Não tenho pressa …




Não tenho presa nenhuma dúvida que seja,
Não tenho presa dúvida nenhuma a mim,
Absolutamente nenhuma à solta dentro
Do corpo, nas solas as mãos terminam
Onde começam os quatro sentidos d’outros,
Sinto definitivamente não ser ninguém
Neste mundo, demito o tornar-me nesse
Rei do vulgar e do vulgo tal e qual morto 
Em lugar findo deste reino onde não reino
E sem dúvida não é meu, demito-me inda
Do peso de sentir por todos a lua que seja
E o mistério dos braços prenderem o corpo
À alma e das gotículas de geada os dedos,
Quadrados cotovelos e o coração absoluto
Zero (noves fora), prefiro as solas aos sapatos
Que alego serem meus e depressa, antes 
Que dêem pla falta deles manhã cedo,
Antes do começo dos outros e meu eterno
Delito, término e gémeo falso do infinito,
Qualquer dúvida fica inteiramente entre
Mim e a fala e até que, do falar m’esqueça, 
Não tenho pressa …

Em Parte, confesso-me …








Confesso-me contínuo do espaço,
Tudo que faço, fazia dantes,
As pontes passam e eu sem
Mudar d’sítio qu’me sento, qu’faço 
Do rio que passa por debaixo,
-Pedra, papel ou tesoura-
Pobre d’mim, supondo-me ponte…
Confesso à margem “leste” optar
Por esta, mais jovem que a 
Outra, longínqua me parece,
Descontínuo é o rio que m’atravessa,
Normalmente caminho sobre ele,
Tudo que faço, fazia dantes,
Continuo alternando o que me 
Define, erro é não reconhecer
O que me impele que atravesse,
O motivo, tão somente porque 
Da ponte não passo, ela por mim sim,
Tempo é, de voltar a ser rio,
Cingindo-me às margens onde minhas
Mãos germinam, em espaços e rochedos
Contíguos à dor, ao sofrimento, 
Conforto-me na tristeza, amo
Tanto quanto odeio a matéria de que faço
Parte, confesso-me feliz com o pôr-do-sol
E triste como um entardecer,
Continuo a regular-me plo visível e o que me
Explica cultivo debaixo de “totens” e pontes,
Tudo que faço, fazia dantes em parte,
Confesso-me …



Em Vila, Praia ou Âncora …





Não fosse chuva eu já ser, 
Mar não me faria …
Vila, praia ou âncora forte,
Trafalgar, “V de vingança”, 
Caio com’a chuva cai
Sinto-me não gente, 
O que quer que diga
É brando leve … leve,
Há quem louve ou ignore
A chuva, mesmo a séria
À janela e ao algeroz da telha,
Mas à chuva caio em mim,
Persigo o ritmo da que cai,
Branda e leve leve e pura,
Fura-me a pele e a mente,
Sinto-a tanto, sou gente
Ao d’Leve, leve branda a pele,
Que m’enleve o vento,
Levo o tempo, imortal
Me fez, m’faz chuva e chover
Fará outro e outros, chuva 
A ter, valsa da chuva, valsa
Dos monstros, angústia
É sentir peso, a chuva não dói,
Caio com’a chuva cai,
Sinto-me vivo e leve, 
Chove com paixão,vejo
No mar em frente uma ilha
Lá fora a barca, o paúl ao mar
Inútil lhe parecia, um braço,
A espuma e a praia, rente
À minha saudade parceira
E uma tarde mansa de estar
Na beira do que sinto,
Serem as gaivotas tantas
Por mim chiarem,
E ao meu ritmo d’galgo,
Talvez sentindo paz
Nesta minha dor, algo
D’mar partindo, mar de s’achar
Entre a espuma e eu a dançar
E o que a praia pintada d’branco
Me transmite em ondas
De ausência fria, chove em mim,
Tal e qual em gente,
Caio com’a chuva cai 
E o quer que diga sinto,
Ou é a frio ou lava rubra, 
Faúlha quente, mas sempre,
Sempre caio, com’a chuva cai,
D’enviesado e d’frente,
Brando e leve, fura-me a pele, 
Fosse chuva eu ser,
O mar me faria em temporal,
Faísca, pranto, brado e
Branco quando quebrado, 
Em Vila, Praia ou Âncora forte,
Trafalgar, “V de Victória”
Ou morte …

tradutor

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