(Ouçam-me, pra que eu possa...)



Ouçam-me só, para que eu possa…

O que escuto possuí um nó oblíquo como o destino,
Tem vazios e interstícios complexos, ausências,
Prevalece o que puder eu fundear entre as marés,
Amor, saudade ou o que a serenidade existencial

Conseguir não explicar e o que eu escuso,
Apesar de ser segredo, debato-a comigo,
É uma Pérgula d’esguelha com roseiras,
Nem-abertas nem-fechadas, invisível

Da entrada. O que me dói tanto é oblíquo,
Quanto a esfera armilar, do lado onde tudo pende,
É abismo fundo em mar noz, donde parece,
Ninguém vem e onde nem no chão cresce avenca,

Que erre eu o rumo tanto se me dá e ainda assim
Entendo mas não estou errado quando escuto
O preciso momento em que absoluto iniquo
Do meu pensar toca o imo do que sinto,

Se calhar atento, eu escuto a analogia dos erros
Repetidos noutra e noutras dimensões, ironia
Do órgão nativo e sem tempo que dói sem doer,
Mas seduz-me o espreitar pelas frinchas do mundo,

E o enrolar das ondas vela-me aquando a bonança,
Reina e o temporal amaina e me amansa, nasço
Ao destino com alfaias em forma de sinetas
De mil por mil alternáveis movimentos de ir e de vir,

A minha vida cresceu enviusada e em nó,
Ouçam-me só pra que eu possa ouvir
Quem cala e passa, que me diga onde pára
Meu destino, longe amonte e me foge ocioso,

Sem amarra nem mar pra parar,
Onde há-de ele me ir sonhar,
Onde há-de ele me vir sonhar,
(Ouçam-me só, pra que eu possa…)





Jorge Santos (12/2014)

3 comentários:

  1. « Mère, nous arrivons d’un pays sans amour D’un pays où Dieu est absent. Déluge
    en tête et crépuscule dans le sang. La terre obscure est une planète
    aveugle, Malheur à elle qui s’étend si noire Sous les pieds et sous les
    maisons !
    Entendez moi pour que je puisse»

    (Grindberg)

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  2. Bom dia, Jorge
    Foi o acaso que me fez parar aqui, numa ronda matinal pela Net.
    E foi feliz o acaso... já que me trouxe a um espaço onde encontrei óptima poesia.
    Gostei muito, muito, dos poemas aqui publicados.
    Vou dar uma olhada pelo ouros blogs e fazer-me seguidora.

    Bom fim de semana.
    Beijinhos
    Mariazita
    A CASA DA MARIQUINHAS

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  3. Boa noite Jorge,
    A minha vinda até aqui, já não foi como a da amiga Mariazita...Te vi como seguidor lá no meu recanto e apesar de não ter deixado nenhum comentário, cá estou para conhecer seu espaço poético e me encantar com suas escritas...
    Parabéns por esse dom divino, aprecio por demais quem consegue colocar em palavras tudo o que vai na alma e no coração.
    Deixo beijos com carinho.
    Lindo final de semana.
    Marilene
    http://marilene-folhasfloresesutilezas.blogspot.com.br/

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