Gostar de estar vivo, dói!
Para quem possua crença,
Assim como treze mais dois,
Ser dezasseis, talvez seja,
Penso eu, uma regra a dor,
A real, não a supérflua,
O estar vivo, versus um
Existir fictício, nominal,
Abstrato, o pânico do tísico
Viver sem sofrimento, morte
É distinto de medo, atrás
Da emoção, qualquer certeza
É delas, a fé é imortal mas
Acaba, quando não se sacia
O predador, a perda é plural,
O ideal é viver, de resto a pressa
É apenas ter vivido um xamã,
Revelando enfim um monge,
Embora sem credo, religião,
A questão é alcançar a uva chã,
Do escanção o mérito da prova,
A vindima tem época certa,
E o parto sem dor não jaz,
Perpetua a sensação terna,
Quanto as dores do parto,
Assim a vida, quando não dói,
Não vale a pena, contudo
Tem uma hora a meio, um véu,
Em que o destino é harmónico,
Bastardo em si e a um passo
De assustar o medo, a sevícia,
Evocando, de estar vivo a espera,
O cansaço e o abster da liça, a honra,
O distanciamento do muro, o asfalto,
O salvamento dum outro modo,
Não posso afiançar genuíno,
O louro ou o deslumbre do velho,
Podre o povo, a justiça, o gostar
De estar vivo dói e muitíssimo.
Jorge Santos (29 Janeiro 2021)
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