Minh’alma é uma floresta







Minh’alma é uma floresta escura, avara, negra,
Onde gosto de caminhar sozinho, um achar,
Por veredas, nunca caminhos, por outros
Usados, de preferência à luz de velas,

Figuram afastamento, não só
Do lugar, mas de algo mais fundo, audaz
Que a posse, a oposição dos dedos
Ou o sítio pra onde vou, me separa

Dos lobos, os alinhamentos de
Estrelas são como prefácios extensos
Fixos, a minha visão, prévias telas
E os espaços centos, seja do que for,

Sinto qualquer coisa cavada, um
Desatino que não é meu e no entanto
Sou eu isso tudo que liga o céu levantado
Ao mundo, sou os que aqui estão,

Os que erguem a mão ao infinito
E o sentem da copa da floresta, a direito
O “que-se-deixa-ver” versus a ideia
Que Dele se tem, o meu ser são

Apenas ramos, braços donde a natureza
Fala, falha-me a noção de imenso,
Falta-me a metamorfose adiada,
O formar parte do vazio, “performer”

Do nada, a consciência do cosmos, a folha
Em branco e o “dente de leão”, o voo
Do dragão que nos há de levar a Nimas,
Titan e além do incompreensível

Vão da porta, baloiçando sonhos velhos,
Velhos, velha a luz das estrelas e no céu
Veredas, trilhos, caminhos, sendas, gesta
É arvoredo, matéria análoga, consciente

Minh’alma eu, floresta de corpo e mente,
Agora é sempre, sempre é agora … e o
Eterno compósito que da nossa alma vem,
Detém, contém, dita e mora.



















Jorge Santos (16 Janeiro 2021)


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