Façamos um pacto ...






Façamos um pacto,
Com aperto de mão e tudo,
Até onde o cotovelo
Chega e o braço alça,

Tu nesse canto,
E eu nesta praça,
Façamos um pacto
De esperança e d'graça,

Porque a vida roça
À pressa e passa,
Façamos um pacto
Rosa e serenidade moça, 

Façamos um pacto, 
No meio das ruas tais,
Por tudo que cabe,
Não nas lojas, mas 

Nas tuas mãos, duas
Até onde o cotovelo
Chega e a mão alça,
Façamos um pacto,

Tu nesse canto,
E eu nesta praça,
Façamos um pacto,
Enquanto há claridade

E é dia no campo
E nest'outra cidade
O sol-se-pondo, dança
E valsa lento, lento

Como de embalar, canção...














Jorge santos (01/2017)





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Afinal me perco em Sófia ...







Afinal me perco, nem lembro quantas vezes
Nos parques de estacionamento, na sombra
Dos edifícios, nos lugares dos objectos cinza
Afinal me perco nos bairros salgados, tristes,

Quem disse haver no baldio uma paisagem
Mentiu, passei da convivência, à sombra que
De noite está, sem haver lembrança, mesmo 
Vaga do outro dia "ainda ontem" quem outro

Eu era...Afinal me perco do que seja querer
E deixou de o ser, sentimentos em vidraças,
Incomuns, descomunais cidades de gigantes
Perto de aonde afinal me perco, nos parques

De estacionamento com passagem apertada,
Urbanos, afinal me perco, nem lembro, tantas, 
Quantas vezes em Sófia Sofia...












Jorge Santos (01/2017)








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O mistério ...





Eu tenho dos montes
O mistério e as janelas,
Já a criação é d'Outro,

Assumo a paternidade,
Apenas quando estou
Porta fora e desnudo

Do que eu tanto uso
E exponho poentes 
Nos olhos outros - o divino

De haver flores
Aos montes pra
Quem sabe olhar nelas,

Venho dos montes,
Recolhido no pensar 
Destas e d'esses secretos

Olivais, fontes, cores, pontes, 
Montes e olifantes...




Jorge Santos (01/2017)
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Obrigado e Adeus ...







Querido amigo, acresce por milhão e meio
O singular abraço que o humano
Tem de alguém por igual e ele,
Quando nos miramos ao espelho
E vemos Deus saindo do ouvido
Esquerdo zunindo singulares sons,
Sou eu e tu unidos no significado
Que o humano souber ter das palavras
Amizade, obrigado e adeus ...





Jorge santos (01/2017)

Enfim livre...




Apetece ser livre e natural
O instinto não quer prisão,
Assim como uma criança,
Quando olha pela primeira

Vez o céu, larga a mão da
Mãe e ganha a noção de si,
Apetece ser homónimo da
Paisagem e do pertencer ao

Solo que me viu nascer, ao
Enigma que é ter vida, lugar
No movimento dos astros,
Apesar de não os vermos,

Acontece olhar o céu parado
Em mim e sobre, ao lado,
Consciente do meu fim,
Começo por isso a existir

Livre,natural espontâneo
Espantado e criança,livre enfim...




Jorge Santos (01/2017)
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Redentor Rei-Cristo ...






Será Jesus Rei-Cristo,
Quanto mais vivo,
Mais singular sinto
Minha alma desigual,
Semelhante ao Cristo
Rei do Pão-de-Açúcar
Espantando turistas tolos,
E passarinhos pombos,
Quando comem alpista,
Das mãos e bochechas,
De Jesus Cristo-Rei,
Do alto do Açúcar-Pão,
E um povo sem ter,
Ao vivo quanto muito
Igual a uma migalha
Na palma da mão ou o rosa sal, 
Dos donos destas Nações
De mansos tal esta
Alma Lusitana, singular
Igual na mansidão e uso
Eu digo não ,eu digo não
Eu digo um não profundo
E a isto…
– Será Cristo-Rei Jesus da dor,
Quanto mais vivo,
Mais singular sinto,
Minha alma “inigual”,
Semelhante ao Cristo,
Rei do Pão-de-Açúcar,
Espantando turistas 
E passarinhos pombos,
Quando comem alpista,
Das mãos e bochechas,,
Pouquíssima gente
Sabe disto …
Será Jesus Rei-Cristo

Palavras nuas





Há palavras que são nuas como ferimento
Em carne viva, irreconciliáveis com o ar frio,
Como a ciência e a alquimia, lido com todas
Em determinados períodos da vida, 

As significâncias são as que emprego,
E não aquela que vem nelas expresso
Por defeito e o que for preciso nem digo,
Toco no cabelo, esboço um sorriso 

E sigo ...


Jorge Santos (01/2017)
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Fácil é sonhar, repetindo ...






Fácil de sonhar,
De gostar fácil,
Difícil encontrar
Na lua o curvo

Da terra azul e frágil,
Fácil é de gostar
Difícil é redesenhar
O sol na terra, ao cubo,

Táctil o mundo,
Mas não tudo
O resto, o mistério
Do pensar ser eterno,

Fácil o sonhar,
Dizer é vago, falácia
E o pensar é nada,
O difícil é despertar

Dum sonho repetido...



Jorge Santos (01/2017)
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Dá inveja, a gaivota a gritar.





Dá inveja, a gaivota a gritar
A inércia e o voo, grita no meu corpo
A consciência do que sinto deter-me,
O ar, acaso sonhasse ser outro

E fazer deste corpo parte, o voar 
Qu'inda não é tarde pro voo suave
Ter lugar neste peito publico
De feijão-frade, verde-frio e vácuo, 

Que seja ele bíblico ou não, sossego
E prossigo, persigo a inércia do voo
Quero-o comigo e melhor que o sonho
É o sonhar do ir e vir do vento.

Dá inveja, a gaivota a gritar
Fio de prumo sobre-o-mar, o cais,
A tempestade e a bonança, 
Ousarei eu voar até onde ind'há 

Esperança e ar se'inda não é tarde,
Suave o corpo d'ave espírito da voz,
Inércia do voo, sofro da condição
Que sirvo, servo de um chão duro,

Não me alivia, oprime saber e vida voa
Independente de obra minha,
Palavras são vento em cabelo.
Consciência o que sinto, persigo-me dentro ...









Jorge santos (01/2017)







Monção




Não digas coisa alguma, 
Apenas que é tarde, o resto
Só metade é dizer, a outra
(Os meus sentidos poucos)
È falso e o falar está gasto
Ou é coisa nenhuma,

Não digas apenas alguma 
Coisa, a vida é chuva e o vento
Corre corre sem alcançar coisa
Alguma, sem alguém que
O siga pra onde se diz q'vai
E não volta,

Apenas é tarde pra quem 
Diz que saudade é ficar,
Supõe que o dia é sonho fixo
E a forma de acordar é sonhar
De novo como se não passasse
Dum pequeno sonho 

O nosso dum outro em uso,
Não digas coisa alguma, 
Apenas é tarde e dorme dentro
A parte de mim que é nada,
Nem a outra é toda desta Terra
Amarga,

Mas lá cima atada, toda chuva,
Alma é vento seco e monção
O oficio que tem esta é o inútil e o vazio,
A que outros têm é tudo
Quanto eu desejo ou quisera ser,
Sonhar é o engano, o logro e o nada ...







Jorge santos (01/2017)




"Deo-ignoto", Ateu




“Deo-ignoto”
Sendo dos que na força de irem tudo põem, 
Não inspiro nem acho o sítio onde ir e estar,
Sala ou quarto de Lua ou penhasco, tudo é
Falso, andaime ou lusco-fusco o que me fiz
Ser, quanto ao sítio, figuro que não existe
Nem desejo há, de tê-lo ante mim tendo-o
Onde não chegarei mais. nem estes covardes 
E estéreis cotovelos, castrado eunuco sou
Eu, sopé do mundo, rude-hebreu, “Deo-ignoto”
Ateu, consola-me conviver com a chuva-triste
E a sombra do que não existe mas se admite
Como sendo silêncio físico, crepúsculo e magia,
Sendo dos que na força de irem tudo põem,
Comporto-me segundo a intuição e não a ciência
Como instituição palpável probatório fixa
E o ir faz parte da descontaminação e da educação
Do fugir ao vulgar e à vulgaridade do sítio a fingir,
A fuga cria a diferença entre o criador e o incriado,
Invisíveis mas pares na arquitectura íntima
De todos os sonhos que tenho na beira do mundo.


Jorge Santos (01/2017)


Estranhos cultos ...







O que tememos ter é sentires ocultos, estranhos ...

O que tememos é ter sentidos diferentes,
Ocultos em tudo o que sonhamos e ser
Estrangeiros na global casa e na nossa,
Embora íntimos quanto do acorde a viola,

O que temos é sentidos efémeros,
Tão breves, tão tímidos por vezes
Que nem sentimos ter e quantos,
Quanto mais pensar que possa haver

Sentidos sem intenção outra menos perene
Ou fé mansa de sentir e sentir somente
Sob qualquer recolhido véu, céu, derrota
Ou dó, assim como sentir que passa

Uma sombra, sem a lembrar de ver, possamos 
Apenas sentir no ar o correr do vento,
Tão breve quanto oculto e mudo,
Tão só temos sentidos efémeros, imperceptíveis

Quanto o real é ser uma espécie de visão
De sonho comum, no fundo nós
Somos o que sentimos, transitórios, passionais
E terrenos embora sejamos passageiros

Do que nada sabemos, sentimos
Como vivendo ao vivo nossos sentidos
Tímidos, íntimos do que a alma sonha,
Efémeros quanto belos …sejamos estranhos

Bastante, desajustados sensoriais, sensacionais,
Não tenhamos receio de sentir demasiado .











Jorge santos (12/2016)






A-Marte






Por ti fundei o movimento dos corpos 
E o drama dos quiescentes da alma,
A consciência que morro cada passo ou
Momento que passa, por ou sem querer,

Por ti fundei uma torre chã que nem negro
Cedro ou como fosse giesta escura,
Assim o breu e a noite negra tricotada.
Por ti fundei o ar e o chão que em volta

É frio como deve ser o frio e o ter corpo,
Movimento e consciência da morte.
Por ti fundei o sentir que escapa ao espaço,
Ao cujo que na alma reconhece

O tom ou a cor dos cedros parecendo aço que 
Por ti plantei ao longo dos caminhos, no topo,
E o movimento nos astros que tremem
Por, ou sem querer ser mudos, apenas sóis 

Por nós alcançáveis, alcançareis um deles,
Longe a consciência da morte, antecipo
O futuro longe, longe, longe, longe
Em Marte …Por ti fundirei o aço ao enxofre








Jorge Santos (11/2016)




pra sempre ...








Sigam os nossos pés ciganos
Por onde sigam pisamos
Incondicionalmente e sempre
O mesmo chão de filhos e netos.

Há que aprender o voar secreto
Das aves no paraíso supremo
Pra suspender os pés no ar
E aliviar as pegadas do peso 

Em excesso e que cresce dia 
A dia quando caminhamos
Calçando os sapatos de sempre
E os mesmos de toda a gente, 

Ciganos são os pés meus que sigo,
Por onde prossigamos nossas vidas
São os espíritos e não nós quem 
Caminha ou se voamos na mente

De nossos netos e filhos pra sempre,
Incondicionalmente suspensos
Nas estrelas e nos horizontes céus
Não somos nós, é o voar de quem

Aprendeu das aves o segredo
E caminha sem peso nas madrugadas
E ao anoitecer e em todos esses céus
De fogos suspensos pra sempre vivos,

Pra sempre ...








Jorge Santos (10/2016)


Conseguisse eu ...




Conseguisse eu conversar
Num peculiar, anónimo 
Ou mesquinho remédio
Anódio, placebo sem efeito
Quanto a melodia 
Que tenho vindo a cantar
No meu canto peculiar
Vago, conseguisse eu
Dar a um bardo encanto
Que conduzisse a vontade quando
Alheia ao que falo sem efeito,
Pois se tudo o que digo respiro
De verdade como converso
Em estrangeiro, 
Essa língua materna
Da ilusão que se sente
Numa única frase, 
(Se a quisermos achar)
A melodia que tenho vindo
A cantar,
Conseguisse eu,estrangeiro
Achar-me na vossa alma
Peculiar quanto baste
E branco …
Jorge Santos (10/2016)
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Aquando dormem as estrelas ...








Aquando dormem as estrelas, 
Dedico a alma a evocar o dia
Na quinta que rodeia o coração
Meu, como um mundo onde existo

E sou seu ,aquando dormem as 
Estrelas consigo pôr a alma fora
E a noite dentro do peito, evoco
O dia por receio de não amanhecer

Numa parte da alma e não em todo o céu,
Aquando dormem as estrelas em
Minha roda a lua é minha esposa,
Minha terra e esta alma confusa

Dedica-se a evocar o dia que destrói,
Tal como se fosse nação da guerra,
O sol, embora sendo igual o pó
Desta terra e os escombros que tem,

Aquando dormem as estrelas, no céu
E em mim repousam ou dançam de roda
Evocando o que há-de o ser novo dia
E é vida, antes coisa nenhuma,

Aquando dormem as estrelas, nos montes
Meu coração corre e canta ao meu ouvido
Coisa alguma, suposto seria eu escutar
Quanto o coração sonha dentro, em mim 

Vigia meu sonhar único, colado ao ouvido
Atento, na penumbra aquando dormem
as estrelas e o céu rebola e rola ...








Jorge Santos (09/2016)




Me levem os ares ...






Me levem os ares porque quero
Pertencer ao terreno ignoto sem
Precisar que me adornem a campa
Ou que me chorem e ao que oprime
Saber ser corrompido como esteiro,

Me levem os ares num soluço
E em poeira abale pois os caminhos
São feitos de pó e é um privilégio
Ir pegado aos sapatos e cascos,
Aos buxos e às árvores e às aguas,

Me levem os ares e a emoção
Com que vivo num nó gordo amarrado
Até ao mais profundo dos abismos,
Para regressar nos outros, nos parques
E na paisagem ou ficar no ar

Pro resto da minha vida,me levem
Os ares e me deixem sentir ser
Parte da vossa, como a dor ou a alegria,
Eu estou onde o meu espírito paira,
Apenas não sei definir como e onde,

Me levem os ares sem substancia,
E ao couro do meu corpo pra onde
Não preciso de sensações ou de cura,
Para o infinito desejo que ainda visto,
E vibra tanto, me levem ...




Jorge Santos (09/2016)
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Incólume quanto Ricardo Reis ...





Incólume quanto Ricardo Reis ...



Há quem diga que viu,
( tomando por reais as coisas que o não são)
um escritor de língua pátria nos soturnos passeios
duma rua da freguesia de Campo Grande


1700-190 Lx a 30 Novembro, pelas 5 horas
da madrugada,
- faz mais de um século, quase nada,
continuam magníficos, talhados, incólumes
quanto a cidade por onde ainda passam descalças
e calçadas,
pessoas pequenas e grandes, enormes


Nessas soturnas calçadas caladas
do Campo Grande ao Chiado por
onde passam grandes enormes pessoas e pequenas também,
ficaram descritas com cem palavras nos passeios
talhados desta cidade azulejo
que nem de azul ou anil tem, ou se veste do Tejo certo
nas cores ou sem elas bem,


Mas usa de palavras como se fossem
os céus sete e os desejos
mil pedaços certos, desta pátria incolor
e incólume ,
Ficou escrito como um grito de ar em luz crua
dessa cidade que dorme,


Há quem diga que foi por sentir correr
por si o rio como por seu leito a 30 Novembro de 1935,
tal e qual como no ano da morte de Ricardo Reis



Jorge Santos(10/2016)
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tradutor

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