De nada serve crescer no sentir, a arte,
Se esse sentir não matar a fome a alguém,
Não servirá mesmo a mim, de trono,
Um talento esganado de monotonia,
Inútil ,insensível, igual a cláusula oficial, a guião
Morno ou jorna de trabalhador sem pago,
De nada serve a arte com censura, sem tesão de couro,
Porque transforma em ração sem causa
A alma do gentio vazio, num existir inútil
Do querer semelhante a borbulha de pus,
De nada serve uma tesoura minha,
Sem o vosso cabelo a crescer sob o capuz,
A ilusão de conseguir da noite pro dia,
Fazer um poema imprevisto, só Deuses
Através de tentativa e fiasco, seremos nós?
De nada serve um horto sem água,
Mas podar o tronco quase morto fá-lo-á robusto,
Se for por uma ideologia uma arte, uma demência,
Por um esforço, por uma vitória, por um gosto,
Escrevemos com água da chuva,
Um pacto que fizemos com os tigres,
Com a pera rocha do Cadaval ou doutro,
Com castelos e ameias de verdade,
Fortes de Troll’s e montes em Marte,
Olimpos e mesmo que caixas fortes,
De nada serve a condenação da arte,
Senão pra esta ficar podre e fruste
Tão ou mais que a triste noite de cristal
De nada serve sangrar a alma na coifa
Do castrador eunuco, no beco e no pó da rua,
De nada serve uma aula sem alma nem alunos,
Ou uma colmeia sem abelhas será uma alcofa,
Mas uma semente d’erva pode abrir um cofre,
Fazer ruir um “regímen”, semear o mundo de razões e
bravura,
Talvez um dia eu quebre a alma na rua,
De nada serve um corte, sem a alma tua,
Mas cortar a alma em mil nos faz fortes na ira,
Se for por uma ideologia sem correntes,
Por um esforço de valentes, por uma mais-valia, um fim.
De nada serve uma fonte sem a chuva critica,
Uma promessa sem sermão, um assomo
Sem convento nem devotos e receio sem crentes,
Mais forte que dentes d’elefantes, seremos doravante,
Brilhantes e mesmo bisontes de pradarias a perder de
vista
Pois de nada serve o horizonte sem o olhar,
De nada serve a censura na arte de pensar,
Senão pra esta ficar pobre e triste,
Tão ou mais que a triste deusa da morte,
De nada serve guardar a alma numa redoma
Segura mas viúva do ar e órfã da prole,
O censor não tem de bem nem o dó nem o troll,
De nada serve uma aljava sem catana,
Mas uma alma sem culpa pode derrubar muros,
E saldar o mundo de prisões e cativos delas,
Se cultivar uma leira no olhar e um canteiro na voz,
Talvez um dia, prometo eu
Pois tenho as sementes vivas da ira, dormem comigo
E nesta longa, banal conversa, despontam mil...