Embriaguem-se de verbos duros , como se fossem mortalhas de curtumes,
Embriaguem-se lá fora, no beco, na rua, embriaguem-se…
“porra”,
Embriaguem-se com a alegria, das crianças, mesmo sem côdea e
sem tecto,
Embriaguem-se e, se porventura pensarem perder–se da razão
Embriaguem-se repetidamente até que de novo se encontrem , nos
olhos chãos,
Dos inocentes, nos bairros pobres ou dos lunáticos e utópicos.
Embriaguem-se da vergonha vesga e da solidão, dos nossos
subúrbios cercos,
Nos Ghettos da gentalha, nas mantas dos sem-abrigo, aos
milhões,
Embriaguem-se, em noites de estrelas roxas e ideais
barbudos.
Incendiai, segai pavios, dai às mãos dos gentios, a
metralha,
Embriagai-vos de liberdade e que as vossas mães derrotadas
jamais sejam violadas,
Nos trabalhos mal pagos, nos degraus dos parlamentos e das
opressões,
Nas arcadas dos ministérios, das esquadras, dos grilhões
E das algemas, encerrem as masmorras com as pedras arrancadas na
calçada.
Embriaguem-se, contra as governações, testas de ferro
Dos saqueadores e da corrupção, da escuridão e do medo,
Contra os ferozes e os algozes de serviço, dos gordos coronéis,
Destes reinos beras de genocidas a soldo, bem mais que os cruéis,
D’outrora, embriaguem-se e cantem, excluídos e esfolados,
D’agora, cantem sem descanso, até caírem pro lado,
Enquanto bebem, o vício de serem livres, em lugar de
acossados,
Por crime d’ajuntamento, até caírem os ferrolhos e as
paredes dos cruéis,
Dos bancos, com capitéis d’ouro e caixas fortes, dele acumulado,
Quando acordarem, por fim, os perros dos arrecadadores, será tarde
A bebedeira será global e... transmissível,...soará a corneta
Dum tempo novo, fundado plos bêbedos, deste mundo esguelha.
Pois que vertam, sangue e vinho, na sarjeta e no soalho
nobre, do rico...
Embriaguem-se Porra…EMBRIAGUEM-SE ...
Jorge Santos (12/2013)
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