Tão livre quanto prisioneiro...




Tão livre quanto prisioneiro,
Canteiro e cantoneiro de mim
Eu sou, o engasgo de um fuinha
Felosa, pardal e ninho ou a corça,

Socialmente considerado
Um idiota, no que eu digo
Da minha boca sai um paladar
Ambíguo, á sorte, infinito,

Estou pensado quanto confuso,
O repouso é um suplício,
Mas traz um “rendez-vous” ,
Como uma coisa estranha,

Que rende o que consinto,
Tão de livre como de prisioneiro,
A sorte é um cadinho ao quadrado,
Doce que se farta, quanto amargo

Na boca, fictício. Rebolo-me
Por sargetas em busca de equilíbrio,
Que não tenho na peruca,
Um dia conto fazer um folhetim na radio,

Sinto-o como um direito, simplesmente
Um direito Cível, como se fosse
Consciente de uma consciência
Radiofónica e digital, total…

Não pode haver o mesmo Deus,
Em todo o universo, não pode,
Acabar-se-ia o mistério,
O destino seria um tremoço,

Ou uma batata frita em palitos,
Mal digerida ao almoço,
Mas que pode haver existências
Paralelas, está o meu coração cheio

De provar, tão livre,
Quanto prisioneiro…

Jorge Santos (01/2015)

É fácil apagar pegadas...


É fácil apagar as rasas pegadas,
Difícil, porém, é caminhar
Sem pisar no chão a sombra
Nossa, cúmplice do corpo,

Não a podemos deitar fora,
Nem a deixar no chão, onde mora
E onde a pisamos, está
Acostumada a ser humilde, humilhada

No equilíbrio quasi perfeito,
Entre o vazio da alma
Minha e o chão despojo, aconchego
Do nada que passo sem rasto,

É fácil apagar as pegadas,
Mas ninguém dispõe flores,
Onde não há vasos nem berços, só
Terra estéril, solo e pedaços

Que juntados não fazem um paredão,
Mas cabem justo numa pegada inteira,
Sob os meus velhos sapatos
Com buracos tão junto ao chão

E aos ratos da sola na biqueira,
É fácil apagar meu rasto,
Cúmplice do que nada sou,
Mais fácil é apagar o que nada faço,

Pra mudar este reles mundo meu,
De vaso ou calçado
Ou de uma simples menção na lápide,
Do cemitério público, junto aos legumes,

Sem vagas nas altas campas, apenas nas rasas,
Ignóbeis, estúpidas, esburacadas no chão,
Onde morro sempre à hora da "siesta"
Dentro do roto sapato que me não

Dão e nem é meu, o outro
É do ladrão que o roubou do público
Careca e apagado…





~



Jorge Santos (01/2015)

Por me saber maior do que ele é...






Espero saber Ele que existo,
O mundo aí fora que me exclui
Espero sim, um destes dias,
Me dar o êxito o que puder, cru

Não o que eu pedi, pois nada
É tão indigente, como este país
Por decreto, que e nem um só dia
Esqueço, fechado na malha direita

De uma meia chamada fracasso,
De tudo o que rui e desfaço,
A sorte não me deu a escolher,
Entre o peso mínimo e o Mundo,

Espero saber Ele que existo
No mindinho da mão minha s’querda,
Porque anão me sinto, nu
E triste mais não… mais não

Que esta triste, diária, genética
Visão que nem na lua toca,
Quanto mais no sol incerto,
Que nem no peito me brilha

Quanto menos no posto de trincheira,
Que ocupo nesta guerrilha,
Que me acusa de colaboracionista,
Sem ter em conta o ardor,

Com que me empenho na liça,
Contra cavalos de vento
E os hipócritas da nação, Troia
Do fingimento da negação

Que existo e sou isto tudo, sei
Até à unha do mindinho da mão
sem luva, com que esbofeteio
este coração insignificante médio,

Irrito – me com a razão e o agrado,
Não quero a avaliar
Os meus enganos segunda
Mão, pessoa ou opinião,

Mas espero saber Ele que existo
Na tara perdida
Deste corpo e desta alma sem graça,
Onde o mundo não cabe doravante,

De tal forma o dispenso,
Por me saber maior do que ele é…









Jorge Santos (01/2015)






Atrás de mim Gigantes












Atrás de mim só gigantes grandes
Por quem perdi a vista a nitidez do andar,
A confiança e o tamanho, na noite
Chorei e ainda choro o antes,

Quando perder não era tanta dor
Nem cobiçava daqueles grandes
O ringue nem a subida paliçada
Atrás de mim grades gigantes, Titans

Calçadas e isso não me faz feliz,
Faz-me pequeno, só, raiz d'arroz
Igual a tudo e tantos, a sequela é aquela
De quem é pequeno também vê ama e sente

De pontos com vistas altas e com outros matizes
E mastros imaginando-se grande e mais que desses
Gigantes mortos, mas há que pesar
Na morte as almas às vezes às deles,

Iguais às nossas, Deuses amadores
Cosmonautas de dores amores e Diferenças
Tamanhas tantas...tantas raízes
De fé cravadas em terras dantes

Em campas caras, de doutos gigantes









Joel Matos (01/2015)




Porque poema és Tu








O seixo é poema, sei que
o poema é isso...

Porque o poema é seixo,
Perdi por aí qualquer coisa,
Como pedra no seio da rua
Que piso e desconheço,

Se tivesse percorrido
Outra calçada,
Teria reparado não,
Que as pedras tinham nome

Gravado, Boca e ventre,
Se reconhecem,
Umas às outras,
Pelo toque da pedra,

Porque o poema é seixo,
Lida comigo, acusa e regressa
Ao chão depois duma vida
De perda, ao sabor da terra,

O tempo não muda,
As pedras no lugar da rua,
Elas sempre estão, estarão
Em nós, debaixo do nosso andar

Coxo, há que procurar
A nossa muda pedra,
Mudar de enxerga e rua,
Se isso nos obrigar,

A procura…
As pedras da rua
São quem nos leva às vezes,
Até à falsa lua,

Quando voltamos, já não somos os mesmo,
Mas sou eu senão tu, quem mais
Deseja,
Passar na ruas dos seixos,

A tal que demais se conhece,
E rejeita (parece)
Porque o poema é sexo










Jorge Santos (01/2015)









Canção Cansei









Sei do caminho que acalco,
Cansei,

Sei tão bem que distancia
Vai, da imaginação à feira,
Nunca imaginei eterno o que sei
Dos bocados que enterro

No chão, da paixão de ser
Eterno, o meu caminho de terra chã,
Agora sei que distancia,
Vai do que quero crer, ao esquecer,

Embora o meu peito não tenha
Métrica, a minha certeza
É que a distancia aumenta,
Os momentos que passo a sós

Comigo, na minha boca
Nunca imaginei assim de cadeira,
A ressaca dum caminho,
Até à tasca mais chegada,

Chegado à "venda" acabarei
De me perguntar porque vim,
Que não quero estar ali,
Longe da paixão que consumo,

E consome vivo, não só a mim,
A ti também canção, cansei...








Jorge Santos (01/2015)




Foi Assim Será





Não sei porquê bem,
Todos esperam que
Digamos alguma coisa,
Embora nem por isso (ás vezes)

As palavras são as mesmas,
De há cem, duzentos anos,
Apenas as cruzamos doutro modo,
Na presunção de dizer diferente.

Todos os nove anos,
Elas dão fruto, como a natureza,
E nós não,
Não sei bem como nem porquê,

Tememos ser fortes,
Como a mesma,
Embora tremamos no peito,
Como uma folha ao vento,

Que tem todas as certezas,
E não espera,
Que esperemos por que ela,
Assim seja.

Às vezes não sei bem porquê,
O sentir assim, de mim e você











Jorge Santos (01/2015)




Se por tempo pouco, voltasse a ser novo.




Se por tempo pouco, voltasse a ser novo,
Queria ter no rosto o fundo da alma exposto,
No oposto sempre eu vivi e morro,
Sem ver no espelho o que sinto ou senti,

Se por breve voltasse a ser novo,
Seria o que sempre sonhei ter, o tempo
Pra sonhar o sonho de voltar a ser
Jovem com as barbas russas de velho

Ermita, rugoso e sábio por dentro como lixa,
No coração um olhar de moça virgem,
Surpresa por todas as fases,
Que a vida dela tem e do gozo na lisa pele,

Aposta na face como um troféu,
Resgatado de Atenas ou Hollywood.
Se por breve voltasse a ser moço,
Jamais quereria ter a braguilha no bolso,

E as ideias poucas que por estes dias,
Têm os nascidos velhos por dentro,
Todavia novos, (por pouco) como carcaças,
Remotas máquinas de olhar distante,

Com pouco miolo sob a fina côdea,
Se por tempo pouco, voltasse a ser novo,
Não quereria definitivamente ser carcaça
Seca, mas sim pão daquele que se come velho,

Mesmo com bolor por dentro, como o queijo.
Se por pouco voltasse a ser novo,
Voltaria o rosto pro sol-posto, lá seria
O meu novo lar e esqueceria o outro,

Onde cresci suposto filósofo sem carreira,
Nem clareira, poeta hipócrita, o que sobrou
De mim fica onde ficam todos no fim,
Onde sempre vivi e onde morro,

Se por tempo pouco, voltasse a ser novo...











Jorge Santos (01/2014)

Longa e banal conversa...





De nada serve crescer no sentir, a arte,
Se esse sentir não matar a fome a alguém,
Não servirá mesmo a mim, de trono,
Um talento esganado de monotonia,
Inútil ,insensível, igual a cláusula oficial, a guião

Morno ou jorna de trabalhador sem pago,
De nada serve a arte com censura, sem tesão de couro,
Porque transforma em ração sem causa
A alma do gentio vazio, num existir inútil
Do querer semelhante a borbulha de pus,

De nada serve uma tesoura minha,
Sem o vosso cabelo a crescer sob o capuz,
A ilusão de conseguir da noite pro dia,
Fazer um poema imprevisto, só Deuses
Através de tentativa e fiasco, seremos nós?

De nada serve um horto sem água,
Mas podar o tronco quase morto fá-lo-á robusto,
Se for por uma ideologia uma arte, uma demência,
Por um esforço, por uma vitória, por um gosto,
Escrevemos com água da chuva,

Um pacto que fizemos com os tigres,
Com a pera rocha do Cadaval ou doutro,
Com castelos e ameias de verdade,
Fortes de Troll’s e montes em Marte,
Olimpos e mesmo que caixas fortes,

De nada serve a condenação da arte,
Senão pra esta ficar podre e fruste
Tão ou mais que a triste noite de cristal
De nada serve sangrar a alma na coifa
Do castrador eunuco, no beco e no pó da rua,

De nada serve uma aula sem alma nem alunos,
Ou uma colmeia sem abelhas será uma alcofa,
Mas uma semente d’erva pode abrir um cofre,
Fazer ruir um “regímen”, semear o mundo de razões e bravura,
Talvez um dia eu quebre a alma na rua,

De nada serve um corte, sem a alma tua,
Mas cortar a alma em mil nos faz fortes na ira,
Se for por uma ideologia sem correntes,
Por um esforço de valentes, por uma mais-valia, um fim.
De nada serve uma fonte sem a chuva critica,

Uma promessa sem sermão, um assomo
Sem convento nem devotos e receio sem crentes,
Mais forte que dentes d’elefantes, seremos doravante,
Brilhantes e mesmo bisontes de pradarias a perder de vista
Pois de nada serve o horizonte sem o olhar,

De nada serve a censura na arte de pensar,
Senão pra esta ficar pobre e triste,
Tão ou mais que a triste deusa da morte,
De nada serve guardar a alma numa redoma
Segura mas viúva do ar e órfã da prole,

O censor não tem de bem nem o dó nem o troll,
De nada serve uma aljava sem catana,
Mas uma alma sem culpa pode derrubar muros,
E saldar o mundo de prisões e cativos delas,
Se cultivar uma leira no olhar e um canteiro na voz,

Talvez um dia, prometo eu
Pois tenho as sementes vivas da ira, dormem comigo
E nesta longa, banal conversa, despontam mil...










Jorge Santos (01/2015)

...que fizer por cá...









A sabedoria não é o princípio e o fim do mundo, o céu,
Limite é aliado da minha inteligência apagada,
Comum é a altura total do quanto é curto,
Sabedoria é não entender bem tudo,

Estar calado, não escutar solto
É o inconveniente omitido,
É coisa alguma, é o estar
Sem estar perdido, o ar

É o cabelo dum morto
Sagrado, é o labirinto
É o subir num estrado,
Sem alcançar certo publico

Debaixo, a concha, o bivalve
Em si, o presente, a serenidade,
Sabedoria é a certeza que se tem,
De não entender o sentir sem o saber pesar,

Sabedoria não é um luxo, é um dever, uma reação em cadeia…

Dêem a um homem uma máscara de papelão,
E ele vos dirá o que não sabe, mesmo o mau e pobre
Dêem-lhe um espelho liso e ele verá apenas no reflexo

O que quiser ver, se lhe derem uma testa de cobre e zinco
Obterão um ser d’estanho toda a justiça lhe caberá por direito,
Causa efeito de qualquer guerra e conflito, o tudo e nada,

A noite, a sombra, o ilustre, o encoberto e o mandado
Em retorno fracassarão as ilusões, ideologias
E a inteligência será mandato, dirigente,

Subirá ao púlpito a mediocridade,
E o subterfúgio a maldade,
Ao palanque, o justo

A mente, a razão
E a obra
Qu’fizer
Por
Cá.









Jorge santos (12/2014)





Dorme em mim parte de um país sem teto.




Não sei em que praça-forte pára,
O mando Deu-la-deu real ou fábula,
Não sei se m’avergonhe de seu
Móbil ou me agache, repleto d’honras,

Era mestre das grandezas que ditei,
Ou diria o meu espanto, se dizê-las,
Já não fosse meu nesse encanto, os feitos
Na ilha dos insatisfeitos, eu de facto

Nem memória, quanto mais história-
-Tempo na escala humana e terreno,
Era mestre das grandezas que fazia,
Com espadas e navios escunas, me vejo

Na ilha dos insatisfeitos mansos
D’agora, que se m’acaba o mando
E o navegar e a descoberta vã,
Sem esperança boa me acabo raso,

Manso como escama de peixe fome,
Fosse cruzada pátria minha heróis,
Sem nome lá onde ficou encardido, dado
O estandarte do deve e dever chão,

Não sei em que praça-forte pára,
A ilusão tão feia da certeza que sou,
Nem nobre nem cavaleiro d’então,
Sou a sombra ruim d’algo que cruzou,

Os céus e não era eu era Deu-la-Deu
Infante, honra que de haver me esquece,
Incolor o meu manto o meu cinto,
Dorme em mim, parte dum país sem teto.


Jorge Santos (12/2014)

tradutor

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