Espaço ponto.




A esparsa banalidade do estéril
É uma forma de dizer, insisto, estou
No que estas lagunas palavras geram
Do alento que nem certeza tem, sendo

Ou que o coração pudesse ter e quanto,
Esse esforço todo, pra dizer tão, quão
O nome meu, em garrafas de soda,
Vidro Cáustico em, ou mar aberto,

Com alguma mensagem rosto dentro,
Que fosse entendida plo tempo,
-Eu não sei ler o espaço linha-
Linha espaço, estéril e banal,

Ileso tanto como o original, o vago,
-Quando eu pensar sereno, lousa,
-Vai-valer-a-pena- Abraçarei sem medo,
A inicial loucura que tinha natural,

O aspecto desta minha máscara futura,
-Louca extravagância-espaço ponto.


Jorge Santos (29/01/2015)

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Sou feliz porque não escrevo...






Serei aviso em letreiro luminoso,
Serei nem sei se serei Afonso, Meireles
Serei, se nem ópera do Lopes Virei,
Serei sendo eu Miguel, Zé-ninguém

Serei, se o mínimo é igual ao mindinho
Como posso ser alguma coisa, destino,
Um hortal de couves no mercado do erro,
Colho o momento como se fosse um cacho,

Delicio-me com as uvas e fujo do perro,
E do dono que corre plo terreno abaixo,
Aviso aos que vêem sou, somos um cacho
Todos, quer sejamos Afonso Vieira Lopes,

Miguel Torga, Esteves Cardoso, Saramago
Zé, fazemos como se fosse sopa de Pessoas,
Um molho com sabor "suis genéris" Loureiro,
Tutti-frutti a estragão, pesticida legumes,

Fita excêntrica de metal, ferro QuerNunes Deus,
Sou feliz porque não escrevo poesia,
Só a verdade com que desvio, por escrito,
O que perpetuamente aperfeiçoo,

Do que me pertence eu criar de novo,
A minha cota perpetua de afeição ao Homem,
Não aos anjos doutra espécie,
Que não sendo não sou nem busco

Sou feliz porque não escrevo poesia,
Vivo ao-de-leve e com relevo de ilusão
E de sombra, essa que projecto no chão,
Nada mais me mede a não ser o meu Adereço,

Neste teatro elucido, em que mostro o que penso
Sou feliz porque não escrevo poesia,
Eu penso...



Jorge Santos (01/2015)

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Tudo isso me dói e odeio...





Estoiro-me, estoira-me a cabeça,
Dói-me a fala e a falta de ar,
A pressa, estoiro-me com a breca
Dos cantores de opereta bufa patética,

Estoiro-me com o desprezo de obra
De Otelo, estoira-me pagar eu dinheiro,
Pra editar esta obra em grego,
Estoira-me o destroço e o desdém,

Estoira o réveillon e os desejos,
As balas estoiram em Sarajevo,
Estoira o sangue sem glória, a peça
De Ionesco, o fresco de Pompeia,

Estoiro os miolos, tentando este
Mundo que me leia, antes que seja
Meia-noite e meia e a lenha apague,
Na sacristia de encastrar do cura frade,

Dói-me a fala e a falta de ar,
A placa cai-me quando como,
Sou um gnomo no outono, austeridade
Sem nome do forno do pão no prelo,

Estoiro-me sem qualquer razão,
Abençoado foi apenas Moisés
E o seu cão, estouro-me eu, de vez
Mas é, pois agora mesmo soube

Que o toiro de Noé era castrado
E a vaca estéril da arca civil,
Incrível a primavera e o florir,
O trigo amansado plo suão vento,

Incrível é que seja supérflua,
A nossa criável criatividade,
Criamos as mais bizarras obras,
Quem sabe se inventámos a lua,

Incrível que seja supérflua,
Uma contrariedade, faltam arestas,
Ângulos rectos, dizem os "experts",
Uns outros comentam, pena seja plana

Ou parecida com um queijo
Branco- estoiremos então a lua
Antes que caia na nossa cabeça dura,
Dói-me a fala e a falta de ar,

Dói-me o Adeus da verdade, do arrojo,
O estoiro da democracia verde e o Arcanjo
Gabriel,tudo isso me dói e odeio,
Mas amo…

Jorge Santos (01/2015)
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Louros de poeta...




Às vezes mesmo a mim pergunto,
Que é feito do paraíso tão falado,
Tão só, sem mim, que sentido tem,
Terem as casas tantos lugares vagos,

Carros caros, paredes caiadas,

E tão poucos bares no paraíso,
Pra beber absinto e um numero, cada vez
Menor, destes poetas malditos, ébrios,
Dum peso nas asas, não só carrego

De penas, mas todas desta humana
Indigestão, que é ser poeta rasco,
De poucas dezenas e um pouco
Menos que papel higiénico cagado,

Pra usar na sanita dos Homens,
Mesmo desses soldados rasos, rudes
E parvos, como o crude de casco,
Que impermeabiliza navios de chumbo,

De cor de mastros tricolores de guerras
Perdidas,às vezes pergunto a mim,
Que é feito dos lugares maravilhosos,
Que havia no mundo e eu no fundo

Deles, fazendo parte de mim esse
Mundo de verde azul e alaranjado,
Que é feito do fundo da garrafa,
Donde via o paraíso como astrónomo

Da alquimia, da natural alquimia,
Minha mesa com flores e frutos,
Meu Deus que é feito disso tudo,
Responde, se és mudo, porque me deste

Penas e não me fizeste mudo, cego
E carrego de carroça burro, burro besta,
O tal sem lugar vago no paraíso
Dos humanos, nem na gruta do menino,

Às vezes mesmo a mim pergunto,
A razão dum carro de bois qualquer valer,
Mais que um tratado sobre perucas,
Ou verrugas de pensadores, feias

Disformes ou de diarreicos escritores,
Psicóticos como eu, os louros...


Jorge Santos (01/2015)
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Tão livre quanto prisioneiro...




Tão livre quanto prisioneiro,
Canteiro e cantoneiro de mim
Eu sou, o engasgo de um fuinha
Felosa, pardal e ninho ou a corça,

Socialmente considerado
Um idiota, no que eu digo
Da minha boca sai um paladar
Ambíguo, á sorte, infinito,

Estou pensado quanto confuso,
O repouso é um suplício,
Mas traz um “rendez-vous” ,
Como uma coisa estranha,

Que rende o que consinto,
Tão de livre como de prisioneiro,
A sorte é um cadinho ao quadrado,
Doce que se farta, quanto amargo

Na boca, fictício. Rebolo-me
Por sargetas em busca de equilíbrio,
Que não tenho na peruca,
Um dia conto fazer um folhetim na radio,

Sinto-o como um direito, simplesmente
Um direito Cível, como se fosse
Consciente de uma consciência
Radiofónica e digital, total…

Não pode haver o mesmo Deus,
Em todo o universo, não pode,
Acabar-se-ia o mistério,
O destino seria um tremoço,

Ou uma batata frita em palitos,
Mal digerida ao almoço,
Mas que pode haver existências
Paralelas, está o meu coração cheio

De provar, tão livre,
Quanto prisioneiro…

Jorge Santos (01/2015)

É fácil apagar pegadas...


É fácil apagar as rasas pegadas,
Difícil, porém, é caminhar
Sem pisar no chão a sombra
Nossa, cúmplice do corpo,

Não a podemos deitar fora,
Nem a deixar no chão, onde mora
E onde a pisamos, está
Acostumada a ser humilde, humilhada

No equilíbrio quasi perfeito,
Entre o vazio da alma
Minha e o chão despojo, aconchego
Do nada que passo sem rasto,

É fácil apagar as pegadas,
Mas ninguém dispõe flores,
Onde não há vasos nem berços, só
Terra estéril, solo e pedaços

Que juntados não fazem um paredão,
Mas cabem justo numa pegada inteira,
Sob os meus velhos sapatos
Com buracos tão junto ao chão

E aos ratos da sola na biqueira,
É fácil apagar meu rasto,
Cúmplice do que nada sou,
Mais fácil é apagar o que nada faço,

Pra mudar este reles mundo meu,
De vaso ou calçado
Ou de uma simples menção na lápide,
Do cemitério público, junto aos legumes,

Sem vagas nas altas campas, apenas nas rasas,
Ignóbeis, estúpidas, esburacadas no chão,
Onde morro sempre à hora da "siesta"
Dentro do roto sapato que me não

Dão e nem é meu, o outro
É do ladrão que o roubou do público
Careca e apagado…





~



Jorge Santos (01/2015)

Por me saber maior do que ele é...






Espero saber Ele que existo,
O mundo aí fora que me exclui
Espero sim, um destes dias,
Me dar o êxito o que puder, cru

Não o que eu pedi, pois nada
É tão indigente, como este país
Por decreto, que e nem um só dia
Esqueço, fechado na malha direita

De uma meia chamada fracasso,
De tudo o que rui e desfaço,
A sorte não me deu a escolher,
Entre o peso mínimo e o Mundo,

Espero saber Ele que existo
No mindinho da mão minha s’querda,
Porque anão me sinto, nu
E triste mais não… mais não

Que esta triste, diária, genética
Visão que nem na lua toca,
Quanto mais no sol incerto,
Que nem no peito me brilha

Quanto menos no posto de trincheira,
Que ocupo nesta guerrilha,
Que me acusa de colaboracionista,
Sem ter em conta o ardor,

Com que me empenho na liça,
Contra cavalos de vento
E os hipócritas da nação, Troia
Do fingimento da negação

Que existo e sou isto tudo, sei
Até à unha do mindinho da mão
sem luva, com que esbofeteio
este coração insignificante médio,

Irrito – me com a razão e o agrado,
Não quero a avaliar
Os meus enganos segunda
Mão, pessoa ou opinião,

Mas espero saber Ele que existo
Na tara perdida
Deste corpo e desta alma sem graça,
Onde o mundo não cabe doravante,

De tal forma o dispenso,
Por me saber maior do que ele é…









Jorge Santos (01/2015)






Atrás de mim Gigantes












Atrás de mim só gigantes grandes
Por quem perdi a vista a nitidez do andar,
A confiança e o tamanho, na noite
Chorei e ainda choro o antes,

Quando perder não era tanta dor
Nem cobiçava daqueles grandes
O ringue nem a subida paliçada
Atrás de mim grades gigantes, Titans

Calçadas e isso não me faz feliz,
Faz-me pequeno, só, raiz d'arroz
Igual a tudo e tantos, a sequela é aquela
De quem é pequeno também vê ama e sente

De pontos com vistas altas e com outros matizes
E mastros imaginando-se grande e mais que desses
Gigantes mortos, mas há que pesar
Na morte as almas às vezes às deles,

Iguais às nossas, Deuses amadores
Cosmonautas de dores amores e Diferenças
Tamanhas tantas...tantas raízes
De fé cravadas em terras dantes

Em campas caras, de doutos gigantes









Joel Matos (01/2015)




Porque poema és Tu








O seixo é poema, sei que
o poema é isso...

Porque o poema é seixo,
Perdi por aí qualquer coisa,
Como pedra no seio da rua
Que piso e desconheço,

Se tivesse percorrido
Outra calçada,
Teria reparado não,
Que as pedras tinham nome

Gravado, Boca e ventre,
Se reconhecem,
Umas às outras,
Pelo toque da pedra,

Porque o poema é seixo,
Lida comigo, acusa e regressa
Ao chão depois duma vida
De perda, ao sabor da terra,

O tempo não muda,
As pedras no lugar da rua,
Elas sempre estão, estarão
Em nós, debaixo do nosso andar

Coxo, há que procurar
A nossa muda pedra,
Mudar de enxerga e rua,
Se isso nos obrigar,

A procura…
As pedras da rua
São quem nos leva às vezes,
Até à falsa lua,

Quando voltamos, já não somos os mesmo,
Mas sou eu senão tu, quem mais
Deseja,
Passar na ruas dos seixos,

A tal que demais se conhece,
E rejeita (parece)
Porque o poema é sexo










Jorge Santos (01/2015)









Canção Cansei









Sei do caminho que acalco,
Cansei,

Sei tão bem que distancia
Vai, da imaginação à feira,
Nunca imaginei eterno o que sei
Dos bocados que enterro

No chão, da paixão de ser
Eterno, o meu caminho de terra chã,
Agora sei que distancia,
Vai do que quero crer, ao esquecer,

Embora o meu peito não tenha
Métrica, a minha certeza
É que a distancia aumenta,
Os momentos que passo a sós

Comigo, na minha boca
Nunca imaginei assim de cadeira,
A ressaca dum caminho,
Até à tasca mais chegada,

Chegado à "venda" acabarei
De me perguntar porque vim,
Que não quero estar ali,
Longe da paixão que consumo,

E consome vivo, não só a mim,
A ti também canção, cansei...








Jorge Santos (01/2015)




Foi Assim Será





Não sei porquê bem,
Todos esperam que
Digamos alguma coisa,
Embora nem por isso (ás vezes)

As palavras são as mesmas,
De há cem, duzentos anos,
Apenas as cruzamos doutro modo,
Na presunção de dizer diferente.

Todos os nove anos,
Elas dão fruto, como a natureza,
E nós não,
Não sei bem como nem porquê,

Tememos ser fortes,
Como a mesma,
Embora tremamos no peito,
Como uma folha ao vento,

Que tem todas as certezas,
E não espera,
Que esperemos por que ela,
Assim seja.

Às vezes não sei bem porquê,
O sentir assim, de mim e você











Jorge Santos (01/2015)




Se por tempo pouco, voltasse a ser novo.




Se por tempo pouco, voltasse a ser novo,
Queria ter no rosto o fundo da alma exposto,
No oposto sempre eu vivi e morro,
Sem ver no espelho o que sinto ou senti,

Se por breve voltasse a ser novo,
Seria o que sempre sonhei ter, o tempo
Pra sonhar o sonho de voltar a ser
Jovem com as barbas russas de velho

Ermita, rugoso e sábio por dentro como lixa,
No coração um olhar de moça virgem,
Surpresa por todas as fases,
Que a vida dela tem e do gozo na lisa pele,

Aposta na face como um troféu,
Resgatado de Atenas ou Hollywood.
Se por breve voltasse a ser moço,
Jamais quereria ter a braguilha no bolso,

E as ideias poucas que por estes dias,
Têm os nascidos velhos por dentro,
Todavia novos, (por pouco) como carcaças,
Remotas máquinas de olhar distante,

Com pouco miolo sob a fina côdea,
Se por tempo pouco, voltasse a ser novo,
Não quereria definitivamente ser carcaça
Seca, mas sim pão daquele que se come velho,

Mesmo com bolor por dentro, como o queijo.
Se por pouco voltasse a ser novo,
Voltaria o rosto pro sol-posto, lá seria
O meu novo lar e esqueceria o outro,

Onde cresci suposto filósofo sem carreira,
Nem clareira, poeta hipócrita, o que sobrou
De mim fica onde ficam todos no fim,
Onde sempre vivi e onde morro,

Se por tempo pouco, voltasse a ser novo...











Jorge Santos (01/2014)

tradutor

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