Cedo serei eu




Cedo será o fim da fera, sinto-o
Sofro e sou-o, meço-me salvo-
-Erro p’lo destino, é curto o postigo,
O fio, a fita, trágico o pavio,

Antecipo tudo isso e escuto,
Ouço o sopro como espécie
De grito rouco ou sufoco
Expulso em vapor e fumo,

P’lo meu peito atómico,
Prova do exótico, defunto
Me pressinto e prossigo
Acossado assim como vim,

Sem causa nem fim,
Nem castigo futuro,
Foi o que vivi que me viveu
E o postiço era eu e sou,

Longa era a vida em mim,
Quem a fez minha se cansou,
E eu me cansei do lugar
Que em tudo lembra um lar,

Minha casa e o quanto me dói
O fim de uma era que se foi
Depressa e o que me pesa,
Revolta súbito, de facto sim

Qualquer coisa há de errado
Em mim, uma espécie d’sombra
Um cansaço, um medo sem dor
Nem causa que m’causa náusea,

Horror, desespero seja o que for,
Não me dá sossego, entre
O que é verdade e a negação
Do final de tudo … cedo será,

Serei eu o morto.

Jorge Santos (08 Março 2024)

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