Nasci onde as ondas do mar se calam



Nasci onde as ondas se calam nas pedras,
Onde a fala se confunde co’mar,
Vinha de manhã cedo pra brincar,
Com os seixos que docemente me falavam,

(Como quem delega num filho um segredo),
Num lugar secreto onde tudo era tranquilo,
O rolar das ondas quedava ainda mais lento,
Lavava por dentro o meu coração,

Num leito de calhaus polidos,
Ia até onde chegava a maré cheia,
E ali ficava, calado, na tarde, esquecido, pasmado
Com a doçura de sal e lábios e areia,

E nas palavras, que de noite emudeciam,
As promessas que o mar me desse
E os sons que na noite falassem deste…
Quem me dera que nunca fosse

Acordado p’lo mar embrutecido,
Mas, se ele me desse um búzio, (mesmo pequenino e partido)
Eu ia embora mas não mais deixaria
De acordar de manhãzinha e bem cedo,

Pra nele colar o meu ouvido,
Mesmo que fosse viver longe do mar,
Ele estaria sempre ao meu lado
Porque nasci onde o sal se me colou na pele

E não me canso de ouvi-lo falar, (do mar)…
Qual quer que fora o seu rugido,
É eterno e terno ao meu ouvido.

Jorge Santos (02/2011)

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