Vega



Não, não digas nada irmã já seca e
Nega o que de facto possa ser falácia
Em surdina e antes que se veja cega e
Vesga, a noite, Não se dê depressa ocaso

E seja tarde para bocas esfaimadas
E coros de lémures desbragados 
E se estendam, amortalhados de tudo e nadas
De maus presságios e símbolos estafados.

Dorme, velada por Centauro e teu dote
Lembra, Tenho teus regatos bem guardados.
Labregos, os sensos que de mim, sendo íntimos,
Em ti, os deposito como testemunho, inerte.  

Responde, se tuas são, como colheita,
As almas em guerra, os oráculos e machados
E os Homens que por ti navegam, desterrados
E em vão buscam noutra Terra, esta que os deserdou?

Mas, na rampa da campa deste insano funeral,
Muda, continuas Vega, na noite e no vasto espaço,
Madraço e imposto do tempo raso, terminal,
Básico e humano se sórdido e baço.

É tudo, em tudo dúvidas e desculpas
E, perdido num sonho de brumas, esconjuro
E Partilho os últimos suspiros das naturezas mortas.


Jorge Manuel M. Santos
(02/2010)

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