Quando olho não me conheço...





Quando olho pra mim não me reconheço,
Nem neste angustiante peito de Filisteu
Externo, sem lugar entre dois céus tornados
Em chuva rija, tornando sempre cheia

Em rio aquilo que em mim acrescento,
Sensações que me embalam e eu deixo
Que aconteçam, sem que mova um dedo
Ou um caniço da margem do rio do “tanto-

-se-me-deu” - tampouco é o meu amor
Próprio de navio Almirante, logro, laico
Lasso,  louco, que no mar assumi os olhos
E o sorriso como defeito, quando olho pra mim,

Assomo um existir que não aprovo, amaino
Estratagemas de um eu que não soube ser vida
E  obra que desse vista a cegos e alma a hostes
De sentires diferentes destes outros, ocos, 

Delirantes . A luz me lembrará em branco,
Distante o mar, arrefecido o horizonte, rarefeito
O ar, assim eu que me fabrico de agua  e ágoras,
Me resigno ao olhar dos dedos de pele e veias,

Olhar o céu não me dá emoção, nem espero
Dele a gazua que me abra como se fosse acaso
Alguém do real mundo, que aliás desprezo,
Reprovo e abomino. Anseio pela harmonia

Que o universo dá a tudo e não pela unidade
De medida que deposito no coração  caniço,
O qual olho e não conheço .










Jorge Santos (29/04/2015)








Sem glúten




Sem saber escrevo,

Escrevo um poema
Por egoísmo e louvor
Do eco, exaltação do eu,
As frases saem de dois

Chinelos sem pés,
Que uso amarrotados
E impuros, assim
Me sinto cúmplice

Das pernas, que sem saber
O coração comanda
Por compaixão,
Escrevo um poema,

Cor do “memo”,
Que se apega,
Sem pregos, no desmedido
Nos olhos,

Da cifra sem explicando,
Nem rara ou mística
Cara, sabida.
Às mãos sussurro

Juras de vaidade,
Difíceis de comprar,
Não tolero críticas,
Condeno as flores,

De estarem decorando
Como a gemada, o prato
Ou a fome ,embora
Nada pense por mim  próprio,

Sem que me abasteça,
Das frases arrancadas,
A rótulos de leite
E iogurte, sem glúten

Sem sabor ...



Jorge Santos (23/03/2015)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Dentro de nós, outros...




Dentro de nós,

Dão-se casos de vidas serem validadas
Por nós-outros, como que por acaso,
Conhecemos ao-caso todas as coisas
Que logo dependem de nós, nem saberíamos

O que eram, caso deixassem de ser,
Nem descobrir sob a casca da realidade,
O tal lume, donde se extrai a fantasia
Que pode ficar escondida o tempo todo,

Por indiferença uns aos outros ou então
Por negligência de mau atleta ou estafeta
Pouco Olímpico. Dá-se o caso da vida
Ser imperecível, nos que a desdobram

Sob a pele e o motivo do outro afirmam
Alto e bom som, da vontade de sermos
Unidos nos momentos felizes ou difíceis.
O que me inquieta é o que não dou conta

Que existe e o que faz com que não saiba
Ou sinta eu, que possa não reinventar o sonho
Dez mil milhões de vezes ou mais,
Sem ser demais o que somamos dentro


De nós, d’outros.




Jorge Santos (24/03/2015)

Http://namastibetpoems.blogspot.com

Protagonizar o que me acentua...









Passo do exacto à exaltação,
Por amor ao estar aqui,
Que me faz ligado a mim,
Como a um rio quando corro,

Ímpar é o meu sonho atento,
Sem igual em nenhum outro,
Quanto mais o seguro,
Mais ele confirma vir

De ser verdadeira a poção
De sonho que bebo
Eu ao deitar, pra me
Sentir desperto e futuro, de

Manhã quando acordo
E penso que  não serei

Eu, se não sairá do
Mar chão, o meu pensar
Veleiro, a passar
Passageiro do sonho,

Ímpar e inocente,
-Como novo- ainda
Que estranho este
Sonhar, Ímpar o sorrir,

Quando me apaixono,
Pelo arrufado do prado.
Impares os sapatos
Que descalço, a camisola

Usada, a faina,
Mesmo que "dê em nada",
Impar a irracionalidade
Da consciência,

Assim as relações
Entre humanos, Impares
Quando acreditamos,
Impar o meu sonho,

De um veleiro no chão mar
Do meu passar passageiro,
Tão breve quanto extenso,
O meu amar veleiro,

Mesmo que não navegue,
Na verdade passa do amor,
O outro estado do curvado
Tempo, pra que ninguém  

O veja, no meu passar solteiro,
Uma doença que me
Vence, por vontade minha,
-protagonizar o que me acentua-









Jorge Santos (02/2015)

























11 minutos





11 Minutos

Oh! Soma de arcaico anjo, doma
Eros, térreos, cerros e demos,
Domai meus erros, Behael e Ur,
Babel cairá e seus chocalhos

Serão hinos, a Javé musical,
A fé será o oceano do fim,
Sendo pedras serei Deus/caos,
Verei, vejo meus erros nos teus,

Venero mutilo o inútil instante,
Gomorra sensível, mas meu,
Anjo de mau-barro, grés,
Arenito, tez do décimo

Primeiro minuto, manganês,
Dilúvio em cine, meu filho
De veludo, meu tudo, arnês
Difícil de prever por estranho,

Os movimentos que anjos
Fazem, do vício de serem
Humanos e líricos. Creio
No córtex, vórtice e guia,

Gaya, aguilhão, rainha,
Perdoa ter abdicado, horto
De seu pai, Zebedeu, tudo o que
Choro é Ceres, demitido Rei,

Anjo bom de barro,
Zebedeu anjo meu, seres
Filho, Arcanjo e Galileu,
Mas igual e meu, com tudo

De mau e bom qual
De Deus vem, ou tem no rosto
O teu, de mau e bom.


Jorge Santos (02/2015)

O cavaleiro da Dinamarca.





Quando eu depuser, amarga
A madrugada na Dinamarca,
Será tarde noutro continente,
Quando for eu, um dia desses

Poeira ou folha agarrada,
Na marca do tempo d’andas,
Serei um pouco do nada,
Imprevisível, cioso e portada

Desperto pra todas
As majestosas madrugadas,

Quando eu pensar,
-vai valer a pena-
Abraçarei sem medo,
A inicial loucura,

Que tinha o aspecto
Da minha cara banda,

Estou decidido a ser decidido,
Embora não saiba a diferença,
Entre o decreto e o impulso,
E qual o mais eficiente dos 2,

Contudo decidi partir pro n/sei,
Contra tudo e contra todos,
Pois o conceito de arriscar,
Não tem decreto-lei ou pulso tatuado

Sinto o impulso na veia cava,
Conto com a reacção avulsa
Do coração este e oeste,

Duvido do calor que faz,
Duvido de tudo que faz pensar,
Duvido do sábio do asno,
Duvido até do ar em Março,

Duvido ter nascido autarca,
De uma relação de humanos,
Não duvido do sonho,
Que esta canção conta,

Do mar a mar, em braços
E repete na volta dele,
O meu frio pensar, cento e tal
Vezes certos, na Dinamarca.


Jorge Santos (02/2015)

tradutor

center>

Arquivo do blogue