Gostei de preencher de sonhos, instantes





Gostei de encher de sonhos pequenas nações
E o que atrás eram pombas dormindo apenas,
Deixei um tear de instantes, paixões do que entre
Mim e elas há ou houve e nos pacifica de veludo,

Gostei de encher de sonhos os que conheço,
Indivíduos que lembram sem querer, pombos.
Imito as próprias vozes deles todos a falar,
Depois talvez eu endoideça, há um sexto sentido

Que me diz não serem pombas dormindo em 
Camas de veludo, mutantes doutros mundos
Que não este de pequenas nações, calmas pombas,
Pensar eu que tudo é assim, espécie de sonho

Enchendo sonhos e outras nações pequenas, 
Imaginações e paisagens suspensas, suspeitas,
Mar que seja de penas, tear d'aves feitas,
Nem sei do que estou falando, veludo e dia.





Jorge Santos (04/2017)
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Reis, princesas e infantes



 




Reis, princesas e infantes



Foge de mim um sonho
Que é ter mando e ser rei
Dos anfíbios e das charcas,
Mas a chuva só cai longe

Os barcos não me levam
Onde há sapais e charcos,
O meu grande desejo é
Escutar de noite e sempre

Infantas que foram agora
Sapas e eu rei das poças
Nem, quanto mais ouvi-los
Coaxar às "noivas-infantas"

Pedindo beijos nas bochechas
Gordas e verdes, ranhosas
Como sapos as têm, tolos
Anfíbios das poças de lodo

E eu nem rei nem bote
Onde nem sapais há ou charcas,
Foge de mim o sonho,
Que é ter mando ou sorte

De Reis, princesas, infantes …


















Jorge Santos (04/2017)









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Valham-me as palavras boas ...





Valham-me as palavras boas,
E tudo que haja a devolver
Seja composto do falar,
Natural tanto como o dia

Ao nascer e a hora que foi,
Valham-me as palavras,
As maduras e as outras
Azuis da cor dos beiços 

Que trago neste lugar,
Que pra mim é a alma
E a devolvo porque real
Existe e o falar é vão e

Compósito demais, valham-
-me as palavras e o dever
De pôr o coração à frente
Das costas quando digo:

-Valham-me as palavras
Em tudo que haja a devolver
Por mais pesado ou leves
Tanto quanto folhas mortas,

Cabelos de prata, horas que fui
Real, postiça a ilusão, inútil sou
Eu só, valham-me palavras, 
As más...as doces e as boas.




Jorge Santos (04/2017)
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Não confies na força das tuas asas, confia no ar que sob elas passa ...






Não confies na força das tuas asas,
Mas no movimento que as traz detrás 
Pra frente e na vontade que faz voar
E ninguém tira ou pode tirar, confia no ar

Que as sustenta no vacuo e onde ir, no prazer
De voar e no uso do saber que é de
Ninguém e o princípio de tudo que é o voo,
Que importam as sensações se a vontade

É tudo e o limite é um céu e a forma
De o olhar é sobretudo sentindo círculos
Circunferências e esferas como um artista
Sem conclusão, acordado à noite agradecido

Por ser humano em óxidos e enxofre, 
Não confies na força das tuas asas incorpora-as
Nas mãos por ainda não ter passado
O teu futuro de libélula adormecida,

Oxalá os meus olhos se colem à substancia
De que é feito o cosmos, e ás asas desses anjos
Complexos que me fazem aqui estar e ser
Até tão tarde, viciado em ar e no movimento deste ...


Jorge Santos (03/2017)
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Em silêncio ...









Em silêncio as guerras,
Os navios sem velas
E o mar vencido nas guelras
Dos peixes, a tristeza também

De não ter o mar imenso 
Na imaginação e escrever
Com ela em guerra,
Como ela em mim, 

Em silêncio as guerras
Mas não em mim, as ilhas
Por certo, distancio-me delas
Com silêncios plo'meio,

Meu barco vazio nem tem velas,
Os ruídos são dos nós duros
Dos meus dedos dez,
Na madeira do velame 

Navegando em vão,
Em silencio as guerras,
E o trovão que esta alma
Nega ser,

Navio sem vela,
Barca de lenho e eu sem arder,
Quanto mais escritor
Do que azul é, eu sem ouro 

Com ele enterrado algures
Como qualquer outra coisa,
O sagrado ou um tesouro, 
Desses com brilho de fumo,

Efémero e termo...




Jorge Santos (03/2017)
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Minh'alma não tem uso pra mim,





Minh'alma não tem uso pra mim,

Minh'alma não tem pra mim uso,
"Cohabito" um ser sem ser nem alma
No lugar onde eu pensava haver
E ter toda'dor e todo o gozo d'amar,
Como tod'agente e todo'mundo,

Esta minha não tem o devido uso,
Sou o monstro que duvido alguém
Conheça, porque conhecendo-me eu
A mim, sou enganado pelo tacto e vista
Pois da fala, dessa nem falo, ouço 

Numa linguagem absurda, o canto,
Que lembra fraco o eco doutra Pessoa ...
Enfim diferente e a mim junta, próprio 
Delouco fragmentado, julgo-me inatural, 
Perdido na época das masmorras,

Assim é o meu sentir, o estranho é que
A vida flui atrás destes meus olhos vis, 
Iguais outros que vi no purgatório 
do diabo, inúteis, inútil o choro, 
Rio ou rimos em simultâneo, só pra saber 

Se sou mesmo eu ou se um outro 
Logro igual convive comigo,
Logo eu tenho de conviver com ele
Mais o que sinto sendo universal e uno, 
Eu próprio incomum tanto quanto o uso

Que faço à alma que tenho no centro
Do corpo que é o mundo ...




Jorge Santos (03/2017)
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Aos desígnios que inventei só porque sim ...





Cheiro de jasmim e cana cortada ou
Os desígnios que inventei só porque sim...

Num tempo em que as paisagens eram florestas
E virgens as videiras, o dom do sonho era comum
Com os demais, tal como os cheiro a jasmim e
Cana cortada, todavia era minha alma incompleta

Sem os desígnios que inventei só porque sim,
Marquês dos sonhos e de tudo o que não tem fim
Em mim próprio, estar perto de ter estrelas no colo,
Em vez de estilhaços e pedaços de cana bamboo,

Não me concedem o direito aos saberes todos
Da Terra, a mim tanto se-me-dá, esqueço e ponho
Os desígnios acima de tudo e da copa das florestas
Pra que o mundo me deixe a sorte certa de ser eu,

Crível quanto as plantas cortadas em viés e delta,
Marquês dos sonhos, catedrais que erigi, só em solo
Do que poderiam ter sido ruínas que ninguém conhece,
Impossível dormir sem a veleidade de ser feito de céu,

Deusas princesas brincando com minha alma
E eu dono dos jardins de “quanto-se-pensa-existe”,
Num tempo em que as paisagens eram florestas,
Deus deixou um espaço entre os ramos pra que o luar

Me revelasse o caminho, a vereda que sigo e me levará 
Ao que inventei, só porque quis chamar de desígnio
Ao que é natural em mim, sonhar tanto e tudo,
Desde que o mundo me deixe sonhar acordado.




Jorge Santos (03/2017)
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Pois que eu desapareça






Pois que eu desapareça.

Anseiam por noticias da minha morte,
Dou-vos o estéril, devo-vos a dor 
Que não me vem, não a tenho real,
Essa não, o real é sal e eu só sou um tal,

Anseiam por notícia da minha morte,
Pois que guardem a vida vossa a sete,
Oito trancas, pois eu não morri no começo,
Nem morrerei no final do acto, só depois,

Esta minha alma fria é aço e não chora
Com o nascer do dia, nem morre agora
Com o ultimo bocado do sol, pra morrer ´
É preciso somente parar de sonhar

E eu não paro, canto até me deixar dormir
Ou quando não tiver mais remédio, 
Como outros estéreis, ou vontade de viver,
Que a tenho de real e imensa,

Anseiam por noticias da minha morte,
Dou-vos a agonia minha em prosa
E o sal provém desta lágrima que teima
Em não parar, é realmente água falsa

E flui, fluirá depois que eu desapareça...




Jorge Santos (04/2017)
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Do mar m'avisto .






Do mar m'viste,

Do mar me visto,
O céu não tenho,
Faz frio no meu
Peito em pedra,
Gelo ou icebergue,
Assim outros terra e ar,

Sonhos são mantras,
Onde só ondas antes,
Agora ilusão, Atlantes
Do mar, me visto
Do sonho que me perdi
E do que era em gente

E o céu não tenho,
Nem marés d'horizonte,
Faz frio, serei peixe,
O que há em mim, 
E me tapando se veste
De mares Atlantes,

Acaricio um mito,
O ritual sou eu, o manto
E o ceptro pó, em mim
Próprio não mando,
Cansado d'haver mundo,
Oh mar, meu leito ...

Do mar me visto,
O céu não tenho,
Suposto me dar asas
Ou guelras, nada me serve,
Nem onde és meu,
Eu sou teu ente,

Do mar me vês, por quem 
Me sonhas, descrente ! 
Pedra de gelo ou solo
D'gente ...





Jorge Santos (03/2017)
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Cicatrizes hão-de encher-me de poderes ...





Há de tudo, pessoas feridas, pessoas cicatrizes,
Pessoas marcantes, mas há e haverá sempre 
Pessoas gerando luz, como candeeiros de rua
De foco claro no escuro são elas que nos fazem

Partir muros esventrar estrelas inventar a própria
Voz de Cristos e dar vida a naturezas mortas, há-
De tudo e basta o simples esperar e escutar para
Aparecerem de embrulhos distintos, essas pessoas

Que a gente perde por não andarmos devagar
Escutando o vento, o mar e as cicatrizes, que nus
Temos todos, gémeas da alma, marcadas 
Pra serem sempre candeias nos caminhos da-gente

Há de tudo, pessoas lindas de morrer, pessoas fatais
Pessoas malmequer e pessoas verdade,pessoas 
Deitadas, Pessoas d'en'pé ... pessoas marcantes
São poucas, mas há-as e hão-de encher-me os dias

Pobres.




Jorge Santos (03/2017)
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Ler é sonhar sonhos doutros ...





Ler é sonhar o sonho dum outro,


Ler é sonhar o sonho doutro,
Invejo quem que não sonha
Simplesmente o sonho dele,
Pois não sei se se reproduz
Um sonho sonhado por mim nele,

Eu nunca sonharei sonhos
Doutros, não me cabem 
Nem jamais saberia como 
Caber neles à noitinha,
Rejeito o sonhar alheio, se leio

O que me faz é não dormir, 
Assisto desperto ao ritual
Que os sonhos tecem na mente,
Assim como o pêndulo, 
Que regula o tempo que se vai

E a mim me aborrece,
Aborrecem-me sonhos sem de mim
Serem e ler não é sonhar,
É pensar que se sonha um sonho
Destinado a ser coisa outra,

Ler é sonhar um sonho morto,
Sonhar é tão claro que separa
Do real o que não sendo assumo. 
Falso o sonhar que não sou eu
A ter, sonho sonhado em primeiro

Não em segundo ou terceiro,
Defino os meus sonhos pela 
Novidade e estranheza não pelo
Conteúdo que se explica, 
Mas por nada terem a dizer

Ao outro, ler é sonhar um sonho
Parado adormecido e porque se 
Folheia ao de leve, não sofro 
Com ele, ignoro-o, só isso
É não ler ...



Jorge Santos (03/2017)
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Diário dos imperfeitos







Diário dos imperfeitos 



Às vezes preciso tanto de saber
Porque ponho todas as minhas
esperanças nas rosas e ignoro
os malquereres, fazem-me lembrar 

O aroma perdido da natureza, a seiva
O desejo de não saber o que quero,
Qual dos caminhos tomo, o coração
Ou o cérebro que não vê, nem tem 

Dor odor, imagino milhares na minha
Campa quando não puder mais ver
Nem saber sequer quem as pôs, não
Preciso estar indeciso no que preenche

A divisão da minha alma nem agora,
Nem para sempre, digo quem me dera
Ter a esperança que tinha, líquida
Quanto no parque infantil e criança

Depois demiti-me de ser da terra 
Pedaço chão, pedra e encarnei do poeta
O ofício de sonhar um mundo completo
E novo e é nele que ponho esperanças

E dele cuido, como se fosse jardim meu
E todo mundo, mesmo neste imperfeito 
Tempo,às vezes preciso mesmo é de 
Tempo e de ânimo onde deposite este 

Sonho que fiz meu, este é o meu ofício ...




Jorge Santos (02/2017)
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Medo de virar pó




Tenho medo de tornar pó
Só porque pó é feito
De infinitos e defeitos eu
É só o que sinto ser,

Visto o que não existe
O tamanho do fato e o sapato,
são doutrem, exagerados
os punhos e a alma se fosse real

Igual ao dó que tenho
De mim próprio, todo falso
Eu e ele até à raiz do cabelo,
E eu o defeito que janta comigo

Tenho medo de virar pó
Sendo dois o trigo e eu agora,
Confessou-me à tardinha,
Lembro-me tão bem, fosse ontem

Seara que o vento leva,
Do mesmo mal que me dói, 
Amei tanto de tanta coisa,
Lancei flores como tanta gente,

Ao vento a ilusão também,
De ser perene eu aqui ou vagar
Pra ser estrela de manhã à noite,
Passei sem ser, não vou ficar

Visto que não existo,
Só o medo de virar pó
Eu, quem pensou ser pessoa-una
Da manhã, de tarde confundo-me

Com o disfarce que uso
Carnavalesco (um nada-ser)
O tudo-eu alheio, falso
Xerox-cópia.

Tenho medo de tornar pó,
Só porque pó é feito do que sinto,
Sobretudo raízes e signos, instinto ...




Jorge santos (02/2017)
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Passado eu, azul triste, translúcido ...







Passado eu, azul triste Lúcio.


Cantam suavemente triste/azul
Como quem embala nas ondas
Um filho de mar fardado, serei eu,
Serão sereias sem passado nem futuro

Ou sombras do que é verde
Azul puro ou do que eu lembrar
Embora não possa amar tristes
Sombras e nem do mar ouvir no búzio

O cantar sem morrer d'amor por Lídia 
Ou por elas, sereias sem nome dado,
Debruçado adormeço sobre este
Mar antigo, cansado de ser filho ou Lúcio 

D'Iemanjás sereias, orixás rainhas
Do mar envoltas... a manhã jaz
triste e azul, sem cor serei eu, serei
Ou serão sereias do mar sem ódio, passando Py,

Passado eu, azul triste, Lúcio anil.




Jorge Santos (02/2017)
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Durmo tempo demasiado









Durmo tempo demasiado
Sem consciência ter de ter dormido,
Tento só no sono ter fundo
O sentir, porque acordado

Demais não sonho sinto
Acordado, que durmo 
Sono profundo ao pensar,
Durmo tempo a mais ou não durmo

De todo, peço ao dom do sonho
Que retire essa falha do meu
Coração e parta sem deixar a saudade
No lugar onde durmo o tempo todo

Do mundo, sem entender
O tamanho do tempo que leva a sombra
Do crepúsculo à alvorada ou
Quanto tempo do bocal ao poço

Fundo demora a queda de um anjo louro,
Pintamos de cores fortes as
Manhãs e escurecemos as paredes
Dos quartos e o tempo que passamos

Entre muros ambos de nossas almas,
Quanto aos pombos pousados,
Lado a lado olhando-se de soslaio 
Esperando o céu lhes responda ou eu,

Durmo tempo demais talvez
Sem consciência ter, tonto de tanto 
Embrulhar a realidade em papel branco-
Pardo, culpa dos sentidos

Pois de mim pra mim digo
Que convém ter sonhos, 
Mais que lucidez sem eles
Na parede dos quartos forrados a papel 

Branco, Durmo tempo demasiado
O tempo todo que leva a sombra
Do crepúsculo à alvorada, 
Do bocal poço ao fundo e depois do silêncio ...

Ao que nada ouço.







Jorge Santos (02/2017)






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Leve quanto a sombra








Leve quanto a sombra e o luar,
Lugar ao longo de meus braços,
Estrada que serpenteia, caminho
Leve quanto as sombras e o luar,

Caminhante que deixo de estrada
Ser e passo a ser caminho se destino for,
Lugar ao longo de braços meus,
Ilusão, desatino, viajante do nada,

Quanto na alma prossigo errado
ou incerto, repetindo sempre o mesmo
Ermo e desolado caminho, peito aberto,
Nem longe nem perto, sem lugar

Onde me sinta vivo, leve quanto o luar
E as sombras, murmuro num solitário
Deserto e sinto indicarem-me as estrelas
O tal símbolo ou culto ceptro ou coroa

Deles por direito, fé ou lei vulgar, ser' que
Sou, meus braços prolongando-se 
Na estrada caminho, destino, enfim 
Posso ver a alma, como se num poço 

O Brilho, de tal símbolo culto ou oração,
Leve quanto as sombras e o luar a meio,
Submissos quanto meu coração
Perante a morte ou da noite o medo,

E que não acorde antes do fim do caminho,
Leve quanto as sombras de algum lugar
Vazio quanto eu e o luar a meio,
Caminhante que deixo de estrada ser' sendo

D'algum lugar outro ao longo destes braços,
Se meus, sendo sombra em lugar ermo, eu…










Jorge Santos (02/2017)





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Falo do Estio









Sinto fazer sentido quando me leem,
Não faz sentido escrever, vazio
De corpo e alma, como se
Fossem as pétalas sem cheiro e a rosa 

Se acaso ninguém a cheirasse, 
Ou o cheiro não fosse importante
Pro ser humano ou explicasse o que é terem
Os sentidos corpo e alma, vossa

A jornada de sentir tudo em pleno
E com urgência, sentindo bastante
E não quanto baste chover
Ou será a alma que me mente,

A chuva deixa enrugada a pele,
Resumiria deste modo tudo,
Quando vejo enrugado o mundo,
E falo sobre gentes e tempo,

Não de enxurradas mas do estio,
Quando não me vêm e sinto o vazio,
A pele enrugada a vista enevoada, 
Parecendo chuva de nevoeiro,

Ou será a alma que me mente
Acerca da missão do corpo de sentir
Somente quando chove certo e quente,
Por mandato da ilusão.

Estivesse deitado e fosse pó, o sol
Se encarregaria de estender a mão
E desligar o botão donde me sai a voz
E talvez a alma que nada diz,

Que me conforte ...







Jorge Santos (02/2017)






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Quanta fadiga me enternece









Quanta fadiga me enternece,
Quantas fases do luar sigo, 
Quanto adversa é ou pode 
Ser, a existência sem a ilusão

Que vida acontece como uma
Espécie de cansaço benigno
E a ternura é fruto disso que
Chamam o amor e o divino,

A fadiga reanima-me e o universo,
Juntamente comigo balouça, 
Dança a mesma dança de sempre,
Sem escolha ou intervenção

Do pensar, faça eu o que fizer,
O meu corpo obedece ao cansaço,
Visto ser a mais usada das minhas
Emoções, depois do sentir inútil.

Quanta fadiga me enternece,
Quanto pesa o coração no pensamento
Meu ou qual o mais leve deles
E porque nos prende um só

Acabando nós por lhes pertencer,
Semelhante aos signos que cegos "tão-bem"
Veem, eu sigo as fases da lua
Porque está à minha vista.

Dista do meu cansaço uma meia verdade
De ver o que não é possível ver, 
Como ouvir da própria alma um segredo
Tolo igual a outro à distancia 

De um queixo duro. A ternura é feminina,
Usa a consciência como uma espécie de cálice
Ou mapa não físico do real para saber
Quais as razões da simplicidade, 

E o que há pra'lém do sofrimento
E da fadiga benigna, da sensação 
Que sinto quando me canso 
E vivo a paz como uma doce ternura,

Tão minha. Quanto a ternura me fadiga,
Quanta fadiga me enternece ...








Jorge Santos (02/2017)




Solidão







Solidão


A solidão é cega, tanto quanto rasa, 
Como uma multidão que corre 
No jardim do éden e nada tem 
Do ver, que a mim cega ver

De solidão que um cego crê, ser 
Da intuição a vista e do mistério a régua,
Sozinha, a solidão cega tanto, 
Que vê a solidão ser múltiplo comum, 

De toda esta gente que emprega 
A solidão, nem sei bem como, 
Mas que ainda mais solidão 
Carrega, que um furgão carregado de gente 

Acompanhada, mas em si sozinhos,
Cheios de nada carregados de tudo
Que não presta, não empresta nem dá mas nega
E julga mal pois não se julga, se renega...









Jorge santos (01/2017)



Já nem sei que, ou quem ...







Já nem sei que ou quem sou
Eu e quem sei não ser, se eu,
Ou eu, sem um "se" em mim, sem fim,
Já nem sei o que sei, se sei ou não

Sei, que saber não sei, se em mim,
Ou se a mim sou sincero ou minto,
Quem sou, subtil quanto um adicto,
Fraco e pouco nem sei que ou quem,

Menos sei quem sou que uma abóbora
Redonda e dura por fora, por dentro
Polpa e semente, se minto quem sou
Lamento, se culpa tenho e o conceito 

De culpa, por saber tão pouco de mim
Próprio, impostor ou sombra doutro,
Ou doutros "ses", como eu sou se sou,
Abóbora ou figo laranja ou amarelo, 

Poeira ou frouxo paramento, rasgo
Na bandeira, porém já velha também
Como minha alma que dialogava comigo
À sexta-feira, já nem sei o quê ...












Jorge Santos (01/2017)




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