como velas, se não houver
Luz e vida agora, minha alma será

Apagada de vez, mais valia estar
De olhos fechados, vendo a sombra
De meu mestre, que assistir do
Alto da torre do sino ao fim do dia

Breve, breve a sombra das almas,
Vieram para louvar a ânsia de viver,
A ciência aos espíritos não importa,
A arte é o outro lado, a dança eterna,

A vida escura que nem o meu
Respirar interrompe e onde os
Sentidos meus se movem como fumo,
Em analogia a luz é a ribalta 

E o ouro... matéria é escuro.











Jorge Santos (04/2018)
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Coroai-me de espinhos frios ...




Coroai-me de tudo 
Quanto dói, rosas de espinhos
Pra me crer um crivo 
Que vive cirandando

Nesse corpo pra morrer,
Pois ele me devolve
Tanto quanto sente,
Coroai-me de tudo que é feio

E do que é estranho, do sabor da pimenta.
Vivo no rosto dum estrangeiro
Vindo d'França, que ninguém entende,
Coroai-me de flores murchas,

E estas se julgarão gente dest'mundo
E donas do meu coração,
Já que por fora não pareço quem sou,
Coroai-me de espinhos tortos,

Vodu ou solidão ,
Consciência de broca,
Aquela de que me tornei
Amigo, ela me envolve

Do tecido com que é feita,
Antigo quanto a passagem
D'onde tudo volve e avança,
Excepto minha alma cansada 

Duma vida de peneira andante ...










Jorge Santos (04/2018)
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