Há palavras de vulgar despojo, Pois porque o normal é dar, logo Eu me dou, de mim próprio, tal Como choro ou respiro e me redimo,
Mortal despojo, nome de guerra, nojo, Guerreiro de latão, charlatão, só de incerteza Tenho pose chaves e certidão; desejo é Bom-porto, Porto-bom tem Zenão,
O silêncio é absurdo e o meu espírito Paira longe ao longo, pois já não é só o pensar Que me foge, eu que fujo de me pensar Morto e mudo, cego debruçado em via-estreita,
Consciente da derrota, fama é lama e o facto De ser dissemelhante a algum outro Espécime de peixe-monge, faringe desfeita E traqueia, difíceis de engolir, de pesar,
Há palavras de vulgar despojo, nojo Porém me dá a fala sem emoção, "fio-prumo", Por isso choro, quando respiro De fora para dentro...e me dou,
Cego debruçado em via-estreita e oblonga, Vivo metaforicamente falando pra fora E me queixo não por intenção mas por despeito, Cedo por entre a prega do beiço, essa sim,
Andei distraído procurando o que não via Nem vejo, visto que sou pequeno, Viro o rosto pra de onde venho E não pra onde fui posto, Vejo nas estrelas o rosto, Não da morte mas do oposto, da vida Pra'lém do percurso que fui, fiz nesta Terra
Outrora bela, soberba ... Outrora viva, Andei por aí buscando o repouso, Não via nem vejo, a fonte do limo, O álamo esguio, O negrume do teixo, da terra preta o apelo, Das folhas mortas,
Abdiquei de ser rei, Pra ser jardineiro "por conta própria", Sem reino nem terreno pra arar, Podei as rosas dos quintais dos outros E observei pardais nos ninhos, Nas sombras os olivais dir-se-iam deuses mortais, Não contei quantos, mas muitos, muitos.
Há muito que desejo desertar, Mas as pernas na beira da estrada, Estão sempre fora de mim e o meu coração ... lento, Lento não dá pra fugir por aí de rastos Admito não ter dormido todo o tempo do mundo, Mas mesmo assim penso como se fosse madrugada E domingo, cada vez que me levanto
Sem vida e me mudo pro outro lado da cama, Na mesma fronha que uso desde que vim ao mundo, Sinto um ritual de vencedor num corpo derrotado, O que muda são apenas os sonhos que persegui Sem sucesso ao longo do tempo E ainda sonho sonhos que não sigo, Acatei a derrota,
Sinto um ritual de vencedor nas asas E nas pernas o símbolo das coisas Que me pegam ao chão terreno, "Rocket-man", visto que O meu território é de ar, Balouço-me na fronteira do tudo e do nada, Qualquer um desses reinos me conforma,
A memória passa sem se ver, sem se dar Sonhar é não estar presente em nenhum Destes países Pra sempre, Duvidar é dar liberdade ao voo ... O plano é adormecer descrente, Desnudo de tudo o que sei, Despido de tudo quanto sou.