Teorema de Thales





                                                              Teorema de Thales


Em mim estão presos os chãos que piso,
Os momentos em que o universo me pariu
E o que penso, -porém me detêm preso, rezo
É: -À névoa densa, perfumada a incenso

-À harmonia metálica, pesada dos sinos 
-À força das invocações, ao Lá...
-À raiva de todos os guerreiros, profecias
De possessos, -não os calmos ribeiros

Que alagam sonhos meus,
De que abdico e me dói,
Há em mim presa, a fúria
De dois, três e mais desses Deuses,

A dura e ruidosa raiva
De todos os rios jorrando,
Não os dois mil e um agueiros
Que embalam sonhos meus e terceiros

Há em mim, preso, Jonas e quem ele enfrenta,
O peso das alquimias dum Tal
Mileto Arquitecto, duvidosos ele e eu,
Bom é o meu chão e o além tal fosse…


Jorge Santos (10/2014)

Imperturbável...




 

(Onde estou não é onde bebo, nem onde pesam meus pés)


Respiro devagar, ainda assim
O aroma fresco não vá fugir de mim,
No barulho ou no lodo da ribeira,
Que se queixa de correr pra

Longe, pra tão longe, quanto não pode
Estar de mim separado o odor que tenho
No corpo, acre e carmim...delfim,
Respiro devagar ainda assim,

Um aroma suave e doce a romã,
Que quase posso comer e tocar
Na calma calma da manhã,
Sente-se na densidade dura, o ar,

Ainda assim respiro devagar,
Não vá desaparecer, o saber
Que anteontem a noite tinha,
No aroma, a tinta fresa,

Na sala que me encerra,
-Aroma a memória e tempo
-Acre e carmim –amêndoa dura
Ou Jardim de erva aparada.

Respiro devagar o aroma,
Que me é dada ao sorver
Toda e cada manhã, sabor da alma...
Imperecível, Impartilhável, imperturbável.




Jorge Santos (10/2014)

Chove ,mais nada...




Chove, mais nada...

Venho da chuva, porque a chuva, como eu,
Não faz sentido, não tenho sossego,
Vejo a chuva cair, como se fosse meu ego,
E eu cego de ver e a chuva se solta do meu ser.

Nego o parentesco que com chuva pareço
Eu ter, nem na alma, suposto era ela
Molhar-me, tão devagar… tão bela. Padeço
De chuva, que cai no meu ser e me esquece.

- Me espera chuva…

Faz esquecer quem sou, chuva que cai
Chuva que soa e cheira a terra e molha,
O que em mim sinto intempestivamente
E não faz sentido sentir em mim.

- Me espera chuva…

Senão morro, num desejo sem limites
De partir com a chuva, rio acima.
Sei que depois lá, nada sentirei
Porque será verão e Estio eu serei.

- Me espera chuva…

Não farei nem ruído, como a chuva
Que em mim cai sem vento, sem tecto.
Venho da chuva invicta, não pesada
Dividida entre o que em mim cai

E a enxurrada, chove, mais nada...
Chove, mais nada,,

Chove certo e linha recta,
chove por bem, por bem chovesse eu
também

Me espera chuva …me espera
 …



Chove em mim, Nada mais


Jorge Santos (09/2014)

Desfaz da minh'alma o novelo...





Nem sei se arpas tenho, perto deste novelo,
Que desenrolo na direcção do sol posto,
Lentamente… (como se faz uma canção)
“Sabe Deus porque tenho aspas, em mim”

Sendo de finos fios e branco cabelo,
Faz um som, que em mim ralha e dói,
Como um barco parado, pedindo abate
sabendo que existe e o mar cresce, cresce

Não sei se harpas tenho, no cabelo,
Ou se é o destino, mostrando o caminho
Lento, sem rede que leva da alma, o poente
Que parece que volta, mas não volta.

Nem sei que alma das minhas chora,
A do novelo de lã, que desenrola
lentamente ou a do vento que traz
Uma canção de arpas, que o meu coração

Desfaz...desfaz da lã, o novelo…











Jorge Santos (09/2014)





Estou só ou não existo...





Estou só ou não existo, só Deus sabe e eu menos,
Quão pouco sinto, neste coração, vida
Pus tudo quanto havia, em copos vazios,
Sonhos, gaudio, paisagens de terra ardida

Por minhas mãos, que vida, não são
E antes que vença o medo de não me achar,
Onde só Deus sabe e eu mesmo, não.
Desejo acima de tudo não mais pesar

Na minha alma o mau e o bom,
Como se fossem mercadorias,
Ou zelar plo’trigo, que se desfaz em pó,
Já pra não falar de matérias simbólicas,

Metafísicas., gordas. Estou só ou não existo,
Sirvo a angústia numa travessa fria,
Como só poderia ser servida no magusto,
Mas a minha atenção prende-se na taça vazia,

Que faz lembrar a minha outra vida, apenas.
Perder e ficar é desencontro sem o encanto
Da eterna taça cheia de harmónicas e simetrias,
Eis quão pouco, neste coração, vida eu sinto.

Sei que existe lá fora um intruso que, sendo eu
Me distrai da viagem, não sendo, tanto se me dá,
-Se viaja comigo um Deus homem, -se sou de mim ateu
Mas o mais fervoroso dos discípulos, que a mim ora.

Estou só ou não existo? só Deus sabe e eu menos,
Não me cabe a honra da margem nem o pacto
Com o canto dos Deuses ou dos cisnes, assinamos…
Eu e ele, eu e Eu Outro. Estarei só ou nem existo?









Jorge Santos (09/23/2014)






Talvez não devesse ter eu emoções sequer…






Se certas emoções quase que me convencem
Outras vêm aos poucos comigo, (sem querer) acabar.
Deem-lhes os motivos dos presos -se os tiverem-
Pois preso quero eu ser, condenado est’meu sonhar.

Dos dias atado, perdi o quando, das horas o conto
E a fé de quem espera por nada, de ninguém,
Das honras nos livros que não escrevo, nem tento.
Das estrelas que migram no céu e mingam também,

São o símbolo vivo da renúncia, em que vivo,
Pois se, até elas, pra mim, perderam o encanto
E o dever, então desta pensão, nada vem de novo,
Nem a aragem nos quartos soprando e tanto.

Será emoção bastante pra que parta sem coração
Pra outro mundo, não me motivam as preces
Ou evocações possessas de voz, com entoação
Satânica, podem ser emotivas pra outros, talvez.

Não sonha sonhos em saldo e ao desbarato,
Esta alma que não faz parte de lugar nenhum,
Mas que magoo, corto, retalho e reparto,
Em iguais porções, por este magro “quórum”.

Certas emoções quase que me convencem,
Outras convêm-me, mas mais vale não as ter,
Pra não saber por que razão as perdi e pra quem,
Talvez não devesse ter eu emoções sequer…









Jorge Santos (09/2014)

Certas canções que faço.



Certas canções que faço, 
Vêm pôr fora algo de dentro
com uma ferida que se não vê no entanto
existe e doi como por fora que se farta

ou então eu finjo isso no momento.

certas canções que faço,
são tão de dentro que arrepia
e pergunto a mim próprio,
se ficarei vazio algum dia,

mas sigo e faço.

certas canções que faço,
(como um outro diria ou disse)
nem parecem vir de mim,
nem sei se fui eu que fiz mesmo isso,

mas finjo e vicio,

regurgito-as para que apareçam
meus olhos a boiarem no visco do baço,
e os dedos ligados ao intestin,o
e ao menisco e finjo e finjo

e finjo...e faço.

certas canções que faço,
ouço-as na nuca, como um poço sem fundo,
nem bocal e finjo saírem de minhas vísceras,
porque estas falas soam a oco e a falso,

finjo não saírem desta boca e continuo fazendo.

e faço....

Jorge Santos (09/2014)

Tudo acaba aonde começou...






Tudo acaba aonde começou,
Uma brisa, uma frase, um caminho,
Uma tarde, uma esperança, um voo…
Só não lembro de onde venho

Talvez do mundo do fim de tudo,
Com seus azuis palácios e o que reste
Da canção com que certa mãe embalou…
Tudo acaba onde começou,

Meu coração pairando mudo,
Sem lembrar quem eu sou,
Se das terras do fim do mundo,
Onde tudo começa e aonde ele acabou.

Será que, também surdo eu sou,
Já que da voz de minha mãe,
Nem percebo sequer o recado,
Nem na brisa rosada da tarde,

Que dizem ter a voz que de “Deus vem”.
Se tudo acaba onde começou,
Que se me acabe desde logo a razão
Pois meu absurdo coração, nem caminho,

Nem país tem, é parte sal e fel,
Parte castanho mel como qualquer nação
Onde se misture a dor dos que cá estavam
Com a dos que nem de lá são.

Tudo acaba aonde começou






Jorge Santos (08/2014)

Erva Maldita




Minh’alma é estranha tanto e a vontade mar d’engano,
De verdade, nem sei mesmo quem n’alma tenho,
Que faz meu, um sentir estranho e tê-la eu, pequeno…
Quem dera não ter alma no lado onde o pensar tenho
Nem a infinita variedade de memórias da hidra, ao menos.

Sinto que há em mim, alguém além de mim e maior que eu,
Tenho diferentes sonhos segundo os meses, minutos e anos,
Todos de uma perene doçura, misturados com um sonho meu,
Terreno. Possível é passarmos oceanos sem terras vermos,
Mas quando sentimos é como se crescêssemos uma etapa nova,

Acrescentando esse dia a um mês e a um ano sem longe nem longe
O que interessa saber se o Sol faz o pino durante o Equinócio
Ou Imaginar de pau as andas de um espírito fantástico que foge
Se vendo bem só venho de meus astrais mapas lembrar o ofício
De um sonhar d’alma não meu mas d’outros "eus", (maldita erva)

Minh’alma é estranha tanto e a vontade erva do engano
De ser eu ou ter meu um outro qualquer antigo dom, sobejo.
Não esta fria paisagem d’alma, (cão vesgo de um velho dono)
Prefiro não me achar, que não gostar do espelho que vejo.
(Maldita erva, maldita erva, maldita vontade serva)












Jorge Santos (03/2014)


Quem me dera saber, qual é o escrever meu.




I
Quem me dera saber qual é
O escrever meu, lacónico ou não
Executado em granito, (por prazer)
Ou dourado como o infinito,

Nas palavras que, sendo puras,
A humanidade abusaria,
E não da cicuta pra sarar do sonho
Mas do raciocínio crónico, a frio.

II
Não conto no Outono com as cheias,
Porque que haveria de contar,
Se no Inverno de noites frias,
Ouço contos de encantar,

E no sal de minhas veias,
Correm fios de mar,
Nadam meigas sereias,
De onde todos estão, até onde o mar acabar.

III
Há nos silêncios do céu,
Uma tão grande acalmia
Que, às vezes, pretendendo ser dia,
Pareço anoitecer,

Como se fundasse eu, o universo,
Sendo feia e meia a cidade.
Se de facto sou feito,
De grandes sonhos,

Porque sabem a pouco,
Os dias e pequenos
Os sonhos que dito p'la cidade pacata
E divulgo como fossem

Invulgares frisos
Fechados a chaves 7 num tenro peito
Tendo a serventia dum mundo
Que não me serve de todo

Nem no bruto universo,
Acaso o curto
Movimento, não seja meu,
Mas ele outro.

IV
Quem me dera
Ter a têmpera branda do ganso,
Na mobilidade fixa dos astros,
Se colo o rosto no vidraço,

Se no que faço,
Ser sei, meus dedos fracassos,
Sei, com velas de cera,
Pintar poemas, em magros vasos.

Ou melhor,

Quem me dera
Não ter asas de estar, pra voar
Baixo, mais rente à Terra,
Se nos rios dela, pra vir chorar

Sou vedado. Sem verdade nem proveito,
O sofrer me quebrou a vontade
Quedou o doer d'antes, o "sem cidade"
Quebrou a face no amargo ofício d’escrever

V
Quem da dor se achava fiel acolito
Caiu em ruinas
Por olhar dentro dele e dum outro.

Há no distante do céu,

Algo que queria na Terra eu ter,
No silencioso escrever meu,
Um absoluto e louco querer,
Uma proposição que caminhasse, ao meu lado.

Jorge Santos
03/2014

tradutor

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