O Homem é isto...







A natureza do homem é isto,
Um número primo que se fez vida,
Contra todas as probabilidades existe.
Como vontade não se realiza, provoca-se
-Digo eu, pra que me perceba, depois

Insisto no horizonte subtil, querido
Existo em mim na mesma nomenclatura
E na mesma derrota curvada, abandono…
Os antepassados que exprimo, calo
E desnecessariamente abafo

Acredito no propósito belo,
Da natureza e no homem convicção,
Composto de êxitos e fracassos,
Sei que depois do que fomos, nada é nosso,
Nem mesmo o coração deitado,

A natureza do homem é isto, algo
No meu sorriso e desabafo,
O descambar de impérios vistos,
E qualquer coisa na vontade,
Parecendo coisa alguma,

Mas que se vê ao longe,
È emoção, é vida, canta-se,
 (e encanta quando se encontra a si)
O Homem é isto...







Jorge Santos (11/2014)






O frio sentir do meu rosto.






Qualquer coisa eclode em meu dormir,
Um som extenso, intenso, estrangeiro
Entra p’la noite e em mim adentro ,
Toda’noite calada, excita meu sentir

De corvo dileto, que coabito na noite, visitante
Do mau agoiro, no sangue-frio da alma,
Qualquer coisa rodeia meu dormir,
Angustia, tragédia, danação de viúva morta,

Do passadouro do Pilar comum da vida,
Vem um rumor oculto, quase choro, balido
Vazio de rostos e sentidos de quem não vive,
Quantas vezes penso fugir, eu preso no limbo,

Do que eclode em meu dormir e peso
O som, peso a angustia, em mim criada…
-Criado velho, tal o meu anseio arcaico,
Da transfiguração, da maldição infinita,

Qualquer coisa de roda no meu dormir,
Um prazer infame de gestos frios, carentes,
Parceiros do inatural som, que em mim não dorme,
Como a noite tardasse em apagar o mundo,

Assim meu estranho coração apagou, dum todo.
Gostaria de sentir o que os outros sentem, a meias,
E eu mesmo sentiria, veias minhas
Nas coisas que digo velhas, frias.


Parecem queimar como bagaço ardente,
Na verdade é uma maldição,
Aquilo que carrego desde que travisto,
No espelho, o frio sentir do meu rosto.




Jorge Santos (11/2014)


As Estrelas,os Estrôncios e os Sonhos...






As Estrelas, os Estrôncios e os Sonhos.

Gosto do que gasto, duma dúvida suposta,
À luz movediça que gasto, forte e revessa,
Passa, baça Pessoa, inquietação que gasto,
Gasto o tempo, gasto o grito instinto, rezo
Egrégoras, aflito, inatural dantesco, Freud e sonho.

É dessagrada a mudez minha e a nudez báltica,
Da caliça e da estátua grega, cimento sacro,
Sacros meus rins e varizes espessas, espicaçadas,
Gosto quando m’aposso, sem possessão, d'Isolda,
Que se lixe Pessoa, chega, libido meu, viuvez,

Estive triste e contente duma vez, alheio a tudo…
A montanha d’m’achar, mas duvido que me procure,
No caminho em curva, pra recordar Caeiro D’andas,
Ou mesmo o rebanho sem desejos, Reis, páginas tantas,
Atraiçoaram-me, chega, d’egos, mitos e Campos,

Estrelas e Estrôncios, calor súbito que não dura,
Amor que se ergue e declina num ápice, nem lembro,
Fixado na emoção de reaver o que a minha jugular
Interna pressente, “O deve e o haver” da dúvida
Convertível em cinza, - antes fosse, lírica a areia.

Dos mares que não sendo, são três, engoli um reles,
Desagradável sabor a vagão, a fumo, -Oh Deus meu…
Das estrelas estacionadas, dos estrôncios veios
E dos sonhos vãos, larvais, lavados, gosto a gasto.








Jorge Santos (11/2014)








(imagino que'inda o amo)





 (imagino que ainda o amo)

Sou indiferente ao homem,
Homem -  cigarreira, crime,
Sendo o homem uniforme,
Assassino, tenente,
Insulto, júri e juiz,
Carreira de tiro, ódio,
Homem Adamastor anónimo,
Homem dor sofrimento,
Homem carcinoma,cisão,
Homem bacio grosseiro,
Homem extinção cão de fila,
Ionesco vendido em pilha,
Lição à mostra no e-bay,
Homem vasilha, bacilo,
Homem televisor ecran,
Reagente tardio e temente,
Homem tardo baço demente,
Homem sem tino cegueira,
Bosta de cavalo crua,
Homem carroceiro de rua,
Destino curvo contra-mão chulo,
Inútil frio suicídio esgar,
Desenquadrado delito,
Convicção conveniente,
Amordaçada proveta,
Proxeneta prostituto,sarjeta,
Para-brisas chiante,
Invertebrado sifrão,
Broccoli  in-victro,  
Sangrenta raiva de cão,
Sem carácter, vinho acido,
Cínico afronta canseira,
O homem confronto,
Barreira, homem sifão,
O criado ultramudo e provisório,
Servo caseiro despojado,
Espargo lácteo, vazios…vazios

Tenho uma fome dantesca,
De ingrediente queimoso na língua,
Do frenesim da orgia, do romance de cavalaria,
Do Romanesco sermão da montanha,
Do futuro se ind’existe, do arrojo,
Da Harmonia de romã tinta cheia,
Do autor, da Justiça intransitória,
Pero sadia e dum pero sadio também,
Do despojamento da alma, vagão,
Do intransigente, do sânscrito, do Incriado,
Do instigante, do intrigante, da invenção,
Do confidente e da confiança,
Do homem cor tição, homem braseiro,
Homem químico, homem gerador,
Homem paladar, homem pimenta,
Alcunhei-o eu de Godo, druida, intenção,
Estrela, magia, alquimia, poeta, visão,
Homem arrepio, não de frio, balada, canção,
Para-raios vivo do céu, aviso, homem Actor,
Homem praia, tinto arroio, adivinha,
Ernest e o subconsciente que o sente,
Homem elefante, disfarce, mão cheia,
Gente..quem dera..quem dera

Sou a metáfora da Mata Hari agente,
A liça do cancro do homem morto,

Nada me interessa, nada disso, nada sou
Transito roubado ao penhor de um curioso
Homem quási-morto, qu’inda em mim vive
E noto - imagino que ainda o amo-


JORGE SANTOS (11/2014)

Sou um homem mau...











Sou um homem mau,
Uma criatura vil, doente
E a malvadez não se trata,
Desmente-se (no dizer de Dostoiévski)

Tenho uma raiva espetada,
Bem no fundo de minh’alma,
Em força bruta e ruim culpa,
Que não apagarei do carácter.

A razão, também ela me culpa,
Corta-me tal vidro liso, com a raiva
Dos diamantes rijos,
Mas não me trata…não me trata

Nos poros goros da minha alma
Sem regra, se esta nega a lapidação e é negra,
Como o diamante que a corta,
(Tanto melhor se o mal piora)

Corta fundo e rude,
A minha garganta secreta, seca, cortada à faca,
Segregada a raiva que venho colando à face
Que envolve minha inteligência infecunda.

Não é razão suficiente ou profunda,
Nem ela tem a culpa toda,
Pra minha garganta, pouco culta, sangrar
Da raiva q'esta alma mea-culpa segrega.

A culpa rasgada é do meu esforço,
Que não brota diamante melhor,
E a razão bruta, é ter a
Raiva pegada ao nó do arcaico cinto

E no circulo desta boca…
-Sou um homem mau-










Jorge Manuel Santos (10/2014)





A única felicidade leal, é a felicidade dos outros...



A única felicidade é leal até se extinguirem
As sensações que leal, a fazem ser única e una
No extremo, a dor crua e o sofrimento
Que depois de deixar de ser, não passa

De um traço na testa, cansaço e no cabelo o branco
Cinzento. Bastava o coração envolver-se de bem
Por inteiro, para a felicidade ser permanente
E minha e mostrá-la-ia no olhar e no pensar

Meu, a toda a gente. Sou feliz porque nada sei,
Preguiçoso pra perguntar a quem egoisticamente
Toda a felicidade humana e única tem, ao louco e ao actor.
Do que fiz, sem saber na consciência, da emoção,

Nada soube, porque nesse tempo não fazia sentindo
Sentir com um coração que se reconhece, sem verdade,
Desapareceu subitamente em mim e acabou profissão,
Fé e única maneira de equilibrar o corpo num só pé,

Equilibrista de sentir coisas novas e novidade nas velhas,
O olhar dos outros sempre me fascinou e a alma
Deles, à qual facilmente renunciam, como um frete
Que não têm de carregar a vida inteira e desde cedo,

Acedo a estas, particularmente quando infelizes por dentro
E o facto de existir no sentir de todos, como hipócrita
Acalma-me a dor de não ter nenhuma, elevando-a
Ao expoente máximo em que medito sereno, como um gato,

Sobre a felicidade e me dedico a corrigir recorrendo,
A falas de felicidade pequena – integro-as nos outros
Leais sonhos que tenho dentro de mim, em sensações
Que depois de deixarem de ser não passam disso,

Sensações de estranha felicidade e resignação
Do meu coração nulo, ao eterno, ao estranho dia.
Acabará por fazer sentido antes de acabar sendo regra,
-Uma vida anónima de não verdade, de não vida-


Jorge Santos (10/2014)

Que há, pra'lém do sonhar meu...




Que há, pra’lém do meu sonhar, que m'encandeia
Sem que se me acabe no sono, o mito
De que sou eu criado e suposto dono,
Que há pra lá do sonhar meu, no trilho

Sem asfalto se eu cego e mudo, não mando
Naquilo que se diz ter saído da cadeia
Ou de outros menos mundos, visão. Perdido
Na solidão, estrangeiro no cais, na vida.

O que há para lá do sonhar com que lido
E o saber meu, não alcança nem m’afasta,
É vago, ligeiro e mudo, quando vejo, já era,
Abstracto como um sonho ocultista, perdido,

Parado e branda cal, calmo
Nada. A eternidade? O ar…?
Que há para lá do sonhar e fulge e aflige,
Meu não é, nem me completa, nem m’contenta,

Contemplo-me eu, da alma
E mando parar na noite esguia
O Cego louco, que sou eu, urdi
Os sonhos e o que urge, m’encadeia…







Jorge Santos (10/2014)




Longa é a noite em mim...





Longa é a noite em mim,
Os Lugares se me afiguram
E eu perdido na noite escura,
-Coisas do sem-fim-

Triste é acordar
A noite dentro d’ mim,
Saberei eu acordar,
Da noite em que sinto

O princípio de tudo, o infinito,
Noite de máscaras, "caretos",
Noite irreal, estranha,
Como eu , o mundo.

Longa é a noite em mim,
Em minha roda,
A alma dança, uma dança
Sem fim.

Garça negra que passa, mansa,
No luar do sentir,
No lugar do explicar,
No silencio, sem falar…

Não sei explicar se durmo,
Ou a noite dorme em mim,
Durmo um certo sono, em tudo
Igual à noite que dorme,

E dorme em mim, calma.           
Conduz-me coração,
P’lo cosmos e em orbita,
Sem forma e sem volta,

Triste é acordar a noite
Dentro de mim,
Se tudo quanto sou,
A ela devo, à lua, o outro lado.

Longa é a noite em mim…






Jorge Santos (10/2014)





Tão natural como vim ao mundo...




                                                                                                                                                   O  Génio da  Céltia

Um dia vou querer estar desse lado, pra puder ler,
Porque os que leem têm olhos no ser e os que escrevem,
Apenas fingem ter, quero numa fase, deixar o sofrer
Que nem dor me deixa ter porque a receio, ela vem

Na menos valia dos meus tendões em peleio, sem guerra,
Quero encontrar clareiras desta maneira, longa de velha
Mandar pra outro mundo a tela que tem o princípio do eu,
Para que crie vazios na consciência, com’essa multidão alheia

E tola, todavia minha igual. Sou do tamanho da decepção divina
E um dia vou pegar dessa maneira pouco original
A vida e quando estiver de boa disposição vou apagar
Mormente o que mais temo nos outros, o próprio eu

Inútil, vale esta negação que credito e a que me agarro
Sem conceber o modo, e como, preciso extraí-la
Do fundo de mim a ferro, mesmo sem o acordo do espirito,
Pois sendo, não é o poeta que o diz, sou eu apenas

Em mim dentro. Metendo o nariz onde me diz
Respeito e não a vós-outros. Espanto-me com a noção
De consciência, quero-vos contar o que nunca contei,
Talvez por distracção ou esquecimento ou insegurança,

Não os distingo, contradigo-me e contrario-me consciente,
Tendo da realidade uma espécie de sonho meio,
Pois sei que um dia vou querer estar desse lado,
Pra me puder entender natural, como vim ao mundo.





Jorge Santos (10/2014)

Teorema de Thales





                                                              Teorema de Thales


Em mim estão presos os chãos que piso,
Os momentos em que o universo me pariu
E o que penso, -porém me detêm preso, rezo
É: -À névoa densa, perfumada a incenso

-À harmonia metálica, pesada dos sinos 
-À força das invocações, ao Lá...
-À raiva de todos os guerreiros, profecias
De possessos, -não os calmos ribeiros

Que alagam sonhos meus,
De que abdico e me dói,
Há em mim presa, a fúria
De dois, três e mais desses Deuses,

A dura e ruidosa raiva
De todos os rios jorrando,
Não os dois mil e um agueiros
Que embalam sonhos meus e terceiros

Há em mim, preso, Jonas e quem ele enfrenta,
O peso das alquimias dum Tal
Mileto Arquitecto, duvidosos ele e eu,
Bom é o meu chão e o além tal fosse…


Jorge Santos (10/2014)

tradutor

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