Ao menos que sobre o antes.


Ao menos que sobre o antes,
Se a própria Terra ainda chora,
A má memória das suas gentes,
ao menos q’a minha fé nelas, não morra

Ao menos que só sobrasse o antes,
Porque manhã-cedo haverá guerra,
E acabemos por colher as únicas flores,
No morro ond’ausência de Deus já mora.

Ao menos que sobrasse do ontem…
A liquidez do dia, a noite anuncia mau tempo, vento,
Má sorte ao pobre que nem lar tem,
E um pote d’ouro, á porta do nobre convento.

Ao menos que sobrasse do ontem
Pão, quando não havia fome de trigo,
Agora as florestas entristecem,
Por não morrerem de pé e inclinarem cedo, ao machado.

Ao menos que sobrasse do inda’ontem,
O não haver medos.
Pois dos tempos qu’aí vêm,
Ecoam já os gemidos,

d’outros bem mais antigos.

Jorge Santos (02/2012)

Nem sei que vento torto eu ainda persigo...




A ideia de viajar seduz-me
Como um pecado,
Tenho os cheiros e sons a lembrarem-me
Em outro lado,

Como uma aragem fresca,
Que me invade quando penso
E é então que um torpor de Coca
Acalma este ardor intenso

E esta Sede de liberdade,
Mas continuo sedento
Por dentro, a intranquilidade
Confesso-a ao vento leste, lesto…

E no pensamento viajo…viajo
E no cansaço eu repouso,
Apesar d’o chão ser rijo 
E distante da sede a agua e o poço,

A mudança das horas e dos dias
É uma penitência e um castigo,
Como se fossem estrangeiras,
As horas. O tempo cego

Está sempre presente, ausente o meu coração
Marujo sem porto, nem abrigo …
E no pensamento viaja a minha solidão,
Sem saber do torto vento que eu ainda persigo.

Jorge Santos (01/2012)

tradutor

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