Tudo o que pudesse ter sido eu não ...




Tudo o que pudesse ter sido eu não fui,
É preciso achar querer ser coisa
Alguma, para outra uma coisa ser sendo
Tudo o que quis foi aprender a ter
Uma coisa qualquer, um coração

Que foi e deixou de ser, tivesse-o
Antes de o pensar, tê-lo-ia esquecido
E procurar tê-lo antes de o achar
Duvido, se o fixar ou deixar abalar pra um
Qualquer lado, menos no meu peito

Que falta e ao encontro que o fez 
Parar ontem depois e amanhã ao meio-dia
Em ponto, tivesse eu posto relógio
No pulso, não o tivesse esquecido
Na cabeceira da cama, na mesa

Tudo o que ele tivesse sido, eu não fui
Ao encontro e perdi tudo quanto 
Me doi ter porque não tenho, nem coração
Nem peito, sou uma incompleta coisa
Nenhuma se alguma coisa fui

Foi pretexto, numa mão tinha o futuro,
Nas minhas duas lembro o então 
E o movimento com que moldo
E torço o peito ao tentar dar
Um nó solto ao fio com que falo,

Não ao que vai de mim tão pouco,
Entorto-me como uma colher
Tanto, não faz sentido o que teimo
Haver no fundo e colhê-lo não
Do covo, mas do cimo e da borda,

Deselegante o que tento dizer, 
Extingo o que se distingue ao apontar
Um dedo da mão que tudo vê
Surpreendente é o pouco que sinto
E esquecer no momento de prever

E ser ultrapassado pelo que quero 
Dizer ao atacador do sapato esquerdo,
O que eu sou ao tal adivinho bruxo,
Dando corda ao relógio de pulso,
Tudo o que pudesse ter sido eu não,

Sou uma rasa, incompleta coisa...



Jorge Santos (03/2016)
http://namastibetpoems.blogspot.com



1 comentário:

Suzete Brainer disse...

Jorge,

Um Poema Grandioso que ecoa na nossa alma,
a profundidade do avesso das coisas, no
grito do Ser e não Ser!...

Parabéns!!

tradutor

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