Esperança perdida.




Esperança perdida.

Minhas mãos são já coisas,
Impostas e formais, peças
Normais que funcionam
Em cadeia, negam desejo,

Vontade minha, nenhuma.
Minhas mãos já são “feias-
-Coisas” d’vontade própria,
Mesmos dedos, mesmos

Gestos práticos incompletos,
Básicos até nas texturas,
Semelhantes a outras coisas
Que há, não em nome da fé,

Do céu que invocamos em vão,
Mãos nobres, gestos pobres
Apelos vãos, fracos os deuses,
(Oxalá fossem menos severos)

Virá dia semelhante às fábulas
Em que as coisas serão mais
Coisas e os olhos se perderão
Da alma, então o último virá

Em primeiro e minhas mãos
Não serão mais coisa alguma,
Causas fortes leva-as o vento
E a mim mal me alembram,

Se é que as tive, mãos coisas,
Coisas mãos, agora que tenho
Inda a vontade, débil o desejo
Confrange-me o sentir d’outros,

Básicos práticos, incompletos
Até na textura de braços mãos,
Lamento não possuir em minhas
A medida ideal, igual aos seios

Da perdida esperança menina.

Jorge Santos 21 Novembro 20/25

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Todo eu sou qualquer coisa

 





Todo eu sou qualquer coisa


Todo eu sou qualquer coisa, aquilo que me mente e por mais que de mim me afaste, sinto-me uma versão banal de outros quando de mim demais me aproximo por ser tão vulgar quanto o que falo e digo, via de regra sinto nojo da extrema limpeza da pele e de limpas tabernas, da qualidade duvidosa dos que se esmeram por agradar aos que passam e dos que nunca entram pra não se macular de mosto ou de cevada, murmuram e se muram de lantejoulas tal qual travesti de Madona,/Dali, usam vestido o vazio nas mentes redondas como batatas,  negras mentes no escuro, baratas de luz pacata em móveis, imóveis para se não destacarem, se esconderem da claridade do dia, dizem-se vulgar e virtualmente puros, dos poucos possuidores da arte da erudição, hipócritas castrados e pestilentos, agentes da “antipoética”, que não conhecem a musicalidade das esferas celestes, o misticismo que é necessário para ser poeta/profeta e transformar dragões em anjos, anjos em inflamados cometas, o hálito de sabor amargo das bestas bravas, da bonança e o pó da estrada em esperança.

Nós pertencemos à raça brava, com o sabor análogo ao do solo prenhe, a limbo, a terra nova e descoberta, somos de resignação violenta, os nossos dedos acariciam a erva e os musgos nos regatos, à beira do abismo nos braços da natureza perene.

Os meus passos têm a leveza das aves dos céus, salmão dos mares, quando me perco, como sendo “Prometeu” ou seus pares do Atlas ao Taurus.
Sou imenso, sinto e peso um cosmos em mim, não consagro o meu tempo à banalidade, à mediocridade, sinto nojo de dualidades e de almas sôfregas de ruído.
O imbecil é e será sempre um ser colectivo coletivizante  e ostracizante, todo eu sou qualquer coisa que aguarda apenas o soar da meio-dia “à janta”, a alternância de quem gira em torno de si mesmo, como uma esfera, comum Terra, o sino, o címbalo, o Olifante, a trombeta para o qual a minha atenção se dirige, ao longe, muito longe, no único andar do mundo que não muda, aguarda apenas, aguarda suspenso e fixo num ponto mudo, o nó do mundo, o futuro de tudo-e-todos …a contenda dos moribundos na cidade berço de “Ananda”…o nó mudo em Mandala-papel.

Conquanto penso e vejo-me sentado, solene onde decorre o meu juízo e penso ser um pouco de tudo que é impassível e resulta certamente em mim, não me posso perceber, contudo conheço-me mais que tudo, giro em torno de mim mesmo, assim como um pêndulo em torno de Foucault e apenas aguardo …aguardo apenas, de cima o som que é mudo, do nó do mundo o troar do sino, o soar da “janta”, o hino ao fim do mundo !

“E orgulho-me todavia de minha humilhação, e por estar condenado a tal privilegio, quase desfruto uma salvação odiosa: acredito ser na memória humana o único exemplar vivo de qualquer espécie a ter naufragado um navio, num deserto de pó e areia.”

Não minto quando me dispo do que poderia ser dito entre o dito e não dito do que realmente digo, sim “Eu jamais parti” mas não digo não, pois poesia não sai de mim, foi-me dada assim, é a minha água pura, a minha força motriz, nem se compara ao ar, infinito o que respiro, é o que a voz me diz, por isso direi mesmo depois do fim, serei futuro ou estarei realmente aqui, no que digo de alma e corpo “Eu jamais parti” … “Eu jamais parti”

Um hiato entre o que, ou por quem me tomo e o que sei sou ou sonho todavia subordinado a ser e será o eu verdadeiro enquanto o sonhei que na prática é o que sou e como me vejo, um resíduo, um suborno de sensações anteriores ao pós nas quais creio antever ou antecipar algo como se fosse o meu reflexo real ao espelho e eu espectador fictício de mim mesmo mas com relevo falso artificial e uma memória de outra espécie de elefante que abdicou de si mesmo para se tornar uma outra realidade ciente e sem substancia incorpórea apesar de humana ainda, quem sabe eu mesmo (arte e forma) pois sou aquele que nasceu sem se conhecer, pra quem tudo é estranho e diferente, performance magnífica ou repúdio caustico à boca de cena e ao palco.

Ando sentindo-me mímico e semi “desfraseado” de nitidez de modo que não consigo equilibrar duas palavras que façam cabal sentido separadas ou uma de cada vez, nem temperar com sal sentidas palavras como cal e mostarda ou alho Francês , mascara-las e dividi-las por dúzias de compartimentos íntimos como se fosse eu do país do um Dali da intuição, Catalão (espero que passe breve,) assim junto algumas de um, dois mestres e uma mestrina regrada a estouvados sonhos semivividos semi-sonhados, persegue-me a mim a sensação morfológica de jamais partir e assim retorno constantemente embrionário à ideia minha de verdade onírica de jamais conseguir alcançar a substancia líquida de que são feitos eles mesmos os sonhos e modelar os meus lexicalmente viventes em vividas catarses , depurações de uma alma imperfeita, impura, apesar de lúcida (…)


Não sei ser útil mesmo sentindo”, posso dizer que sinto, nem que seja porque é essa a única, minha e verdadeira causalidade, (“esse o problema de beber”), o sintagma basilar do que me resta de real, a liberdade magnifica, mergulhada em ácido ou caustica como uma traição, a de tecer em contos fábulas e contar o que realmente é prosaico e por demais gasto, o que reside inconsciente na” consciência da passagem do tempo”.

Lembro-me da menos valia de Augusto, de Magno, César-do-mundo-anterior ao meu e do desgaste do tempo que conheço, do padrasto desgosto de não compreender no rosto a mãe da pitonisa das dores, maquilhando-se de mar e coragem à medida que se afunda no Egeu Atlântico a oeste da ilha dos Amores …

Os vocais e sílabos constroem-me como se fosse eu um puzzle, uma historia desfocada de “nitidezes”, sinto-me evidente e focado face aos sírios e pálpebras de todos, que de outra forma não me concluo, nem me concluirei de facto “nem me dá gana” continuar sustentando o insustentável, o imponderável que é, como se sabe, criar contradições e complementos a partir da bílis e do esperma e a propósito de coisa alguma e do nada mais, pois que é disso que se trata quando se constrói, destrói-se o útil e o apenas, fica o transversal, a nossa pseudo alma, o pseudónimo exuberante e vital de quando se entorta um prego, a realidade numa outra forma também básica, prosaica de metal / ferrugem mas quiçá mais real que esta agora e de sempre que, não por se honesta, me basta.

E é isso mesmo na atitude, o escrever simplesmente, ele mesmo, o mito qual nos transforma em crianças “incompreendedoras” crónicos filósofos da graça e da descrença, ínfimos promíscuos até nos crermos inexistentes como flutuantes aliados ao infinito na forma de alheamento alado, somos maravilhosos enquanto bons pensadores e/ou escritores desafinados, assim o desejo, ele também.

Por palavras doutros e não minhas dou hoje o sempre o que digo e escrevo, escravo das cores que não tenho, doem-me as crostas nas minhas toscas e roucas palavras, compactuas, emprato-as, exponho-as e exponho-me em francas paredes, brancas, singelas no meu pensamento, tão úteis para pensar como para me despertar, pra desertar de mim próprio e provocar noutros o sentido de intimidade exposta e a exporem-se também e/ou expressar ideias novas e há depois momentos em que temos de apagar, apagar-nos, dormir para despertar instintos adormecidos, o equilíbrio e o sonho aparecem e nos tornam numa balança, na memória do elefante e a razão ambivalente, essa que nem sempre o é, não parece nem corresponde à ideia que dela temos, não somos longos suficiente para nos validarmos nem aos nossos ideais bem ou mal seguros, não nos validamos suficientemente, nem justo seja o que for, mas ao duvidarmos de nós mesmos declaramos possuir poderes mágicos que nos permitem descrever o belo em imaculadas paredes que mesmo sendo derrubadas são intensamente nossas pois as mensagens são eternas para quem as sabe decifrar e mesmo as curtas pausas e as pontuações caladas são agentes secretos das palavras dadas, usadas, emprestadas a nós por d’outros e assim sucessivamente até ao fim desta espécie falante mas não omnipotente, hominídeos símios, q.b de bravos gloriosos e valentes tanto quanto fracos e indecisos.

Por palavras minhas e não d’outros parto à bolina num trem sem carruagens e com um semi-talento atrelado , eu sentado na esquina da maquina de escrever, (chavões à parte e às paginas tantas), algo que não controlo pleno é uma locomotiva a pleno vapor no Tejo ou no Sado eu não cometo abalroamentos quando navego à bolina , planto e dito assim mesmo, como que ao vento, também ele mau conversador, faço de bruto, um pouco menos ou mais que conversa cúmplice de maus presságios, vou de faca afiada nos dentes e já que de palavras lidas está o molhe cheio e o bote transborda aqui e acolá, por vezes vai ao fundo, as palavras são o que me fazem ser e querer ser tal como formiga d’asa.

Serve para dizer por palavras que ouço como se fossem minhas, eu próprio na musicalidade em Oboé das ramagens dos carvalho gigantes e velhos e nas coisas como fosse o som da caminhada que é conjunta e sagrada, estamos juntos nessa estrada longa que é escrever, pois escrevamos …

E viva a poesia

Não sei ser útil mesmo sentindo

Obrigado sou eu e muito à vida que tive, que vivi e que ainda vivo e possuo, sinto-me embriagado de hidromel ,-a respeito de Druidismo,  a magia Célica-Celta como factor inexpugnável da crença Célica- Gaélica, o Juiz da Clareira Ou Druida mágico e mago era sumariamente um ente antropomorfo ou a identidade humana mais próximo dos “deuses” todos (bem mais que mil) ou entes e em comunicação vocal e comunhão espiritual com estes (e ainda o é ou ainda o são embora em pequenas comunas, fortes mas dispersas) Juiz da aldeia do aglomerado ou da tribo, o incumbido ecuménico de fazer respeitar a lei natural, a justiça do Carvalho ou a chamada “Demência Mútua” pois que é atribuição de uma única espécie num tributo a toda a floresta e à natureza em nome de um individuo mais antigo e central pois que possui o dom de fazer uma clareira em seu redor este este é, além disso, o individuo capaz de fazer justiça imparcial baseado na filosofia do natural e na ancestral tisiologia enquanto cabia ao Vate a obra de escrever ou decorar e divulgar pela arte também, não só como o jogral medieval mas num sentido mais lacto amplo e abrangente.

Toda a minha vida é feita de coisas, eu pendurado nas coisas que existem dentro e que sofro sempre que as abraço em silêncio, coisas que existem como se dentro dos olhos, estilhaçadas, agoniadas. Corro ao redor de cadeiras que não se ocupam e eu pendurado nas coisas que existem em mim dentro e os fantasmas a correr pelas paredes

Como diria Napoleão em Alba, “esta é a minha casa esqueçam-se de mim”, nasci para ká’star tb, agora aqui e já, elegi-a, elegemos nós ser livres como opção primeva e privilegiada de pensamento em detrimento de outras e, na minha casa, na nossa escrita, na nossa “terra” não permito, não permitirei nem permitiremos a febre maléfica dos feios, nem do contágio decadente que o polua, e o que constitui a minha interpretação de espaço livre comum e de critica criativa construtiva, as expressões poética querem-se, quero-as vazias de exterioridades egoísticas, assim como a caixa onde o gato defeca diariamente se quer limpa de dejectos para que a verdade da agua pura flua e escorra por entre as vistosas pedras em cascata numa montanha livre de doenças parasitárias malignas e esterilizáveis de pensamento e ideias, que o som das águas nos acompanhe e não o cárcere da infâmia e a lâmina da ignomínia com que muitas vezes sou reclamado a cooperar e reitero desde já um voto pelo bom funcionamento desta democracia bicéfala, que posso e devo chamar assim, para que não se abra a tampa e pandora invada as nossas oníricas quimeras e as transforme em terríveis sensações decrépitas bem acima da linha do cabelo, bem hajam poetas verdadeiramente livres, amantes da escrita poética, guardiões do conhecimento, da pureza da palavra escrita e célica…

Em geral

No seu teorema mais básico e como fiel de balança, é missão da escrita mais pura, a confissão da loucura e esta consiste na exponencial capacidade de cada um em incestar termos, palavras/verbos, inventar temas, escrever novas frases, fundir em poemas inovadores ferro e magma, sinos e signos tão finos que brilhem no conteúdo e no escuro, que treinem os nossos corações atletas e os mais profundos medos, emoções, metas na condição de amanhecerem na lua, do lado magro e a sermos exímios maestros, mestres magos, gregos tanoeiros, não só mas também, nos nossos humilhantes fracassos e crassos erros. Insistamos, incestemos almas, matérias-primas e espíritos! Não há caminhar outro, suave e louco, embora o caminho não seja curto, crio (criamos) um longo e magno paradigma, não importa que nos indiciem de loucos e ansiosos…A minha, a tua ambição é amanhecer na Lua, do lado magro, no outro mais longo, largo de ombro a ombro, o espaço infinito e vasto, debaixo de um só braço e no comando de uma nave.



Outubro 20/25

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Jorge Santos /Joel Matos

Da interpretação ao sonho

 




A interpretação do sonho,

O próprio sonho me castiga,
Com sensações supostas,
Opostas direções indicadas
A dedo, impondo-me vias,

Caminhos que não pretendo
Seguir porque não, apenas
Porque cansei de ser esse
Misto de concreto e oposto

Certo o que se esconde,
Incerto o que se mostra,
O próprio sonho tem’quartos
Estranhos, nem abertos

Nem fechados, depende
Do lado pra que se olhe
Ou da janela que s’encontre
Aberta à brisa da tarde,

Não paro de tentar perceber
Assim como cego plo ruído
Que só ele vê ou se plo futuro
Por escrever do vidente bruxo,

Suposto era eu ser no sonho,
Oculto príncipe, assumo-me
Espírita cuja espírito não é meu
Mas doutro que me murmura

Haver céu acima e sonho que
Me mente, ou serei d’mentira, eu
Irreal in/verdadeiro, impermanente.

Jorge Santos 21 Novembro 20/25

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Me dói tudo isso




 Me dói tudo isso

Existem coisas iguais,
Mas nada é realmente
Igual, salvo erro a vida,
Tal como a conheço,
Ainda rindo de mim.

Se existem coisas iguais
A mim, desconheço o mural,
À margem de mim nenhum
Outro rio corre, corro eu
E a paisagem é única,

É a que eu observo, vejo
Da janela e à frente,
Entreaberta, é onde
Ponho os olhos, postos
No que puder, posso ver,

Vendo no que me dói
Encanto, no que se esconde
Um mundo, escondido me atrai,
Convida a vista e o coração,
Sendo coisas diversas,

Minhas todavia são,
Coração e vista, morto
O instinto, a natureza toda,
Anseio o vento, a chuva
Personificação do sagrado,

Essência de mim, horizonte
Daqui perto, incógnito incólume,
Coberto por tud’o que possa ser
De facto, e realmente igual
A mim, me dói tanto tudo isso,

Dói tal qual natureza morta.

Jorge Santos 19 Novembro 20/25

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Durmo onde um rio corre


 



Durmo onde um rio correu,

Nas margens que um rio tem,
Morreu um rio em mim, dorme
Em mim dentro coração assim,

Dúctil, enfim vento, dorme
Um rio assim onde meu mar
Coração morreu, nas margens
De meu corpo ao tempo,

Ao tempo morri eu, algures
Onde o rio se fundiu e aí morei eu,
E o rio era ele mais eu, em mim
Eu mais ele, mar grande assim

Sou eu, durm’onde inda ontem
Correu um rio, gravo em mim
O sonho de ter um rio só meu
Onde me deite, os braços seus

Serão curso meu, até o mar,
Mar onde um dia eu morrerei.
Dormi onde um rio corre,
Agora esse rio é meu, só meu.

Jorge Santos 19 Novembro 20/25

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“Umano, Troppo umano”

 



Ou ponto sem nó

Não tenho um particular apelido
Nem verdade histórica, importância
Justa não é apelido nem alcunha,
Riqueza é posse e eu não possuo

Que não seja sonho, realidade
Outra o que sonho por ser ainda,
Sem forma e apelido tudo que vem
De mim, de dentro, sem história,

Sem tempo, sem dúvida serei
Eterno, sem nada saber sobre
O além nesse outro mundo,
“Troppo umano” é o que sou,

Ponto sem nó, pintor sem tela,
Sicrano sem nome, pra quem
Tudo é sombra sem vontade,
Desejo é vaidade, querer ser

Todos sem que nada, alguém
Me apeteça ser, pretendo eu
Ser chuva, vento sem forma
Me encantava ser, o canto por

Ouvir, o conto que me falta
Ler, o meu próprio poema
Por escrever ainda, não o leria
Ainda que me apetecesse,

Não leio o que me inquieta,
De igual modo não me agrada
Ouvir-me a mim mesmo, gasto
Ansioso, finjo que ouço sem nada

“Pra’me dizer” que eu não saiba,
Ponto por ponto.

Jorge Santos 19 Novembro 20/25

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Dramatis Personae





Dramatis Personae

Sinto-me alegre e triste,
Mas não é bem tristeza,
Idêntica é a alegria, nem
Alegre nem contente,

Falsa, também não
Creio, talvez fictícia a
Máscara que pretendo
Usar, essa sim genuína,

Porque é minha a fingir,
É o que eu sou – enganador,
Fingindo alegria estando
Triste, tristeza íntima en’mim

Não é tristeza, mas
Pedaços de outros pedaços,
Episódios de outras almas
Anexas à minha,

Excertos onde cultivei
Outras manhas, sensação
De euforia e desalento,
Cabe a minha morte

Futura lá dentro sim,
Assim como a lembrança
Revista de tudo que é
Humano e pouco,

Vontade é outra
Coisa, assim como derrota
E fracasso, desalento,
Ouro falso, falta de carácter,

São as máscaras que uso
No dia a dia em espaços
Abertos, tão legítimas
Quanto ridículo é o trajo,

Argumento sempre igual
Dos dois lados e igualmente
Reais são as outras dimensões
De mim próprio no palco,

Autor- intérprete, toda-
A parte, autêntico- falso,
Ninguém- tod’a-gente, lugar-
Nenhum, real-imaginário,

Ingénuo-perspicaz …

Jorge Santos 19 Novembro 20/25

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O sonho de Platão ou a justificação do mundo

 




O sonho de Platão ou a justificação do mundo

A vida completa-se em cada um de nós num breve sonho de conquista, somos o sonho da matéria, somamos símbolos, metáforas e representações que nos substituem, juntamos mistérios para nos explicarmos e justificarmos religiões, fés e credos, à sombra de uma terna luz solar, de uma eterna soma de desleais explicações patéticas (que não nos explicam), de sonhos legais, desejos lícitos e formidáveis ambições.

A expulsão do paraíso e a expiação do mundo, são duas dessas fábulas fantásticas em que lei, ordem e doutrina se justapõem acerca do arrependimento filosófico e voluntário, de reconciliação ritual de metanóia espiritual.
Assim o sonho de obediência, a observância das leis da cidade de Platão, que ele mesmo ajudou a redigir a defender, e a fazer respeitar, de enfrentar a ansiedade e o medo da morte de não responder a uma injustiça com outra que seria a fuga, dizia ele segundo Aristóteles, seu mais proeminente discípulo, acerca da importância da alma e da necessidade de se cuidar dela assim como do corpo físico, assim como o bem e o mal não se podem dissociar assim também o conhecimento, a verdade e a purificação são inseparáveis, o nosso eu, o meu eu.

Bem que verdade e virtude nos nossos dias tem as “portas da percepção” fechadas, encerradas mesmo, muitas pessoas confundem verdades e factos com falsos axiomas virtuais e intencionalmente mal manufaturados placebos..

“Embriaguem-se porra de vinho de poesia e de virtude”, disse Baudelaire “Les Fleurs du Mal”. É uma escolha literal, o integral elogio do fracasso humano, a exuberante aquiescência do conhecimento o qual, embora não me explique, mas distingue do tecido de sarja, distrai para poder extrair da imponderabilidade a mais pura intensidade embrionária e visionária, sonhadora. A poesia é o começo de tudo, do pensamento e até da ciência do conhecimento por isso não a podemos vulgarizar, enfraquecer. Suponho que em Atenas não haveriam redes sociais mas apesar disso a democracia não morreu anémica embora ainda embrionária e foi a convite de Sócrates a que nos mantivéssemos lúcidos, contemplativos não obstante a estupidez tacanha coerciva e colectiva.

O fogo tem perdurado desde que a primeira tocha se acendeu na escuridão, assim é o entendimento apesar de todas as vicissitudes, muitos têm opiniões mas poucos muito poucos carregam o facho, têm senso, a coragem da avaliação critica e analítica, poucos têm coragem para pensar diferente e se distinguirem da manada, têm um custo todos e quaisquer actos de rebeldia e o facto de pensar que nenhum algoritmo hoje em dia ainda conseguiu igualar, o espírito que nos fez e produziu criativos, desajustados, insurrectos e os menos correctos.

Estarmos sós no universo ou não, é igualmente assustador segundo Arthur C. Clarke , o universo deveria pulular de vida inteligente não obstante aqui na Terra e nas cidades que tanto valorizava Sócrates deixou-se de ler as estrelas e de observar a relva a crescer nos canteiros, criou-se um paradoxo entre premissa e falácia, dissimula-se astuciosamente e o inventado cria metástases difíceis de combater num formigueiro onde todas as formigas são rainhas e se contaminam mutuamente sem reagentes ou antibióticos.

O desaparecimento do pensamento critico nunca tinha acontecido, excepto nos últimos tempos desta sociedade supermoderna, talvez pelas solicitações interactivas que possuímos e nos influenciam negativamente. Nós somos lobos solitários, elefantes e não abelhas ou formigas e nunca 1984 de Orwell foi tão actual, não nos podemos deixar controlar por opiniões ou plataformas, sejam elas quais forem sob pena de silenciar a liberdade individual e colectiva.

“Basta não ter escrúpulos Moraes” morra o Dantas, o Dantas é um paneleiro, o Dantas cheira mal da boca, dizia-nos Almada Negreiros resta-nos a responsabilidade de dizer, O DANTAS era um homem sério, porque dantes havia seriedade e respeitabilidade. O Dantas era um homem a sério, tinha importância vital alguma, como não têm agora milhares e milhares de semi-cidadãos e cidadãs, senão milhões de indivíduos, pessoas que pouco pensam e não pesam na estrutura social, são como lixo nas nossas sarjetas imundas de falsos oradores, adoradores de opiniões rasas, cobradores de promessas num mundo promíscuo, cheio de pragas e reservas ao qual eu me reservo e me tento preservar enquanto me deixarem fazer perguntas difíceis como estas -somos ou não seremos o sonho da matéria – não ter medo da exclusão social numa sociedade de placebos e patetas, não silenciar a liberdade e a responsabilidade de dizer e a levantar questões por alíneas “aos imbecis aos párias aos ascetas aos Lopes aos Peixoto aos Motas os diabos que os levam , os Mattos, os Gaiveus de Albuquerque E TODOS OS DANTAS QUE HOUVER POR AHI!!!!!! ah, E AS CONVICÇÕES URGENTES. Morra o Dantas Pim PAN pum”

Voltando atrás no tempo, muito antes da revista Orfeu, do “manifesto Anti-Dantas” e da critica da razão pura, do antidogmatismo revolucionário e “Coperniano” de I Kant, qual diz que conhecimento não é apenas uma recepção passiva de informação, mas um acto puramente racional de interação e experimentação. Galileu Galilei, ao contrário de Sócrates o qual preferiu morrer para salvar convicções e à posteriori as nossas também, retrata-se desta forma sensata,
“Eppur si muove”,contudo move-se, a minha pátria é a mãe língua e não pretendam que não a utilize, não a mova também desta ou de outra qualquer forma, em liberdade pois, no entanto, ela se move em fase contraria às mentes vigentes, em movimento retrógrado, a contraciclo ….


Álvaro de Campos

As mortes, o ruído, as violações, o sangue, o brilho das baionetas…
Todas estas coisas são uma só coisa e essa coisa sou Eu…

Outubro 20/25

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Jorge Santos /Joel Matos

Sal Marinho, lágrimas de mar.





Eu próprio sou, não aquilo que perdi,
Mas aquele que perto de ser não foi,
Fingi “de sê-lo”, fugi do quer que seja
Narrável, simples dói, mas nã`tanto

E a queda, mais suave impede-me
Cair parado na minha capacidade
Limitada e finita, aliás um baixio
Nas águas que secaram da Núbia,

Sendo agora o Nilo que me empurra,
Chuva parada, porque não ele-eu,
Pois não sou eu quem fala, mas outro
Que nem eu próprio sou, que s’cuto

Com o pensamento, mas o instinto,
Assim como uma mesa grand’posta
Com tudo quanto sinto ou senti, grito
Assim como se me tocassem do além,

O aço nem é tão frio, o brilho alucina
De forma que eu próprio sou e sinto,
Dor agonia, contentamento descontente,
Descontinuado ou continuamente,

Perto do fim céus marfins, montes claros,
À minha frente pacato, um regato
Descreve a espaço que separa do mar
Os meus ramos magros, sal marinho,

Lágrimas de mar…

Jorge Santos 25 Outubro20/25

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Meia hora triste

 




Triste meia hora

Triste meia hora insurrecta,
Fixa no mostrador e por baixo,
Apenas eu não me
Fixei correcto, nem sei que fuso uso,

Fujo de me fixar,
Nem me agrafo
Ao fluxo do tempo,
Fujo do que conheço,

Vivo da má conclusão da hora,
Como se fosse algo
De sobra que se deita fora,
Assim como as ditas horas meias,

Certas vezes em que me desculpo,
Não sei explicar como nem porquê,
Sinto o sonho fixo, definido
Em unidades de tempo

Assim como eu de cabeça
Baixa, tão baixo que nem me reconheço,
Quando passo por mim mesmo,
E me vejo do lado avesso

Da hora boa …

Jorge Santos (04 Outubro 2025)

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Às vezes vejo o passar do tempo,



Às vezes vejo o passar do tempo,
Que é só o que tenho,
Quando estou a sós comigo,
Longe das coisas que não entendo,

Depois penso como seria bom ouvir no vento
O pássaro de corda embora nada tivesse
Pra me dizer cantando,
Que não diga eu respirando ao som mecânico

Deste meu coração de “ponta e mola”

Jorge Santos (04 Outubro 2025)

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O Ser Português

 




Cumpra-se o fado

O Ser Português

Cumpra-se o fado,
Se a emoção for profunda,
Cumpra-se o fado
E essa mesma dor desolada,

Cumpra-se o fado
A titulo póstumo,
P’la rua das pretas,
Ou na s’quina próxima,

Cumpra-se o fado,
À minha janela pudica,
Como se fosse trágica
A alma da noite pálida,

Cumpra-se o fado,
Numa dor perdida, no Tejo,
Na tasca das putas,
Tendo do remorso,

Uma “mea-culpa”,
Cumpra-se o fado,
Por sobre as colinas,
Sete, onde o ar fede,

Pra que sintamos
Sinceramente,
Cumpra-se o fado,
Da medula ao ventre,

Desta gente de coração,
Que ama O Ser Português,
Pra quem devoção, é bandeira …
Cumpra-se o fado,

Cumpra-se Portugal.

Jorge Santos (17 Outubro 2025)

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Mãos que incendeiam sóis,





Mãos que incendeiam sóis,
Sendo eu de pintar incapaz,
Incapaz e sem jeito, ainda
Assim fazendo incendiar,

Incendeio a pouca paz que
Tendo não tenho, estrangeiro
De pai e mãe, ambos lados
Involuntários sem rendimento,

Aptidão, sol a sol é trabalho,
Mãos que incendeiam sóis,
Só eu só não sei o que sou,
Vitral quebrado incapaz ser

Outro, tanto faz se vivo,
Tanto faz se morto, é igual
Não me faço entender, nem me
Entendo velando meio corpo,

Mãos que incendeiam sóis,
Me desculpem por ser eu
Tão débil e quase tão pouco,
Curto o sol curtíssimo eu

Próprio, que como ele me
Não movo, ao contrário
Da Lua cheia, de que procuro
Fugir mas não fujo, não fujo…

Não fujo, não luto, não luto,
Incapaz de ser, não sei …
Um qualquer outro que não
Eu mesmo.

Jorge Santos (20 outubro 2025)

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Não sendo águas

 


Não sendo águas

Não sendo águas,
São fontes vivas,
Sons audíveis,

Saudosos montes,
Amantes descalços,
Terras de conto,

E eu recolho a casa,
Naquele palácio morto
Que não meu,

Nem meu é o outro,
Vento e céu,
Idas coisas,

Perenes vidas,
Perecidas águas
Não sendo mágoas,

São vivas as fontes,
Fontes de vida,
Audíveis sons.

Jorge Santos 24 Outubro 20/25

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