Pedra, tesoura ou papel..."Do que era certo"








Abro com a célebre frase de um autor bem mais conhecido do que eu certamente, terei a arte, não a sorte nem o sonho, de todavia o ser:

- "O amor,(o sal) o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte", assim é também a cultura gastronómica, um modelo aditivo básico, embora incontornável de sabores e criatividade, pedra, tesoura ou vulgar papel.

Sanciona-me na acção, a falta desta, a inalação controla-se facilmente, a inacção controla-me quotidianamente, a vulgaridade do sabor a chocolate mentolado e os olhos fechados da multidão que passa ao lado como se fosse peste ou eu posasse junto a um canário moribundo, que ninguém quer ver, com a possibilidade de estarmos mortos numa mesma gaiola onde passámos a juventude, condenados à prisão perpétua, sabe-se lá porquê ou porquanto, pedra, papel ou vidro martelado.

Enquanto e quando como, experimento diferentes tipos de sabores e alimentos, visito lugares que nunca antes visitei, assim como um cigarro javanês fumado sem nunca ter visitado Java.

Assim como um ensaísta publicitário, num ensaio clínico culinário e numa tentativa cíclica de aumentar o gosto argumentativo de um caldo insonso e duvidoso o qual designo de "Ratatui-Miscelânico", venho frequentemente sonhar e melhorar "a-gosto" o guisado da minha redacção, quiçá insossa, (pedra, tesoura ou papelão), num sótão em forma de lua meia ou caixa cheia de peixe de leilão, no mercado da lota.

Encontro-me amiúde, comigo próprio no primeiro piso da morada habitual, forrado a madeira e onde me sinto mais tranquilo e livre para confeccionar uma caldeirada de ideias como se fossem enguias frescas, talvez porque tenha os pés mais afastados da terra e da rua, do ruído e deixem assim pois, que lhes diga acerca do dia seguinte, nos meus condimentados sonhos de sonolento meio-acordado, meio adormecido.

De entrada principal ou como primeira prato da uma ementa de habituais opiniões e usando para a infusão um simples filtro de papel, o das antigas máquinas de café, lhes digo que o meu sonhar não é cego nem azedo, agridoce não é o caso e nem precisa de trela, apenas de estrelas-guias, deixai-o solto e ele voltará célebre, amanhã ou noutro dia, no meu caso a inspiração criativa volta normalmente dia a dia e sem eu dar por isso, depois da primeira ou das primeiras frases, não precisam ser minhas, mas sim de serem sentidas, podem ser de um jornal diário, um poema de outra qualquer pessoa ou desse mesmo“Pessoa” o qual me inspira incomensuravelmente, como podem ver.

Já não posso dizer o mesmo, "apenas por gozo", do prazer não intelectual mas físico, esse pode não voltar de igual forma e feitio quando é de sobremaneira intenso, então neste caso pode-se pegar, agarrar pela raiz do pelo ou pelos cornos e cotovelos ou então nos arrependeremos redondamente de não o voltar a sentir, imenso, intenso, do casaco ao colarinho, de o deixar escapulir, diluir, acabar, partir, mas na arte livramos-mos de sentir pequenos sentires, detalhados e infectos, como vis escaravelhos, pois se, até o príncipe da Dinamarca coxeava, era manco, maneta e velho, segundo o injurioso Hamlet, pedra, tesoura ou papel e o prazer que me dá ter uma real casa de noz numa árvore com casca grossa, como Reino o apelido de Helsinore Horácio, dito na íntegra e quase se parecendo com o cubículo onde habito, pedra-tesoura ou papel de jornal.

Também vos digo que não, não somos todos integrais, radicais primos, nem números inteiros, racionais como pode parecer, não pretendo dizer com isto que não sou um, dos inúmeros peixe do mar, não sou uma Perca ou um Cherne, não é preciso conseguir falar apenas por não possuir guelras, mas vontade para dizer que sou peixe da pior espécie, esquilo terrestre ou esqualo gigante marítimo, ingrato, pedante, monótono, desintegrado dos cardumes de galgos marítimos, desinteressante como o sabor a gasto ou Tainha, pois de que lhe serve a glória, inútil, feia Imperatriz dos vencidos peixe, segundo o discurso do Salmão aos domingos na missa-metade dos graduados Safios.

Pedra, papel.…ou tesoura, recomeço onde deixei e onde falo, sem limite, de mim para mim, seremos nós, os tolos e eu, neste mundo, as duas Mós, as mãos a tender o grão do trigo, a do Norte e a do Sul, nem razão têm Este e Oeste, Oriente e Ocidente, pedra… papel …acerca de tocar o céu-da-boca, isso não significa senti-lo, a crença lúcida é apenas uma espécie de especulo, assim um céu íntimo em si, o contorno dos limites e o fim do mundo.

Olho pela centésima vez na janela do sótão e sinto-me tão melancólico quanto é o sol no ocaso, aluviões e tormentas, adormecem os sonhos, esperança que ora acena e parte para parte incerta, ora me alicia nas sombras da floresta, ora desencadeia o que suponho vir do meu pretérito, alcançá-lo-ei enfim, em nova manhã encoberta, ao meio da vida, vivida incompleta, pedra, tesoura ou papel.

Os vizinhos recolhem-se, como habitualmente no interior das casas, outono é sinónimo de mudez e meditação e o silêncio é mestre a ensinar o calado e no contorno do limite da boca e dos olhos estão os sorrisos e é o que devemos aos outros, mesmo que franca seja a emoção do retorno e embora todos eles mereçam a nossa sincera simpatia, manifesta numa ubíqua, oblíqua face, mesmo os mais detestados das orelhas, os da outra casta mais ou menos pura, ou os da lua, os amordaçados na garganta, os postiços de cabelo e os de voz cheia de granadas, os da santa Tumba e Adão merecem a nossa especial atenção e crédito, embora possa ser duvidoso este, pedra, tesoura ou papel.

Acredito no silencio e no amor quando posso, pois, que na posse não há amor, nem silencio, impor é para o amor como o azeite para a água ou o vinho na comunhão das almas pouco puras, falso e vicioso, o som que faz um padre se o vaso é apenas vaso e a água apenas água e fraude, saque, cheque sem provisão e crédito mal parado, mau hálito a sardinha.

Sendo assim, bem melhor é imitar-me a mim, eu próprio, elevando a dois, multiplicado pelo melhor exponencial, o conhecimento que tenho a menos, eu mesmo, da minha genérica conta em acções fiduciárias, pedra, tesoura ou papel.

Acabei por descobrir, na melhor formula aritmética, que os poemas são o mais parecido com as tabelas periódicas, jamais estão completas, haverá sempre um elemento em falta, mais uma orbita complementar e um planeta, uma nova crença, será alcunha de átomo ao falar-se de “carência molecular” e uma falácia a escrita quando esta não é tão pura quanto os elementos, terra, ar ou água, pedra, tesoura ou papel.

O despojo, nas palavras pode ter reflexos por vezes anárquicos e complicados, a vontade de ter alma, o preço e peso certos, a má vontade expressiva, parece uma sucessora e não a precursora do apego e do excesso, a que se chama criação criativa e criatividade expressiva.
Olhos - tubarões, palavras - pescada, postas no prato e na mesa, talheres, copos em plástico.

pode ser dito assim, pedra, tesoura ou papel, mas também de outra estranha forma porque nada mais descabido, embora esclarecedor, o que o cabide diz para o juízo ou então, dito de forma diferente e assim, eu trago em mim, nas costas, um cabide em forma de outro e do que falta nesse, o juízo doado de um argonauta tirano de lata, podem ser expressões plásticas, elásticas e poéticas rotas, rasas ou apenas opiniões, nada mais que isso, apenas diferentes.

Considero-me o pior critico de mim próprio e sinto um desejo imediato de apagar e reescrever que não concretizo de cada vez que volto a ler e reler o que escrevo, apenas acrescento um aponto ou uma linha a uma opinião e assim penso que se torna mais fácil para outros deglutirem e continuar eu mastigando por simples habito embora não me agrade muito o sabor daquilo que disse e do que escrevo neste sótão de luz ténue, ao domingo .

Seja como for, sentado confortavelmente no pequeno salão superior, faço o que quero da vida e algo que a ciência ainda não provou possível, reduzo os tolos sorrisos doutros, nas expressões das silabas e nos modos com que descobrirão mil dos meus segredos, Mações livres e as cinzas às cinzas nos sagrados mortos, consequentemente invejo nos pássaros, comuns nos ares, o voar, aos sociais chãos desta feira bera na Terra, desprezo e digo de novo, pedra, tesoura, papel e vidro.

É através do tempo e vice-versa que se viaja no sonhar, como se fosse um diaporama, nas bainhas da visão e nas vagens da propulsão, o gosto é um detalhe generoso, fantasia de feijão frade verde…se a palavra em brasa não o queimar, sem se impor na cozinha, só tirar do fogão a tempo, e basta o dedal ideal, meio de sal a gosto para que não seja tão mau o discurso do Santo António aos peixinhos da horta, pedra, tesoura ou papel.

Somos de uma caricatura demasiado simples e ridícula de se ver, apegados ao querer profundo, dois em um, que não podem viver isolados, sob pena de nos tornarmos desinteressantes, empolgados ,assim como num guisado com falta de apuro, sem o necessário condimento e a audiência sentada à mesa, faminta supérflua, na mesa ou távola redonda, o poeta é o infinito em falta, finito mais o tolo que escreve, que a França, pedra, tesoura ou o papel da conta.

Reconhecer-me limitado, igual a actor pouco falado representando sempre a mesma face, é a melhor forma de me “ilimitar” para sempre já que a minha ambição maior é amanhecer na lua ou lá perto, no lado longo, magro, até lá cerro e estalo os dedos, vivo querendo e vou celebrando a sós cada momento, enquanto me lembro e enquanto relembrar meu rosto ao espelho e que é a mim que me revejo na lua ou no engano que deu erro, convenço-me que vejo convexo meu reflexo côncavo no espelho, pedra, tesoura ou papel.

Sociedade de falsos docentes, discípulos reprováveis, doentes e dementes, decentes falsos, pedantes... xeno-frásicos, é o dia da poesia, odeiem-na tanto agora que está morta, quanto a adorava outrora qualquer outro poeta vivo, no entanto não a leiam, por favor, a poesia vai nua em pleno sol do meio-dia, na rua …pobre denegrida e mal-entendida, pedra, tesoura ou papel.

A bem dizer, tudo o mais era cabido ser dito foi escrito(...) excepto a interrupção de facto do que digo, apenas por dizer como por exemplo, que acabou de me ser diagnosticada - chuva severa, quando afinal era seca, cronica e forte a minha tosse, não consigo fazer uma frase inteira sem convulsões nem diarreia, o terceiro estado da matéria…

A vida é uma serie de enganos à “Bollywood”, agora sim, sei o que é ser, enfim nada, o que supunha ser a lua sobre o ombro, apenas a sobra do mundo, apenso ao corpo.

Pois bem, sejamos inadequados a bem de todos, anormais quanto "pasta" picante, mas não nos odiemos uns aos outros, nem andemos de "candeias-às-avessas", emoção e idealismo andaram sempre juntos, tiraram-nos do escuro e do breu, o espaço é a nossa face final e não permitirá reduzirmos-nos à Terra negra mas reproduzir-nos-emos no universo à nossa frente, não nos odiemos uns aos outros, nem adiemos os astros no espaço, pois a nossa semelhança com ele é real, natural e antiga, ele cresce no que digo no que penso, embora a estupidez humana actual tenha atingido níveis considerados inultrapassáveis, pedra, tesoura ou papel.

O ser humano é tal como um amante estrábico, pois vê desigual para ambos os lados, mas pensa no que sente, pela raiz do cabelo, não a singularidade presente e frente a ele, junto ao nariz e ao queixo, nua e em pelo…pedra, tesoura ou normal papel.

Mas o derradeiro sábio será sempre aquele homem que, não sendo o meu caso, acorda já acordado, não havendo nenhum outro ou na falta de acordo entre todos os outros membros da academia do desassossego ...pedra, tesoura ou papel de jornal diário.




(excerto de "Do que era certo")


Jorge Santos 11/2019
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Sou "O-Feito-Do-Primeiro-Vidente"







Sou o efeito do primeiro fogo, da primeira fogueira,
Os segundos são os outros, fracos e obedientes,
Aqueles que não são guerreiros, Carvalhos
Quanto nós, justos feiticeiros, Druidas francos,

Sou feito de despudor, quanto de besta,
Amor, Balsa e Salmo, pura e integra pele de tambor,
Tombo quanto um pinheiro do Líbano ardendo em pé,
Ou Xerxes de Tripoli defronte um elefante preto, nazareno

Tal qual Ele, que também o era, negro, ébrio,
Sou a profecia dos Druídas, "Primitivo-Ente"
E primeiro, segundos são para os outros, carneiros
Receosos das hordas dos Hunos, nós somos eternos,

Primevos Babilónios, Iníquos e Demónios,
Guerreiros de ferros em brasa em terra brava
E por desbravar, sou o Monstro Adamastor
E vós os encurvados segundo conta Eneias

Em Luís Vaz, ratos serpentes, fracos serventes,
Eu jamais tombarei, morrerei amparado no circulo do oculto,
Como morre um colosso, vulto nu, sem jazigo nem monarca
Por perto, para reviver outra vez, aos doze dias,

A saga dos antigos profetas e dos brancos Bardos,
Sou feito dos primeiros videntes, nas boreais chamas,
Sou do feitio dos primeiros "lusíadas" e Druídas Francos ...
Sou o feito dos "pristinos" Loucos, Lusitanos e Duendes.





Jorge Santos 10/2019
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Morri lívido e nu ...






Tudo é eterno enquanto dura,
O choro de um recém-nascido,
O riso, o pranto, a vontade do atleta,
O enquanto, o ouro puro,

A fruta madura, o verde da floresta,
A consciência do mundo !
Morri por ter vivido completamente nu,
O tempo todo, imundo,

O meu sonho cobriu-se
De terra crua e fezes,
Às vezes é o destino,
O embaraço, ou culpada

A inércia de me creditar
Vivo como fosse doença
Curável, quanto a morte
De um César Augusto

Ou dança de Baryshnikov,
Sobre o Arco do Triunfo,
Em Paris, (sem pressa)
Se fosse tão fácil amar,

Eu não falaria de amor, assim
É, das coisas tais, as quais
Não se pode "andar-à-roda-delas",
Daquelas que murcham

Lentamente, sem darmos
Por nada, caiado de lua cheia e bela
E de lugares apenas despertos
Nos sonhos que temos,

Enquanto nus, morri de ter
Vivido inevitavelmente nu,
Tanto tempo, e mudo surdo,
De quando em vez louco...







Jorge Santos 10/2019
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Dreaming Of A Better World



Olho sem ciência o horizonte que não descansa,
Uma gaivota gritando significa que está pedindo,
Um barco partido, sem ter vontade de navegar,
Nem pressa.

O silêncio é idêntico, quer no céu, quer em terra,
Só no mar se confunde o horizonte, suponho
Ser lá longe, p'lo som que uma gaivota cega faz
Na praia, ao chegar,

Ao regressar co'a heresia do mar, no fundo,
Aparte as ondas, nada se altera, o mar é aberto,
Alternas sensações,
O longe e o perto, o ar.

Barcos partindo de viagem, sem rota,
Minha pele sem escama nem arte, mar sem porta,
Sem peso nem ciência,
Minha força desleal.

A Aorta de um marinheiro é o bocado do corpo
Que mais lembra um coração, as algas o cabelo
E o som molhado da saudade,
O velame e o esteiro,

As águas vivas, terras perfeitas e areais florestas,
Palavras não expressas, organismos marinhos,
Marés sem esperança,
Curta distância e extinção...

Vivemos de estratégias, especulações e simulações reais,
Enquanto tempo é feito de ausência e de todos os elementos
Substantivos possessivos,
Que nos habituámos a dar

Como substancialmente comuns e até definitivamente vitais
Em função apenas da necessidade de tornar real, embora suave,
A passagem do tempo e das horas,
Como por exemplo, brincar

Irresponsavelmente com as palavras e com o pensamento,
Inconscientes da função de viagem, da paisagem,
E do meio de transporte, o espaço vida confinante
Ao "silêncio da pele".

É atribuído genericamente ao tempo, apenas
A memória mental e mnésica que usamos na orientação
No espaço que inventámos, por confortavelmente
Não querermos existir no lado de fora dele,

Destas falsas e possessivas premissas constituintes da matéria...
Eu conheço lugares que caíram dentro de si, Incompreendidos
Lactos de uma triste tristeza paranóica.
Vi como demagogos se agregaram num tear de cegueira,

Deixando-me na insónia,
Ancorado na nulidade em que vivem esses Faraós Aqueus,
Incapazes de sentir, montados em debilitados javalis,
Maldosos, funestos delimitadores de jardins, bacantes.

Eu conheço um lugar blindado à fé primeira,
O lugar-dos -elefantes, a Terra-inteira, sem horizontes
Nem ciência, apenas bera cegueira …
I dream of a better world .







Jorge Santos 10/2019
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Indigno eu



Escritor mecânico e doente, incurável monstro,
Indigno eu, organismo morto, sem paladar
Ou gosto, aroma sequer, eu- vulgar sol-posto,
Com talento apenas de brisa indolente, inimputável

Tal qual roupa suja de sangue fresco sob uma laje
De cimento seco, indigno eu perante gente ou
Acontecimento e na indelicadeza de não pensar
Neles, a insaciabilidade de um cão vadio, sujas cores

Numa cabana sem "backyard", escrevo sem esforço
Entre as quatro tábuas de um mero quintal e ainda
Digo que me perdi, de mim para mim e sempre com
Mau discurso, num Catalão que ninguém fala, nem eu

Mesmo entendo, perguntando as horas, 19"maybe-less".
Se me manifesto pela saliva do nariz, Salvo a consciência,
Perco-me no que digo, na memória e na forragem do umbigo,
A trajectória não tem leme, vagão ou rumo,

Escrevo "por-bem-dizer" o que conluio ser uma tela
De superfícies cavas, expressando o que é a face humana
E manuscrita, não falando daqueles que não têm
Remédio comigo. Os dias grandes não costumam repetir-se,

É um facto, cabe a mim situar-me no melhor lugar
E pensar diferente e cada minuto de dia, na galeria,
Na plateia ou no balcão, para que esta pareça uma outra peça,
Sem me sentir prisioneiro do teatro,

Posso sempre sair para a praça, Jogar matraquilhos
Ou assistir da bancada ao clube da terra,
Enormes são os dias que não se repetem, nem mesmo
Eu, repito-me escrevendo, concluí que sou um viciado

Em rotinas pequenas, pequenos são os meus dias e a rotina,
Escrevo o que ninguém escuta eu dizer falando,
Sou que eu digo, do umbigo e em roda dele,
Situo-o no meio-dia e eu em órbita do nariz, na saliva

Desvalorizada, vulgar, parda vida em que vivo
Sem me fazer ouvir, enviesada …





Jorge Santos 09/2019
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Venho de uma pequena ciência,


 




Ao pousar do vento Anabático
Despenhasse-me o pensamento,
A lógica, o valor e o significado são
Insónia de semiacordado ou de lastro,

Em enseada pacífica e repousada,
Venho de uma pequena ciência,
Em que os dias são todos habituais,
Cá fora formam-se grandes coisas

Ao abrigo da conspiração dos hábitos,
Temem a desolação que habita dentro
De mim, sem dúvida sou pequeno, estranho
É tudo em mim, assim a noite escura e a meia

Altura de tamanho e peso, quanto à sorte,
Soçobrarei na morgue, "à porta fechada"
Num armário de veludo preto, a sós comigo,
Mais nada, venho de uma ciência pequena,

Quanto o hálito que inspiro, inútil paira
Em torno de mim como uma serpente alada,
Singela parda, cinge-se-me ao rosto,
Perturba-me a alma desde a infância,

Colasse-me aos ouvidos e olhos, como
Pragana ou na cadência das escamas,
Ninguém deveria possuir desta forma,
Sonhos que se colam ao canto dos olhos

E na boca imposta, repetidores de poentes,
Engenharia de um falso "Demogorgon"
Dos sentidos, sem existência real, nem
Substancia lendária, apenas a indiferença

De um Anabático vento, sem fôlego...














Jorge Santos 09/2019








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Ranho e linho...




Alma e pele,

Espero por mim, eu próprio, dias
Incógnitos e mudos, sonhamos depois,
juntos ou apenas eu, que me repito,
Nu por baixo da aridez q'sinto, descalço-me

Noite pós noite, dia após dia, face-a-face,
Espero por mim como num régio, lento
Duelo corpo-a-corpo, mano-a-mano,
Eu contra mim próprio, faca e maço,

Dor cortante de quem sal sangra,
Se batendo consigo mesmo,
Bastão e lança, lança e bastão,
Desespero, dicotomia, opróbrio

Sonho de condenado à morte,
Distante, inexistente mas real, vazia
Jornada, rasto de vida que resta
E me escapa das mãos gémeas, lume,

Alma e pele, pele e alma...ranho
E linho. Morreu Aquino, morreu Eça e Reis
Tantas e tão poucas esperanças sem luz,
A vida passa menor que um passo,

Num paço real onde não são permitidas
Rosas, apenas cardos do campo gigantes,
Estarei descalço a sério se real é sentir
A dor que é estar calçado, sem dar

Passo sobre cardo ou faca de mato, gume
De verdade, grande a esperança
Nos eirados prados, fraca herança,
Os meus adiados encardados pés,

Sangrando pós noite, após dia,
Alma e pele, ranho e linho...










Jorge Santos 07/2019
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Escrevo o que ninguém escuta ...



Escrevo o que ninguém escuta eu dizer,
Se me manifesto pela saliva do nariz,
Salvo a consciência, perco-me no que digo,
Na memória e na forragem do umbigo,

A trajectória não tem leme, vagão ou rumo,
Escrevo "por-bem-dizer" o que conluio
Ser uma tela de superfícies cavas, expressando
O que é a face humana e manuscrita, não falando

Daqueles que não têm remédio comigo,
Os dias grandes não costumam se repetir,
É um facto, cabe a mim situar-me
No melhor lugar e pensar diferente

A cada minuto de dia, na galeria,
Na plateia ou no balcão para que
Esta pareça uma outra peça,
Sem me sentir prisioneiro do teatro,

Posso sempre sair para a praça,
Jogar matraquilhos ou assistir da bancada
Ao clube da terra, enormes são os dias
Que não se repetem, nem mesmo

Eu, repito-me escrevendo, concluí
Que sou um viciado em rotinas pequenas,
Pequenos são os meus dias e a rotina …
Escrevo o que ninguém escuta

Eu dizer falando. Venho de uma pequena
Ciência em que os dias são todos os tais,
Lá fora formaram-se coisas, grandes causas
Ao abrigo da constipação das horas,

Temem a desolação que habita dentro
De mim, sem dúvida que sou pequeno,
Tudo em mim é noite escura e meia
Altura de tamanho e peso, ninguém escuta

O que eu digo do umbigo e em roda dele,
Situo-o no meio-dia e eu em órbita do nariz,
Da saliva desvalorizada, vulgar, parda
Vida em que vivo sem me fazer ouvir...











Jorge Santos 07/2019
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Supondo-me desperto





Despertei não sei do quê nem como,
Se ainda durmo um tardio febril sonho
Vestido a luto ou se desperto a mando
De alguém morto há séculos e por falecer

Do mesmo mal que me anima ainda pés e tronco
E em que nada combina com vida, nem ar aliado
Ao movimento de sombra e luz que me perdure,
Inútil a alma que, se existisse seria cinza, pó terra

Acabando por se perder na penumbra alada
Desse neutro, negro outro lado, não sei porquê,
Nem onde, mestiça margem d'outro homem,
Vestida a manga, só no decote o tecido é curto,

A glote é minha assim como a de todos outros
Sem glória, cantando "à-capella", o divino moribundo
E o grotesco aplaudido por milhões de varejas,
Maldigo o destino, coso-me ao último, tomara certo,

Não falsa ideia final, do inútil que sou, supondo-me
Desperto, sem uso nem posto, confundo-me
Com as pedras que acariciam meu estéril rosto
E se alinham nas mãos e não no gesso do grotesco busto .





Jorge Santos 06/2019
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Tesoureiros da luz,



Tesoureiros da luz,




Tenho alma de cão pastor cego,
Sinto nas galáxias o que não vejo
Cá baixo, caminho na certeza de 
Voltar nunca o mesmo que fui,

Faz tempo, o futuro foi lá trás,
Sigo meus pés descalços, a alma
As estrelas e o espaço, tanto faz,
Formiga d'asa, onde possa voar,

Embarcar para as estrelas que sigo,
Pastor perseguindo velas, cego,
Queimando os dedos noutros 
Universos loucos, menos paralelos,

Assim como um tesoureiro da luz,
Caminhando no breu pelos pontos
Que brilham, sinto pelo som os astros,
Pouso nos cotovelos os ombros,

Nas estepes o desafio, a orgia da luz
Aí percebo quanto sou frágil, caniço
Da luz que sai pela voz e apenas,
Se é chama, é orgânica na lucidez,

Ela nos diz se a podemos desfiar
Ou não fiar, dependendo do ouro,
Da densidade frágil do fio, da voz o ar
E do modo como sai da boca, o cosmos

Da confiança e no tear próximo,
O pouso e os cabelos de Berenice...
Da janela os reconheço, cada transeunte
Pelo brilho que apresenta e usa,

Como que se germinassem espelhos
Na calçada, reflectidos na minha
Face a pontos ouro de luz, fina Ursa Menor
Ou grossa, difusa ou orgia em chama,

Tenha ou não eu alma de pastor cego
Certo é ter de rinoceronte ego, escaravelho
Sinto nas galáxias o que não vejo, pego
O facho e caminho para um Sol poente vizinho,

O meu travesseiro de luz.





Jorge Santos 04/2019
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O erro de Descartes



O erro de Descartes






O erro da ciência é considerar
Como um fungo, o pé de atleta. Descartes
E a guerra, uma deficiência genética incomum,
Já na filosofia se manifesta quanto falso é a guerra,

Querer alterá-lo, é ir contra a natureza humana,
O direito inalienável à exterminação completa,
A essência do universo é a solidão, 
Logo, exílio sugere alheamento e perfeição,

A solidão de quem não ocupa lugar em praça,
Nem coisa, nem lembrança,
Nem ilusória pertença celta,
Nem sensação. Quantos cacos separados,

Sinto em tudo o que sinto,
Um perpétuo exílio de vidro partido
Como quem abdica de uma nação,
De um reino de um coração que trago,

Íntegro como um céu de sol,
Feito cadinho e vidro quebradiço,
Desolação, delito, amor vão,
Existo fora, porque não quero deixar vestígio, 

Nem tão pouco alterar o gosto do ambiente
Do qual faço parte, a química do lodo e do mosto,
Não tenho esse direito, nem nada que me faça 
Desassemelhar do semelhante a mim e aposto.






Jorge Santos 04/2019
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O cérebro, não foi apenas criado por cima do corpo, mas também a partir dele, junto com ele, o coração …

Certidão de procedência



 






Certidão de procedência
Qualquer coisa em mim se parece agora mais comigo,
Pálpebras de besta, coração de gente,
Sensação de vácuo omnipresente, amargo
De boca agreste, ombros do tamanho dum touro,
Qualquer coisa em mim pressente que morro, 
Que tudo seja fantasia, asseguro que não mudo,
Não mudo as pálpebras para o peito,
Não me iludo com o que antevejo,
Desligo o passo, do real faço absurdo,
Bocejo quanto a boca pode, como forasteiro, 
Procedo a uma aceitação das coisas leves, 
Indiferente aos valores, nada há que explicar
A um defunto que seja lúcido quanto o ferro
E saiba a sangue ou o prazer que existe 
Na dor caseira, hoje é a lembrança que penetro,
Que magoa, plantei os olhos numa maçã 
Gamboa, elogio a loucura, gabo-me ao metro
De não ser do que padeço mas da cura,
Vivo com impressão que não me pertenço
Pálpebras de besta, coração de mula,
Em negrito, “New Roman” que mais se pareça
Comigo, salário mísero e sem remédio,
A gula é privilégio da embriaguez de eunucos
E eu procedo do lado duro, sobretudo domino-me
Pela preguiça …

Cego debruçado em via-estreita



Há palavras de vulgar despojo,
Pois porque o normal é dar, logo
Eu me dou, de mim próprio, tal
Como choro ou respiro e me redimo, 

Mortal despojo, nome de guerra, nojo,
Guerreiro de latão, charlatão, só de incerteza
Tenho pose chaves e certidão; desejo é
Bom-porto, Porto-bom tem Zenão,

O silêncio é absurdo e o meu espírito
Paira longe ao longo, pois já não é só o pensar
Que me foge, eu que fujo de me pensar
Morto e mudo, cego debruçado em via-estreita,

Consciente da derrota, fama é lama e o facto
De ser dissemelhante a algum outro
Espécime de peixe-monge, faringe desfeita
E traqueia, difíceis de engolir, de pesar,

Há palavras de vulgar despojo, nojo
Porém me dá a fala sem emoção, "fio-prumo", 
Por isso choro, quando respiro
De fora para dentro...e me dou,

Cego debruçado em via-estreita e oblonga,
Vivo metaforicamente falando pra fora 
E me queixo não por intenção mas por despeito,
Cedo por entre a prega do beiço, essa sim,

Autêntica, sábia, cega e verdadeira.







Jorge Santos 01/2019
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Ou eu me não chame de Antônio ...





Ou eu me não chame de Antônio,
Nem de António Manuel.

Sou o antónimo dos argumentos
E ideias, dita meu próprio coração,
Qual é a paisagem certa e a época
Do ano em que se cultiva o crisântemo,

Ou eu me não chame nem Antônio,
Nem António...Mendes ainda menos,
José Desânimo é o meu incurável nome, 
Pois é, minto como todos os doentes,

Embora tenha consciência disso,
É fundamental pra me manter são, 
Ou eu não me chame António, atento
Ao que resta de humano em mim,

Tão só, séptico diante da censura,
Quando falo por imagens, sou capaz
De falar livremente e sinto pelos 
Intestinos, com toda a sabedoria,

Ou não me chamasse eu, António
Manuel Eliseu ...











Jorge Santos 12/2018
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O mar que não tem a Lua ...




O mar que não tem a Lua,
É real não tanto quant'eu,
Nela me vejo, aquando prenhe
Ou Luar-meio e aí perco a dimensão

Do real da Lua, que praias
Nem tem, nem areal serei eu,
Sou alguém que se esconde nela, 
A pluma e o medo do lado-escuro,

Que presumo teve algum
Cosmonauta num fato preso,
Tanto me pesa ser súbdito,
De um Mundo em que "à vista",

Nada tem que se diga ser meu,
Ou só minha, quanto a maré
Da Lua é, em toda a volta eu e
Só eu, um Mar sem Lua é breu,

O mar que não tem a lua,
É porto-seguro pra nau d'fumo
Em que viajo sem nau, nem partida
Do areal onde fundeei meu reino-em-

-Meia-Lua, defunto me acho, seu
Lugar comum, bora iníquo,
Líquida a Lua, que mar não tem,
Julgo eu temer a conclusão "de-fundo"

-O Mar não ter Lua, a Lua não ter mar,
O luar ser só meu ...









Jorge Santos 12/2018
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Despido de tudo quanto sou...





Andei distraído procurando o que não via
Nem vejo, visto que sou pequeno, 
Viro o rosto pra de onde venho 
E não pra onde fui posto, 
Vejo nas estrelas o rosto, 
Não da morte mas do oposto, da vida
Pra'lém do percurso que fui, fiz nesta Terra

Outrora bela, soberba ...
Outrora viva,
Andei por aí buscando o repouso,
Não via nem vejo, a fonte do limo, 
O álamo esguio,
O negrume do teixo, da terra preta o apelo,
Das folhas mortas,

Abdiquei de ser rei,
Pra ser jardineiro "por conta própria",
Sem reino nem terreno pra arar,
Podei as rosas dos quintais dos outros
E observei pardais nos ninhos,
Nas sombras os olivais dir-se-iam deuses mortais,
Não contei quantos, mas muitos, muitos.

Há muito que desejo desertar,
Mas as pernas na beira da estrada, 
Estão sempre fora de mim e o meu coração ... lento,
Lento não dá pra fugir por aí de rastos
Admito não ter dormido todo o tempo do mundo,
Mas mesmo assim penso como se fosse madrugada
E domingo, cada vez que me levanto

Sem vida e me mudo pro outro lado da cama,
Na mesma fronha que uso desde que vim ao mundo,
Sinto um ritual de vencedor num corpo derrotado,
O que muda são apenas os sonhos que persegui
Sem sucesso ao longo do tempo
E ainda sonho sonhos que não sigo,
Acatei a derrota,

Sinto um ritual de vencedor nas asas
E nas pernas o símbolo das coisas
Que me pegam ao chão terreno,
"Rocket-man", visto que
O meu território é de ar,
Balouço-me na fronteira do tudo e do nada,
Qualquer um desses reinos me conforma,

A memória passa sem se ver, sem se dar
Sonhar é não estar presente em nenhum Destes países
Pra sempre,
Duvidar é dar liberdade ao voo ...
O plano é adormecer descrente,
Desnudo de tudo o que sei,
Despido de tudo quanto sou.














Jorge Santos 11/2018
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Subtil ….



Subtil o que sofro,
Quero sentir de outra forma pois sinto
Em forma de nada o meu querer,
Falta-me o oscilar do salgueiro ao vento,
Falta-me o sonho dentro do sonho,
-Fala-me da realidade curva e as cores,
Da forma que tem o tempo sem ter,
Em forma de álamo o meu querer …
Paisagem num quadro, uma subtileza
Em cristal, um átomo a oscilar no tempo,
O espaço, um intervalo nulo, o meu ser
Embala-me no vulgar soprar – o ar,
Poeira inquieta o que tenho e não quero,
Milimétrico eu, vulgar sopro o que penso
Ser viver neste viver sem vida, que quase 
Toco sem que me toque ela outra …
Falta-me a sensibilidade negra do corvo,
Fala-me da ausência e da conclusão do dia,
Da hora tardia, fala-me da promessa
Não cumprida, do sermão e da dúvida 
Necessária pra nos mantermos espíritas
E em forma de ar, o nosso ser sitiado,
Enfermo e em forma de nada mais 
Que ar e ar, de mar cercado e sem saída.
Quero sentir-me de outra forma que não preso
Ao corpo nem à vida, sútil ao sopro,
Subtil é o que sofro.

Sofro por não ter falta ,




 
Sofro por não ter falta,
Ausência se faz sentindo
A mesma falta, a partir
Do que não é preciso,
E só dói ao principio, 
Eu sofro por não ter falta,
Medito a sós comigo, 
Repetindo o mesmo “mantra”,
Vezes e vezes sem conta,
Ausência só faz sentido,
Quando há em uma parte
Do corpo, transição.
Eu sou um quarto do caminho,
Desconheço os fins
E a distância, a atitude
É uma doença contagiante, 
Congénita, tal como a má morte,
Estou morrendo de conteúdo,
Como morre mudo um pato,
De desmérito, pode ser fraca
E inoportuna ou tamanha, 
Sofro por não ter falta,
A felicidade é rara e falsa, a alma não
É minha …nem é dada à sorte.
Sofro por não ter falta,
Finjo, ignoro, sou feliz
Como quando se nasce,
Ausência se faz sentindo,
A morte não se sente,
Embora faça parte do que sinto,
Falta-me do voar a asa e a verdade,
Os deuses não me deram uma,
A outra não a quero,
Não me cabe escolher qual delas minha, 
Sofro de não ter falta,
Sofro de ser agora, já tarde …

tradutor

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