Sem estar, s’tou …




Sem estar estou,
Eis quanto e comum,
Eu sou ao ponto de ser
Peculiar em mim o ridículo, 
Sem estar, estou apenas
Cansado de estar cansado,
Sorrindo sem estar contente,
Sem estar s’tou noutro lado
Diferente e igual, sem estar
Me vou sentando entre gente,
Sinto-me pensar sem querer,
Perdido sem me perder, a ideia
De me perder é um desejo,
Um compromisso que assumo,
Tal como sonho o espaço,
Sem o ver sem i’estar, sem o ter,
Como quem conheço desd’início,
Apenas plo sorriso, 
Que podia ser d’alegria ou não ser,
Afinal que sorrir’alma tem,
Apenas cansaço eterno,
Minha ilusão terrena,
Nem outra coisa é preciosa
Mais pra mim, qu’esse alguém
Nesta ausência total de gente,
Eis quanto e comum
Eu sou neste triste circo,
Que tão pouco vida ou fera tem,
Procurando o que não encontro,
Sonhando o que não existe,
Sorrindo sem vontade a tud’isto,
E a quem está cerca sem estar
Perto …

Não sei se crer na sombra ou no luar …





Não sei se crer na sombra ou no luar,
Sendo isso verdade e eu Moby Dick
Não sei se crer na sombra ou no luar
Da noite escura, no monstro que
que pertence a outros e a mim mais que todos,
Pois isso são o que são os sonhos,
Dando sobre o mar a impressão
De serem monstros marinhos,
Negros quanto os medonhos rochedos,
Sendo isso verdade e eu Moby Dick
Do género dos demónios que há, e eu penso
Se será verdade o que sinto, Moby Dick eu,
Sombra do luar, segredo obscuro guarda o mar
De mim, marinheiro sem barco, delfim eu,
Não sei se crer na sombra ou no luar,
Cansado de ser espuma, ponho-me a sonhar
Ser isso verdade e eu Moby Dick,
Não sei se crer mais no mistério que no mar
Inteiro, sendo nele que vejo o céu descer
E o horizonte lunar quieto… cedo
Desperto eu, consciente que ele me leva p’la mão,
Não sei se crer na sombra ou no lugar
Onde me acrescento ao medo,
Sendo Moby Dick eu,
Isso são o que distam sonhos meus,
À inquietações de ser, que me dói mais hoje
E que antes nunca .

I’nda ontem…






I’nda ontem…
I’nda ontem era em azul o tom das tuas íris
E imensa a solidão dos teus dias/meses, dirias
Inúteis os malmequeres e os campos verdes
Ou o regresso das estações q’inda ontem eram
Certas, azuis e bege como os planetas que vias
Luzindo, Sírius Pólux Arcturus, em torno
De ti paisagem, ontem azul hoje bocados lembram
A natureza que não fala que não tenho, pensar
Não pertence a ninguém nem a mim mesmo,
Natureza somos todos, cremos na passagem,
I’nda ontem pensava assim das coisas que digo
Como se faltasse dizer ainda alguma coisa,
Interpretar os sentimentos, ter opinião capaz
De governar uma sociedade ou tornar lúcido o instinto,
I’nda ontem era em azul o tom das tuas íris.
A solidão tem dias tal como a alma tem figura,
A gente nega o que são vultos negros no chão,
Por serem negros, porque o são, sombra é ruído,
Regressa com as estações do ano ou uma roda partida,
O barulho do sistema solar sem freio,
Luzindo, Sírius Pólux Arcturus, Betelgeuse,
Cephei, em torno de mim paisagens de quanto
O deserto me faz chorar e se parece comigo
Até ao mais ínfimo grão de areia,
Assim os malmequeres nos campos verdes, 
Inúteis ao meu ver …

Falar não tenho,






Falar não tenho,
Sou adiantado em relação às horas,
Acordo ainda não vendo ninguém,
Passam todos por mim aquando deito,
A dor nos outros em mim é delito,
Não sigo caminhos que tenham sido
Pisados, nem peço pra ser ouvido, 
Pois ninguém ainda me ouviu hoje,
No fundo não sou semelhante a Deus,
Venho adiantando aos poucos desde
Cedo, como se pertencesse a outro
Universo e até o pensar eu antecipo,
Assim não falo, sonho, falar não tenho,
Assim não me demoro nem me engano
Em relação ao tempo, no falar nem tanto …

Dizei que rio …








Dizei que rio, 
Direi que trist’ando,
Dizei que existo,
Direi que me não ouço,
Dizei me perco,
Direi m’encontro,
Que manso me fico
Entre o parecer feliz
E o chorando a fio
A dor que não tenho,
Vivo da tristeza alheia,
Que nada vale “se-calhar”,
Dizei que rio,
Sorrirei “até-mais-não”,
Mesmo que soe a falso,
Os olhos não têm tacto,
Nem os ouvidos boca,
Escondo as mãos demais,
Não deixando os dedos,
Denunciarem o que penso,
Ou os joelhos saberem,
Que me perdi
No campo,
Direi que existo
Nas flores do mato,
Caso lembre,
Que das dores esqueci já,
A floresta é dentro de mim e ela
P’lo tacto diz-me que sim
Tudo quanto desejo é lá,
Pra isso existo, mas apenas
Do lado de cá…

Invejo aquele que nasce e não morre, o Tejo ...








Tudo o que sorri me alegra
O rio, sobretudo o céu azul
Um barco, o embarque no
Cacilheiro, Porto Brandão

Cacilhas, ao raiar do dia
O Barreiro, parte de mim,
Ou o que eu mesmo fui.
Tenho no rio a quietude

E a surpresa se se pode
Chamar assim à tristeza
Que me dá quando vejo
Aquele que nasce e corre,

Como nas veias sangue
Verde/azul-cinza, mar
Tagus, tudo que sorri
Me alegra,sobretudo

O rio ...



Jorge Santos (07/2017)
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Sem estar, s'tou ...








Sem es’tar es’tou,
Eis quanto e comum
Eu sou, ao ponto de ser
Peculiar em mim o ridículo, 
Sem estar estou, apenas
Cansado de estar cansado,
Sorrindo sem estar contente,
Sem estar s’tou noutro lado,
Diferente e igual, sem estar
Me vou sentando entre gente,
Sinto-me pensar sem querer,
Perdido sem me perder, a ideia
De me perder é um desejo,
Um compromisso que assumo,
Tal como sonho o espaço
Sem o ver, sem í’star, sem o ter
Como quem conheço desd’início,
Apenas plo sorriso 
Que podia ser d’alegria ou não ser,
Afinal que sorrir’alma tem,
Apenas cansaço eterno, 
Minha ilusão terrena, efémera,
Nem outra coisa é preciosa
Mais pra mim qu’esse alguém,
Nesta ausência total de gente,
Eis quanto e comum
Eu sou neste triste circo,
Que tão pouco vida ou fera tem,
Procurando o que não encontro
Sonhando o que não existe,
Sorrindo sem vontade a tud’isto
E a quem está cerca, sem estar,
Apenas um esquivo e disto, pretenso,
Ridículo, “snob”.
Eis quanto e comum
Eu sou, tal qual o ar tíbio
Em que, pra sempre me vou …

Licença pra entender






Peço licença pra entender
Peço licença pra entender
Mais nada senão a verdade,
Para ver o mundo exterior 
Como ele é e contemplar a 
Vista e menos eu próprio, 
Peço licença para fazer 
Uma catedral de um piso
Com o impulso do corpo,
Que seja com o único fim
De sentir por vez única
O púlpito, se sagrado ele é
E útil aos outros mais que
Aos céus, peço licença pra 
Ser eu a descrição do que 
Sonho e a sensação vivida, 
Peço licença pra saber
Quem ocupará o túmulo 
Depois de eu morrer,se
O êxito barato ou o fracasso
Da força do simples querer 
Já que agradar não me chega,
Não me faz cantar, apenas um abrir
E fechar exacto de maxilas 
Enquanto passo as mãos pelos 
Cabelos oleosos, rasos … 

Sinto saudade do que não sou,




Sinto saudade do que não sou,
O que vês é nada, esqueci
O pensar como fosse palha
Ao vento, como vês deixei

De ser outro pra tornar ao nada
Que sempre fui, esqueci por
Momentos que o nada basta
E sempre fui e serei o quanto

Sinto, saudade de quem sou,
Normalmente um nada eu todo,
Um todo-nada eu, nem mais
Nem menos que um morto-vivo

Sempre, o plural de nada ou
A definição nítida de um vazio qualquer,
Sem expressão, quanto à minha vista.
Lei ou justiça, quem dera não ser,

Nem formar sombra na rua,
Em redor do rosto banal, estúpido
Embrulho de um insatisfeito,
Sinto saudade da realidade

Construída a brincar, do brilhar
Dos pastos lá fora quando há lua,
Para quê pensar se a forma é humana
A que o espelho tem, vulgar

Quanto a justiça e a lei, importância
Nenhuma, pois ainda não sou
Ideia absoluta baseada no que creio
Ser, sou a noção que alguém teve d'mim

Outrora e antes e em mim mora rente,
E eu esse sou, sinto.










Jorge Santos (06/2017)
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O vento anuncia-se pelo ruído ...




O vento anuncia-se pelo ruído,


Do vale até ao monte o caminho é curto
Para o vento norte, o rugido é grosso e penso
No silêncio e o que é não tê-lo face ao ruído
Todo do mundo, ele se reproduz como rato

E peste, inumano, pano de fundo, boca de 
Sena, do vale até ao monte foge a razão
Da gente voando, e o trote do vento é a morte
Cavalgando, o meu não ouvido percebe o rugido,

Suspeito ser o suspiro derradeiro do horror
Do vale ao monte desespero e morte,
Luto e guerra, fez-se escuro no meu reino,
Deixei de ser rei e em pedaços voo, 

O vento anuncia-se pelo ruído arrancando
Folhas e ramadas, qual juízo final do mundo,
Balouça a minh'alma cadenciada, "a monte" ...


Jorge Santos (05/2017)
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Gostei de preencher de sonhos, instantes





Gostei de encher de sonhos pequenas nações
E o que atrás eram pombas dormindo apenas,
Deixei um tear de instantes, paixões do que entre
Mim e elas há ou houve e nos pacifica de veludo,

Gostei de encher de sonhos os que conheço,
Indivíduos que lembram sem querer, pombos.
Imito as próprias vozes deles todos a falar,
Depois talvez eu endoideça, há um sexto sentido

Que me diz não serem pombas dormindo em 
Camas de veludo, mutantes doutros mundos
Que não este de pequenas nações, calmas pombas,
Pensar eu que tudo é assim, espécie de sonho

Enchendo sonhos e outras nações pequenas, 
Imaginações e paisagens suspensas, suspeitas,
Mar que seja de penas, tear d'aves feitas,
Nem sei do que estou falando, veludo e dia.





Jorge Santos (04/2017)
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Reis, princesas e infantes



 




Reis, princesas e infantes



Foge de mim um sonho
Que é ter mando e ser rei
Dos anfíbios e das charcas,
Mas a chuva só cai longe

Os barcos não me levam
Onde há sapais e charcos,
O meu grande desejo é
Escutar de noite e sempre

Infantas que foram agora
Sapas e eu rei das poças
Nem, quanto mais ouvi-los
Coaxar às "noivas-infantas"

Pedindo beijos nas bochechas
Gordas e verdes, ranhosas
Como sapos as têm, tolos
Anfíbios das poças de lodo

E eu nem rei nem bote
Onde nem sapais há ou charcas,
Foge de mim o sonho,
Que é ter mando ou sorte

De Reis, princesas, infantes …


















Jorge Santos (04/2017)









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Valham-me as palavras boas ...





Valham-me as palavras boas,
E tudo que haja a devolver
Seja composto do falar,
Natural tanto como o dia

Ao nascer e a hora que foi,
Valham-me as palavras,
As maduras e as outras
Azuis da cor dos beiços 

Que trago neste lugar,
Que pra mim é a alma
E a devolvo porque real
Existe e o falar é vão e

Compósito demais, valham-
-me as palavras e o dever
De pôr o coração à frente
Das costas quando digo:

-Valham-me as palavras
Em tudo que haja a devolver
Por mais pesado ou leves
Tanto quanto folhas mortas,

Cabelos de prata, horas que fui
Real, postiça a ilusão, inútil sou
Eu só, valham-me palavras, 
As más...as doces e as boas.




Jorge Santos (04/2017)
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Não confies na força das tuas asas, confia no ar que sob elas passa ...






Não confies na força das tuas asas,
Mas no movimento que as traz detrás 
Pra frente e na vontade que faz voar
E ninguém tira ou pode tirar, confia no ar

Que as sustenta no vacuo e onde ir, no prazer
De voar e no uso do saber que é de
Ninguém e o princípio de tudo que é o voo,
Que importam as sensações se a vontade

É tudo e o limite é um céu e a forma
De o olhar é sobretudo sentindo círculos
Circunferências e esferas como um artista
Sem conclusão, acordado à noite agradecido

Por ser humano em óxidos e enxofre, 
Não confies na força das tuas asas incorpora-as
Nas mãos por ainda não ter passado
O teu futuro de libélula adormecida,

Oxalá os meus olhos se colem à substancia
De que é feito o cosmos, e ás asas desses anjos
Complexos que me fazem aqui estar e ser
Até tão tarde, viciado em ar e no movimento deste ...


Jorge Santos (03/2017)
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Em silêncio ...









Em silêncio as guerras,
Os navios sem velas
E o mar vencido nas guelras
Dos peixes, a tristeza também

De não ter o mar imenso 
Na imaginação e escrever
Com ela em guerra,
Como ela em mim, 

Em silêncio as guerras
Mas não em mim, as ilhas
Por certo, distancio-me delas
Com silêncios plo'meio,

Meu barco vazio nem tem velas,
Os ruídos são dos nós duros
Dos meus dedos dez,
Na madeira do velame 

Navegando em vão,
Em silencio as guerras,
E o trovão que esta alma
Nega ser,

Navio sem vela,
Barca de lenho e eu sem arder,
Quanto mais escritor
Do que azul é, eu sem ouro 

Com ele enterrado algures
Como qualquer outra coisa,
O sagrado ou um tesouro, 
Desses com brilho de fumo,

Efémero e termo...




Jorge Santos (03/2017)
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Minh'alma não tem uso pra mim,





Minh'alma não tem uso pra mim,

Minh'alma não tem pra mim uso,
"Cohabito" um ser sem ser nem alma
No lugar onde eu pensava haver
E ter toda'dor e todo o gozo d'amar,
Como tod'agente e todo'mundo,

Esta minha não tem o devido uso,
Sou o monstro que duvido alguém
Conheça, porque conhecendo-me eu
A mim, sou enganado pelo tacto e vista
Pois da fala, dessa nem falo, ouço 

Numa linguagem absurda, o canto,
Que lembra fraco o eco doutra Pessoa ...
Enfim diferente e a mim junta, próprio 
Delouco fragmentado, julgo-me inatural, 
Perdido na época das masmorras,

Assim é o meu sentir, o estranho é que
A vida flui atrás destes meus olhos vis, 
Iguais outros que vi no purgatório 
do diabo, inúteis, inútil o choro, 
Rio ou rimos em simultâneo, só pra saber 

Se sou mesmo eu ou se um outro 
Logro igual convive comigo,
Logo eu tenho de conviver com ele
Mais o que sinto sendo universal e uno, 
Eu próprio incomum tanto quanto o uso

Que faço à alma que tenho no centro
Do corpo que é o mundo ...




Jorge Santos (03/2017)
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Aos desígnios que inventei só porque sim ...





Cheiro de jasmim e cana cortada ou
Os desígnios que inventei só porque sim...

Num tempo em que as paisagens eram florestas
E virgens as videiras, o dom do sonho era comum
Com os demais, tal como os cheiro a jasmim e
Cana cortada, todavia era minha alma incompleta

Sem os desígnios que inventei só porque sim,
Marquês dos sonhos e de tudo o que não tem fim
Em mim próprio, estar perto de ter estrelas no colo,
Em vez de estilhaços e pedaços de cana bamboo,

Não me concedem o direito aos saberes todos
Da Terra, a mim tanto se-me-dá, esqueço e ponho
Os desígnios acima de tudo e da copa das florestas
Pra que o mundo me deixe a sorte certa de ser eu,

Crível quanto as plantas cortadas em viés e delta,
Marquês dos sonhos, catedrais que erigi, só em solo
Do que poderiam ter sido ruínas que ninguém conhece,
Impossível dormir sem a veleidade de ser feito de céu,

Deusas princesas brincando com minha alma
E eu dono dos jardins de “quanto-se-pensa-existe”,
Num tempo em que as paisagens eram florestas,
Deus deixou um espaço entre os ramos pra que o luar

Me revelasse o caminho, a vereda que sigo e me levará 
Ao que inventei, só porque quis chamar de desígnio
Ao que é natural em mim, sonhar tanto e tudo,
Desde que o mundo me deixe sonhar acordado.




Jorge Santos (03/2017)
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Pois que eu desapareça






Pois que eu desapareça.

Anseiam por noticias da minha morte,
Dou-vos o estéril, devo-vos a dor 
Que não me vem, não a tenho real,
Essa não, o real é sal e eu só sou um tal,

Anseiam por notícia da minha morte,
Pois que guardem a vida vossa a sete,
Oito trancas, pois eu não morri no começo,
Nem morrerei no final do acto, só depois,

Esta minha alma fria é aço e não chora
Com o nascer do dia, nem morre agora
Com o ultimo bocado do sol, pra morrer ´
É preciso somente parar de sonhar

E eu não paro, canto até me deixar dormir
Ou quando não tiver mais remédio, 
Como outros estéreis, ou vontade de viver,
Que a tenho de real e imensa,

Anseiam por noticias da minha morte,
Dou-vos a agonia minha em prosa
E o sal provém desta lágrima que teima
Em não parar, é realmente água falsa

E flui, fluirá depois que eu desapareça...




Jorge Santos (04/2017)
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Do mar m'avisto .






Do mar m'viste,

Do mar me visto,
O céu não tenho,
Faz frio no meu
Peito em pedra,
Gelo ou icebergue,
Assim outros terra e ar,

Sonhos são mantras,
Onde só ondas antes,
Agora ilusão, Atlantes
Do mar, me visto
Do sonho que me perdi
E do que era em gente

E o céu não tenho,
Nem marés d'horizonte,
Faz frio, serei peixe,
O que há em mim, 
E me tapando se veste
De mares Atlantes,

Acaricio um mito,
O ritual sou eu, o manto
E o ceptro pó, em mim
Próprio não mando,
Cansado d'haver mundo,
Oh mar, meu leito ...

Do mar me visto,
O céu não tenho,
Suposto me dar asas
Ou guelras, nada me serve,
Nem onde és meu,
Eu sou teu ente,

Do mar me vês, por quem 
Me sonhas, descrente ! 
Pedra de gelo ou solo
D'gente ...





Jorge Santos (03/2017)
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Cicatrizes hão-de encher-me de poderes ...





Há de tudo, pessoas feridas, pessoas cicatrizes,
Pessoas marcantes, mas há e haverá sempre 
Pessoas gerando luz, como candeeiros de rua
De foco claro no escuro são elas que nos fazem

Partir muros esventrar estrelas inventar a própria
Voz de Cristos e dar vida a naturezas mortas, há-
De tudo e basta o simples esperar e escutar para
Aparecerem de embrulhos distintos, essas pessoas

Que a gente perde por não andarmos devagar
Escutando o vento, o mar e as cicatrizes, que nus
Temos todos, gémeas da alma, marcadas 
Pra serem sempre candeias nos caminhos da-gente

Há de tudo, pessoas lindas de morrer, pessoas fatais
Pessoas malmequer e pessoas verdade,pessoas 
Deitadas, Pessoas d'en'pé ... pessoas marcantes
São poucas, mas há-as e hão-de encher-me os dias

Pobres.




Jorge Santos (03/2017)
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tradutor

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