Há palavras de vulgar despojo,
Pois porque o normal é dar, logo
Eu me dou, de mim próprio, tal
Como choro ou respiro e me redimo,
Mortal despojo, nome de guerra, nojo,
Guerreiro de latão, charlatão, só de incerteza
Tenho pose chaves e certidão; desejo é
Bom-porto, Porto-bom tem Zenão,
O silêncio é absurdo e o meu espírito
Paira longe ao longo, pois já não é só o pensar
Que me foge, eu que fujo de me pensar
Morto e mudo, cego debruçado em via-estreita,
Consciente da derrota, fama é lama e o facto
De ser dissemelhante a algum outro
Espécime de peixe-monge, faringe desfeita
E traqueia, difíceis de engolir, de pesar,
Há palavras de vulgar despojo, nojo
Porém me dá a fala sem emoção, "fio-prumo",
Por isso choro, quando respiro
De fora para dentro...e me dou,
Cego debruçado em via-estreita e oblonga,
Vivo metaforicamente falando pra fora
E me queixo não por intenção mas por despeito,
Cedo por entre a prega do beiço, essa sim,
Autêntica, sábia, cega e verdadeira.
Jorge Santos 01/2019
http://namastibetpoems.blogspot.com
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