A Morte não é Bem-Vinda …




A morte não é como a vida,
Mas o sentimento fluído, vívido
Em que nos sonhamos vivos e
Esquecemos o porquê de não
Existirmos de fora da ilusão
De estar vivos, vivendo mortos
Resta-nos sobretudo o talento de
Sonhar o quotidiano e o banal,
-O sonho de ser inquilino de uma
Pequena livraria na rua da indiferença,
O ultraje geral na vida que conheço,
É o ignorar repetidamente ou questionar
A derrota, por ordinária
Que seja na morte o afinal,
Ou esclarecido em vida
O soror da dor perene,
Invicta, imortal, poética,
Bem-vinda e com odor a perfeição.
A morte não é bem-vinda,
Emoção é o que ficou descrito
Como coisa passageira, imortal
A esperança, semi-completa
Verdade que nos conforta e descansa
Da tarefa que é estar vivo.
Matéria é presença e a negação
Da fé por oposição estética
À consciência do pensamento
Como tarefa física, grandeza
Da condição de ser humano,
Dividido entre o que me rodeia
E a vontade de renunciar à mecânica
Das sensações mentidas,
-O sonho de ser inquilino de uma
Pequena livraria de esquina,
Incompetente eu, por nunca ter sido
Senão sonho de quem se sonha vivo…




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