Recordo a papel de seda

 




Ou o sonho da borboleta

Recordo a papel de ouro
E seda, seja o que for, seja
O que sei, seja o que invento,
Sinto tudo pelo toque,

Até a respiração, um sinal
Sonoro, um som brando,
Branco como a maré e o ar,
Recordo-a pelo rasto,

A maresia e a brisa prata
Com que arrasta a alma
Minha e quebrada p’la s’puma,
P’la rebentação da maré alta,

O tango no voo de uma
Gaivota presa ao vento,
Recordo-as em papel almaço
Mas leves como lamento,

Mais graves que o sargaço
Negro/preto/baço, humano
Sonhando-se de borboleta,
Assim pudesse eu ser sonho,

Qualquer coisa mais dúctil,
Moldável, papel d’embrulho,
Lenço, fita d’laço, cartão.
Recordo a papel de seda …

Jorge Santos (16 Janeiro 2025)

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Percas, Carpas …

 




Percas, Carpas …

Não as distinguiam do ind’agora, do ontem
Numa febre ligeira, chamavam-lhes de
Graças, milagres ou planícies fora da alma
E aos sentimentos, o que não tememos,

“A apologia de um lugar quiescente”,
Lá fora as Carpas mais se pareciam
Lírios longitudinais, mas presentes e
Legítimas como tudo o mais, pardilhos,

Percas da minha loucura, luar de quem
Se perdeu nalgum tempo, não eu
Embora doendo que seja, fui eu mesmo
Acontecendo “sine-die”, sem honra,

Não me destruiu a diáspora na Terra
Que liga a mim tudo o que o vento
Traz de cinzento e ambíguo nas várias
Viagens que faz até ao fim e eu mudo,

Ignorando tudo tal como uma vespa
Ou o delírio do vazio que me brada
E o vento ao cerzir nos ares a minha
Angústia parda e quieta, absurda

E líquida. Aconteço por segmentos
Como quando se viaja sozinho sob
O branco cinza do céu a quem chamo
De profecia quando o estou vendo,

Prevejo nem tanto, tampouco de fora
Como nos vemos, sonhos e memórias
Que repousam onde antes Reis, Reinos
E Rainhas de olhos esverdeados, carpas …

Percas, enguias, focas.

Jorge Santos (04 Janeiro 2025)

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Entreguei-me a quem eu era



Entrego-me a quem eu era,

Combinação alegre e triste
De claro e escuro, contorno
E forma,

Serei de modo
A não deixar de ser
O quer que fui, assim eu era,
Sendo sou enunciado do que fui:

-Não domino o impulso,
Expresso o desejo, motiva-me
O sofrimento e a qualidade
De não possuir um nem outro,

Sou o perfeito analista genérico
De tudo que não me interessa,
Particular, ou o estoicamente
Simplista por defeito,

Desconfio da verdade,
Da convicção ser ciência,
Considero nada e ninguém
Conceitos antagónicos.

Desprezo argumentos,
Como um bom actor, desobedeço
Ao guião, embora a minha
Opinião varie assim como as texturas,

Têm uma realidade corpórea própria,
Semelhante ao meu pensamento,
Tão pouco real, ao jeito
Ou duma convicção paralela,

Direi mística ou idêntica
Às solas dos sapatos que embora
Caminhem lado a lado, aos pares
Se gastam desigual.

Se deformam conforme o peso
E em função do andar,
Hesito perante supremos
Axiomas, sofismas

Não fazem mais que confundir
O meu trajeto,
Guiam-me à descrença e, na dúvida
Entrego-me ao que eu dantes era.

Jorge Santos ( Novembro 20/23))

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