Durmo tempo demasiado









Durmo tempo demasiado
Sem consciência ter de ter dormido,
Tento só no sono ter fundo
O sentir, porque acordado

Demais não sonho sinto
Acordado, que durmo 
Sono profundo ao pensar,
Durmo tempo a mais ou não durmo

De todo, peço ao dom do sonho
Que retire essa falha do meu
Coração e parta sem deixar a saudade
No lugar onde durmo o tempo todo

Do mundo, sem entender
O tamanho do tempo que leva a sombra
Do crepúsculo à alvorada ou
Quanto tempo do bocal ao poço

Fundo demora a queda de um anjo louro,
Pintamos de cores fortes as
Manhãs e escurecemos as paredes
Dos quartos e o tempo que passamos

Entre muros ambos de nossas almas,
Quanto aos pombos pousados,
Lado a lado olhando-se de soslaio 
Esperando o céu lhes responda ou eu,

Durmo tempo demais talvez
Sem consciência ter, tonto de tanto 
Embrulhar a realidade em papel branco-
Pardo, culpa dos sentidos

Pois de mim pra mim digo
Que convém ter sonhos, 
Mais que lucidez sem eles
Na parede dos quartos forrados a papel 

Branco, Durmo tempo demasiado
O tempo todo que leva a sombra
Do crepúsculo à alvorada, 
Do bocal poço ao fundo e depois do silêncio ...

Ao que nada ouço.







Jorge Santos (02/2017)






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Leve quanto a sombra








Leve quanto a sombra e o luar,
Lugar ao longo de meus braços,
Estrada que serpenteia, caminho
Leve quanto as sombras e o luar,

Caminhante que deixo de estrada
Ser e passo a ser caminho se destino for,
Lugar ao longo de braços meus,
Ilusão, desatino, viajante do nada,

Quanto na alma prossigo errado
ou incerto, repetindo sempre o mesmo
Ermo e desolado caminho, peito aberto,
Nem longe nem perto, sem lugar

Onde me sinta vivo, leve quanto o luar
E as sombras, murmuro num solitário
Deserto e sinto indicarem-me as estrelas
O tal símbolo ou culto ceptro ou coroa

Deles por direito, fé ou lei vulgar, ser' que
Sou, meus braços prolongando-se 
Na estrada caminho, destino, enfim 
Posso ver a alma, como se num poço 

O Brilho, de tal símbolo culto ou oração,
Leve quanto as sombras e o luar a meio,
Submissos quanto meu coração
Perante a morte ou da noite o medo,

E que não acorde antes do fim do caminho,
Leve quanto as sombras de algum lugar
Vazio quanto eu e o luar a meio,
Caminhante que deixo de estrada ser' sendo

D'algum lugar outro ao longo destes braços,
Se meus, sendo sombra em lugar ermo, eu…










Jorge Santos (02/2017)





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Falo do Estio









Sinto fazer sentido quando me leem,
Não faz sentido escrever, vazio
De corpo e alma, como se
Fossem as pétalas sem cheiro e a rosa 

Se acaso ninguém a cheirasse, 
Ou o cheiro não fosse importante
Pro ser humano ou explicasse o que é terem
Os sentidos corpo e alma, vossa

A jornada de sentir tudo em pleno
E com urgência, sentindo bastante
E não quanto baste chover
Ou será a alma que me mente,

A chuva deixa enrugada a pele,
Resumiria deste modo tudo,
Quando vejo enrugado o mundo,
E falo sobre gentes e tempo,

Não de enxurradas mas do estio,
Quando não me vêm e sinto o vazio,
A pele enrugada a vista enevoada, 
Parecendo chuva de nevoeiro,

Ou será a alma que me mente
Acerca da missão do corpo de sentir
Somente quando chove certo e quente,
Por mandato da ilusão.

Estivesse deitado e fosse pó, o sol
Se encarregaria de estender a mão
E desligar o botão donde me sai a voz
E talvez a alma que nada diz,

Que me conforte ...







Jorge Santos (02/2017)






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Quanta fadiga me enternece









Quanta fadiga me enternece,
Quantas fases do luar sigo, 
Quanto adversa é ou pode 
Ser, a existência sem a ilusão

Que vida acontece como uma
Espécie de cansaço benigno
E a ternura é fruto disso que
Chamam o amor e o divino,

A fadiga reanima-me e o universo,
Juntamente comigo balouça, 
Dança a mesma dança de sempre,
Sem escolha ou intervenção

Do pensar, faça eu o que fizer,
O meu corpo obedece ao cansaço,
Visto ser a mais usada das minhas
Emoções, depois do sentir inútil.

Quanta fadiga me enternece,
Quanto pesa o coração no pensamento
Meu ou qual o mais leve deles
E porque nos prende um só

Acabando nós por lhes pertencer,
Semelhante aos signos que cegos "tão-bem"
Veem, eu sigo as fases da lua
Porque está à minha vista.

Dista do meu cansaço uma meia verdade
De ver o que não é possível ver, 
Como ouvir da própria alma um segredo
Tolo igual a outro à distancia 

De um queixo duro. A ternura é feminina,
Usa a consciência como uma espécie de cálice
Ou mapa não físico do real para saber
Quais as razões da simplicidade, 

E o que há pra'lém do sofrimento
E da fadiga benigna, da sensação 
Que sinto quando me canso 
E vivo a paz como uma doce ternura,

Tão minha. Quanto a ternura me fadiga,
Quanta fadiga me enternece ...








Jorge Santos (02/2017)




Solidão







Solidão


A solidão é cega, tanto quanto rasa, 
Como uma multidão que corre 
No jardim do éden e nada tem 
Do ver, que a mim cega ver

De solidão que um cego crê, ser 
Da intuição a vista e do mistério a régua,
Sozinha, a solidão cega tanto, 
Que vê a solidão ser múltiplo comum, 

De toda esta gente que emprega 
A solidão, nem sei bem como, 
Mas que ainda mais solidão 
Carrega, que um furgão carregado de gente 

Acompanhada, mas em si sozinhos,
Cheios de nada carregados de tudo
Que não presta, não empresta nem dá mas nega
E julga mal pois não se julga, se renega...









Jorge santos (01/2017)



Já nem sei que, ou quem ...







Já nem sei que ou quem sou
Eu e quem sei não ser, se eu,
Ou eu, sem um "se" em mim, sem fim,
Já nem sei o que sei, se sei ou não

Sei, que saber não sei, se em mim,
Ou se a mim sou sincero ou minto,
Quem sou, subtil quanto um adicto,
Fraco e pouco nem sei que ou quem,

Menos sei quem sou que uma abóbora
Redonda e dura por fora, por dentro
Polpa e semente, se minto quem sou
Lamento, se culpa tenho e o conceito 

De culpa, por saber tão pouco de mim
Próprio, impostor ou sombra doutro,
Ou doutros "ses", como eu sou se sou,
Abóbora ou figo laranja ou amarelo, 

Poeira ou frouxo paramento, rasgo
Na bandeira, porém já velha também
Como minha alma que dialogava comigo
À sexta-feira, já nem sei o quê ...












Jorge Santos (01/2017)




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Nervoso ou preso,








Nervoso ou preso,
Vento que ris do mundo,
Peculiar e seco, como eu
Quase o insulto, quando
Bato a porta e finjo livre
O riso, parecendo preso
Nos molares que afasto,
Na frente da boca,
Que suposto é rir
Por nada e por tudo,
Vento que do mundo ris,
Porque me ignoras a mim,
Peculiar e seco, segui-te
Assim como um coração
Se segue, quando parte porta-
-Fora e deixa a gente
Com a dor dentro de nós
Sempre, como est'hora
Em que o vento m'empurra,
Desta porta pra fora,
Vento que ri de tudo
E parecendo, me ignora,
Choras entredentes,
Nervoso e seco,
Nervoso e preso mentes,
Vento que ris do mundo,
Diz-me porque arrancas
Minh' alma aos bocados,
Nem deixando o pensar
Ao menos, ao menos
Simular calmaria de vento
Preso




Jorge Santos (01/2017)





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livro de-se-ter...









Ser livro de se ter
Não é úti,l pra ele
Ter no fim do livro,
O mesmo fim feliz

De cada vez que
O fim chega ao livro
De se ler, eu não,
O farei, não é ú,til

Ler e tornar a ler
O mesmo fim, 
Sem em mim
Por último, o ter

Inté enfim
Tudo ficar assim,
Como se continuasse
En'mim a 

Ter um livro 
Só por ter...











Jorge Santos (01/2017)




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Façamos um pacto ...






Façamos um pacto,
Com aperto de mão e tudo,
Até onde o cotovelo
Chega e o braço alça,

Tu nesse canto,
E eu nesta praça,
Façamos um pacto
De esperança e d'graça,

Porque a vida roça
À pressa e passa,
Façamos um pacto
Rosa e serenidade moça, 

Façamos um pacto, 
No meio das ruas tais,
Por tudo que cabe,
Não nas lojas, mas 

Nas tuas mãos, duas
Até onde o cotovelo
Chega e a mão alça,
Façamos um pacto,

Tu nesse canto,
E eu nesta praça,
Façamos um pacto,
Enquanto há claridade

E é dia no campo
E nest'outra cidade
O sol-se-pondo, dança
E valsa lento, lento

Como de embalar, canção...














Jorge santos (01/2017)





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Afinal me perco em Sófia ...







Afinal me perco, nem lembro quantas vezes
Nos parques de estacionamento, na sombra
Dos edifícios, nos lugares dos objectos cinza
Afinal me perco nos bairros salgados, tristes,

Quem disse haver no baldio uma paisagem
Mentiu, passei da convivência, à sombra que
De noite está, sem haver lembrança, mesmo 
Vaga do outro dia "ainda ontem" quem outro

Eu era...Afinal me perco do que seja querer
E deixou de o ser, sentimentos em vidraças,
Incomuns, descomunais cidades de gigantes
Perto de aonde afinal me perco, nos parques

De estacionamento com passagem apertada,
Urbanos, afinal me perco, nem lembro, tantas, 
Quantas vezes em Sófia Sofia...












Jorge Santos (01/2017)








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O mistério ...





Eu tenho dos montes
O mistério e as janelas,
Já a criação é d'Outro,

Assumo a paternidade,
Apenas quando estou
Porta fora e desnudo

Do que eu tanto uso
E exponho poentes 
Nos olhos outros - o divino

De haver flores
Aos montes pra
Quem sabe olhar nelas,

Venho dos montes,
Recolhido no pensar 
Destas e d'esses secretos

Olivais, fontes, cores, pontes, 
Montes e olifantes...




Jorge Santos (01/2017)
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Obrigado e Adeus ...







Querido amigo, acresce por milhão e meio
O singular abraço que o humano
Tem de alguém por igual e ele,
Quando nos miramos ao espelho
E vemos Deus saindo do ouvido
Esquerdo zunindo singulares sons,
Sou eu e tu unidos no significado
Que o humano souber ter das palavras
Amizade, obrigado e adeus ...





Jorge santos (01/2017)

Enfim livre...




Apetece ser livre e natural
O instinto não quer prisão,
Assim como uma criança,
Quando olha pela primeira

Vez o céu, larga a mão da
Mãe e ganha a noção de si,
Apetece ser homónimo da
Paisagem e do pertencer ao

Solo que me viu nascer, ao
Enigma que é ter vida, lugar
No movimento dos astros,
Apesar de não os vermos,

Acontece olhar o céu parado
Em mim e sobre, ao lado,
Consciente do meu fim,
Começo por isso a existir

Livre,natural espontâneo
Espantado e criança,livre enfim...




Jorge Santos (01/2017)
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Redentor Rei-Cristo ...






Será Jesus Rei-Cristo,
Quanto mais vivo,
Mais singular sinto
Minha alma desigual,
Semelhante ao Cristo
Rei do Pão-de-Açúcar
Espantando turistas tolos,
E passarinhos pombos,
Quando comem alpista,
Das mãos e bochechas,
De Jesus Cristo-Rei,
Do alto do Açúcar-Pão,
E um povo sem ter,
Ao vivo quanto muito
Igual a uma migalha
Na palma da mão ou o rosa sal, 
Dos donos destas Nações
De mansos tal esta
Alma Lusitana, singular
Igual na mansidão e uso
Eu digo não ,eu digo não
Eu digo um não profundo
E a isto…
– Será Cristo-Rei Jesus da dor,
Quanto mais vivo,
Mais singular sinto,
Minha alma “inigual”,
Semelhante ao Cristo,
Rei do Pão-de-Açúcar,
Espantando turistas 
E passarinhos pombos,
Quando comem alpista,
Das mãos e bochechas,,
Pouquíssima gente
Sabe disto …
Será Jesus Rei-Cristo

Palavras nuas





Há palavras que são nuas como ferimento
Em carne viva, irreconciliáveis com o ar frio,
Como a ciência e a alquimia, lido com todas
Em determinados períodos da vida, 

As significâncias são as que emprego,
E não aquela que vem nelas expresso
Por defeito e o que for preciso nem digo,
Toco no cabelo, esboço um sorriso 

E sigo ...


Jorge Santos (01/2017)
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Fácil é sonhar, repetindo ...






Fácil de sonhar,
De gostar fácil,
Difícil encontrar
Na lua o curvo

Da terra azul e frágil,
Fácil é de gostar
Difícil é redesenhar
O sol na terra, ao cubo,

Táctil o mundo,
Mas não tudo
O resto, o mistério
Do pensar ser eterno,

Fácil o sonhar,
Dizer é vago, falácia
E o pensar é nada,
O difícil é despertar

Dum sonho repetido...



Jorge Santos (01/2017)
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Dá inveja, a gaivota a gritar.





Dá inveja, a gaivota a gritar
A inércia e o voo, grita no meu corpo
A consciência do que sinto deter-me,
O ar, acaso sonhasse ser outro

E fazer deste corpo parte, o voar 
Qu'inda não é tarde pro voo suave
Ter lugar neste peito publico
De feijão-frade, verde-frio e vácuo, 

Que seja ele bíblico ou não, sossego
E prossigo, persigo a inércia do voo
Quero-o comigo e melhor que o sonho
É o sonhar do ir e vir do vento.

Dá inveja, a gaivota a gritar
Fio de prumo sobre-o-mar, o cais,
A tempestade e a bonança, 
Ousarei eu voar até onde ind'há 

Esperança e ar se'inda não é tarde,
Suave o corpo d'ave espírito da voz,
Inércia do voo, sofro da condição
Que sirvo, servo de um chão duro,

Não me alivia, oprime saber e vida voa
Independente de obra minha,
Palavras são vento em cabelo.
Consciência o que sinto, persigo-me dentro ...









Jorge santos (01/2017)







Monção




Não digas coisa alguma, 
Apenas que é tarde, o resto
Só metade é dizer, a outra
(Os meus sentidos poucos)
È falso e o falar está gasto
Ou é coisa nenhuma,

Não digas apenas alguma 
Coisa, a vida é chuva e o vento
Corre corre sem alcançar coisa
Alguma, sem alguém que
O siga pra onde se diz q'vai
E não volta,

Apenas é tarde pra quem 
Diz que saudade é ficar,
Supõe que o dia é sonho fixo
E a forma de acordar é sonhar
De novo como se não passasse
Dum pequeno sonho 

O nosso dum outro em uso,
Não digas coisa alguma, 
Apenas é tarde e dorme dentro
A parte de mim que é nada,
Nem a outra é toda desta Terra
Amarga,

Mas lá cima atada, toda chuva,
Alma é vento seco e monção
O oficio que tem esta é o inútil e o vazio,
A que outros têm é tudo
Quanto eu desejo ou quisera ser,
Sonhar é o engano, o logro e o nada ...







Jorge santos (01/2017)




"Deo-ignoto", Ateu




“Deo-ignoto”
Sendo dos que na força de irem tudo põem, 
Não inspiro nem acho o sítio onde ir e estar,
Sala ou quarto de Lua ou penhasco, tudo é
Falso, andaime ou lusco-fusco o que me fiz
Ser, quanto ao sítio, figuro que não existe
Nem desejo há, de tê-lo ante mim tendo-o
Onde não chegarei mais. nem estes covardes 
E estéreis cotovelos, castrado eunuco sou
Eu, sopé do mundo, rude-hebreu, “Deo-ignoto”
Ateu, consola-me conviver com a chuva-triste
E a sombra do que não existe mas se admite
Como sendo silêncio físico, crepúsculo e magia,
Sendo dos que na força de irem tudo põem,
Comporto-me segundo a intuição e não a ciência
Como instituição palpável probatório fixa
E o ir faz parte da descontaminação e da educação
Do fugir ao vulgar e à vulgaridade do sítio a fingir,
A fuga cria a diferença entre o criador e o incriado,
Invisíveis mas pares na arquitectura íntima
De todos os sonhos que tenho na beira do mundo.


Jorge Santos (01/2017)


Estranhos cultos ...







O que tememos ter é sentires ocultos, estranhos ...

O que tememos é ter sentidos diferentes,
Ocultos em tudo o que sonhamos e ser
Estrangeiros na global casa e na nossa,
Embora íntimos quanto do acorde a viola,

O que temos é sentidos efémeros,
Tão breves, tão tímidos por vezes
Que nem sentimos ter e quantos,
Quanto mais pensar que possa haver

Sentidos sem intenção outra menos perene
Ou fé mansa de sentir e sentir somente
Sob qualquer recolhido véu, céu, derrota
Ou dó, assim como sentir que passa

Uma sombra, sem a lembrar de ver, possamos 
Apenas sentir no ar o correr do vento,
Tão breve quanto oculto e mudo,
Tão só temos sentidos efémeros, imperceptíveis

Quanto o real é ser uma espécie de visão
De sonho comum, no fundo nós
Somos o que sentimos, transitórios, passionais
E terrenos embora sejamos passageiros

Do que nada sabemos, sentimos
Como vivendo ao vivo nossos sentidos
Tímidos, íntimos do que a alma sonha,
Efémeros quanto belos …sejamos estranhos

Bastante, desajustados sensoriais, sensacionais,
Não tenhamos receio de sentir demasiado .











Jorge santos (12/2016)






tradutor

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