Dizei que rio …








Dizei que rio, 
Direi que trist’ando,
Dizei que existo,
Direi que me não ouço,
Dizei me perco,
Direi m’encontro,
Que manso me fico
Entre o parecer feliz
E o chorando a fio
A dor que não tenho,
Vivo da tristeza alheia,
Que nada vale “se-calhar”,
Dizei que rio,
Sorrirei “até-mais-não”,
Mesmo que soe a falso,
Os olhos não têm tacto,
Nem os ouvidos boca,
Escondo as mãos demais,
Não deixando os dedos,
Denunciarem o que penso,
Ou os joelhos saberem,
Que me perdi
No campo,
Direi que existo
Nas flores do mato,
Caso lembre,
Que das dores esqueci já,
A floresta é dentro de mim e ela
P’lo tacto diz-me que sim
Tudo quanto desejo é lá,
Pra isso existo, mas apenas
Do lado de cá…

Invejo aquele que nasce e não morre, o Tejo ...








Tudo o que sorri me alegra
O rio, sobretudo o céu azul
Um barco, o embarque no
Cacilheiro, Porto Brandão

Cacilhas, ao raiar do dia
O Barreiro, parte de mim,
Ou o que eu mesmo fui.
Tenho no rio a quietude

E a surpresa se se pode
Chamar assim à tristeza
Que me dá quando vejo
Aquele que nasce e corre,

Como nas veias sangue
Verde/azul-cinza, mar
Tagus, tudo que sorri
Me alegra,sobretudo

O rio ...



Jorge Santos (07/2017)
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Sem estar, s'tou ...








Sem es’tar es’tou,
Eis quanto e comum
Eu sou, ao ponto de ser
Peculiar em mim o ridículo, 
Sem estar estou, apenas
Cansado de estar cansado,
Sorrindo sem estar contente,
Sem estar s’tou noutro lado,
Diferente e igual, sem estar
Me vou sentando entre gente,
Sinto-me pensar sem querer,
Perdido sem me perder, a ideia
De me perder é um desejo,
Um compromisso que assumo,
Tal como sonho o espaço
Sem o ver, sem í’star, sem o ter
Como quem conheço desd’início,
Apenas plo sorriso 
Que podia ser d’alegria ou não ser,
Afinal que sorrir’alma tem,
Apenas cansaço eterno, 
Minha ilusão terrena, efémera,
Nem outra coisa é preciosa
Mais pra mim qu’esse alguém,
Nesta ausência total de gente,
Eis quanto e comum
Eu sou neste triste circo,
Que tão pouco vida ou fera tem,
Procurando o que não encontro
Sonhando o que não existe,
Sorrindo sem vontade a tud’isto
E a quem está cerca, sem estar,
Apenas um esquivo e disto, pretenso,
Ridículo, “snob”.
Eis quanto e comum
Eu sou, tal qual o ar tíbio
Em que, pra sempre me vou …

Licença pra entender






Peço licença pra entender
Peço licença pra entender
Mais nada senão a verdade,
Para ver o mundo exterior 
Como ele é e contemplar a 
Vista e menos eu próprio, 
Peço licença para fazer 
Uma catedral de um piso
Com o impulso do corpo,
Que seja com o único fim
De sentir por vez única
O púlpito, se sagrado ele é
E útil aos outros mais que
Aos céus, peço licença pra 
Ser eu a descrição do que 
Sonho e a sensação vivida, 
Peço licença pra saber
Quem ocupará o túmulo 
Depois de eu morrer,se
O êxito barato ou o fracasso
Da força do simples querer 
Já que agradar não me chega,
Não me faz cantar, apenas um abrir
E fechar exacto de maxilas 
Enquanto passo as mãos pelos 
Cabelos oleosos, rasos … 

Sinto saudade do que não sou,




Sinto saudade do que não sou,
O que vês é nada, esqueci
O pensar como fosse palha
Ao vento, como vês deixei

De ser outro pra tornar ao nada
Que sempre fui, esqueci por
Momentos que o nada basta
E sempre fui e serei o quanto

Sinto, saudade de quem sou,
Normalmente um nada eu todo,
Um todo-nada eu, nem mais
Nem menos que um morto-vivo

Sempre, o plural de nada ou
A definição nítida de um vazio qualquer,
Sem expressão, quanto à minha vista.
Lei ou justiça, quem dera não ser,

Nem formar sombra na rua,
Em redor do rosto banal, estúpido
Embrulho de um insatisfeito,
Sinto saudade da realidade

Construída a brincar, do brilhar
Dos pastos lá fora quando há lua,
Para quê pensar se a forma é humana
A que o espelho tem, vulgar

Quanto a justiça e a lei, importância
Nenhuma, pois ainda não sou
Ideia absoluta baseada no que creio
Ser, sou a noção que alguém teve d'mim

Outrora e antes e em mim mora rente,
E eu esse sou, sinto.










Jorge Santos (06/2017)
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O vento anuncia-se pelo ruído ...




O vento anuncia-se pelo ruído,


Do vale até ao monte o caminho é curto
Para o vento norte, o rugido é grosso e penso
No silêncio e o que é não tê-lo face ao ruído
Todo do mundo, ele se reproduz como rato

E peste, inumano, pano de fundo, boca de 
Sena, do vale até ao monte foge a razão
Da gente voando, e o trote do vento é a morte
Cavalgando, o meu não ouvido percebe o rugido,

Suspeito ser o suspiro derradeiro do horror
Do vale ao monte desespero e morte,
Luto e guerra, fez-se escuro no meu reino,
Deixei de ser rei e em pedaços voo, 

O vento anuncia-se pelo ruído arrancando
Folhas e ramadas, qual juízo final do mundo,
Balouça a minh'alma cadenciada, "a monte" ...


Jorge Santos (05/2017)
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Gostei de preencher de sonhos, instantes





Gostei de encher de sonhos pequenas nações
E o que atrás eram pombas dormindo apenas,
Deixei um tear de instantes, paixões do que entre
Mim e elas há ou houve e nos pacifica de veludo,

Gostei de encher de sonhos os que conheço,
Indivíduos que lembram sem querer, pombos.
Imito as próprias vozes deles todos a falar,
Depois talvez eu endoideça, há um sexto sentido

Que me diz não serem pombas dormindo em 
Camas de veludo, mutantes doutros mundos
Que não este de pequenas nações, calmas pombas,
Pensar eu que tudo é assim, espécie de sonho

Enchendo sonhos e outras nações pequenas, 
Imaginações e paisagens suspensas, suspeitas,
Mar que seja de penas, tear d'aves feitas,
Nem sei do que estou falando, veludo e dia.





Jorge Santos (04/2017)
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Reis, princesas e infantes



 




Reis, princesas e infantes



Foge de mim um sonho
Que é ter mando e ser rei
Dos anfíbios e das charcas,
Mas a chuva só cai longe

Os barcos não me levam
Onde há sapais e charcos,
O meu grande desejo é
Escutar de noite e sempre

Infantas que foram agora
Sapas e eu rei das poças
Nem, quanto mais ouvi-los
Coaxar às "noivas-infantas"

Pedindo beijos nas bochechas
Gordas e verdes, ranhosas
Como sapos as têm, tolos
Anfíbios das poças de lodo

E eu nem rei nem bote
Onde nem sapais há ou charcas,
Foge de mim o sonho,
Que é ter mando ou sorte

De Reis, princesas, infantes …


















Jorge Santos (04/2017)









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Valham-me as palavras boas ...





Valham-me as palavras boas,
E tudo que haja a devolver
Seja composto do falar,
Natural tanto como o dia

Ao nascer e a hora que foi,
Valham-me as palavras,
As maduras e as outras
Azuis da cor dos beiços 

Que trago neste lugar,
Que pra mim é a alma
E a devolvo porque real
Existe e o falar é vão e

Compósito demais, valham-
-me as palavras e o dever
De pôr o coração à frente
Das costas quando digo:

-Valham-me as palavras
Em tudo que haja a devolver
Por mais pesado ou leves
Tanto quanto folhas mortas,

Cabelos de prata, horas que fui
Real, postiça a ilusão, inútil sou
Eu só, valham-me palavras, 
As más...as doces e as boas.




Jorge Santos (04/2017)
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Não confies na força das tuas asas, confia no ar que sob elas passa ...






Não confies na força das tuas asas,
Mas no movimento que as traz detrás 
Pra frente e na vontade que faz voar
E ninguém tira ou pode tirar, confia no ar

Que as sustenta no vacuo e onde ir, no prazer
De voar e no uso do saber que é de
Ninguém e o princípio de tudo que é o voo,
Que importam as sensações se a vontade

É tudo e o limite é um céu e a forma
De o olhar é sobretudo sentindo círculos
Circunferências e esferas como um artista
Sem conclusão, acordado à noite agradecido

Por ser humano em óxidos e enxofre, 
Não confies na força das tuas asas incorpora-as
Nas mãos por ainda não ter passado
O teu futuro de libélula adormecida,

Oxalá os meus olhos se colem à substancia
De que é feito o cosmos, e ás asas desses anjos
Complexos que me fazem aqui estar e ser
Até tão tarde, viciado em ar e no movimento deste ...


Jorge Santos (03/2017)
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Em silêncio ...









Em silêncio as guerras,
Os navios sem velas
E o mar vencido nas guelras
Dos peixes, a tristeza também

De não ter o mar imenso 
Na imaginação e escrever
Com ela em guerra,
Como ela em mim, 

Em silêncio as guerras
Mas não em mim, as ilhas
Por certo, distancio-me delas
Com silêncios plo'meio,

Meu barco vazio nem tem velas,
Os ruídos são dos nós duros
Dos meus dedos dez,
Na madeira do velame 

Navegando em vão,
Em silencio as guerras,
E o trovão que esta alma
Nega ser,

Navio sem vela,
Barca de lenho e eu sem arder,
Quanto mais escritor
Do que azul é, eu sem ouro 

Com ele enterrado algures
Como qualquer outra coisa,
O sagrado ou um tesouro, 
Desses com brilho de fumo,

Efémero e termo...




Jorge Santos (03/2017)
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Minh'alma não tem uso pra mim,





Minh'alma não tem uso pra mim,

Minh'alma não tem pra mim uso,
"Cohabito" um ser sem ser nem alma
No lugar onde eu pensava haver
E ter toda'dor e todo o gozo d'amar,
Como tod'agente e todo'mundo,

Esta minha não tem o devido uso,
Sou o monstro que duvido alguém
Conheça, porque conhecendo-me eu
A mim, sou enganado pelo tacto e vista
Pois da fala, dessa nem falo, ouço 

Numa linguagem absurda, o canto,
Que lembra fraco o eco doutra Pessoa ...
Enfim diferente e a mim junta, próprio 
Delouco fragmentado, julgo-me inatural, 
Perdido na época das masmorras,

Assim é o meu sentir, o estranho é que
A vida flui atrás destes meus olhos vis, 
Iguais outros que vi no purgatório 
do diabo, inúteis, inútil o choro, 
Rio ou rimos em simultâneo, só pra saber 

Se sou mesmo eu ou se um outro 
Logro igual convive comigo,
Logo eu tenho de conviver com ele
Mais o que sinto sendo universal e uno, 
Eu próprio incomum tanto quanto o uso

Que faço à alma que tenho no centro
Do corpo que é o mundo ...




Jorge Santos (03/2017)
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Aos desígnios que inventei só porque sim ...





Cheiro de jasmim e cana cortada ou
Os desígnios que inventei só porque sim...

Num tempo em que as paisagens eram florestas
E virgens as videiras, o dom do sonho era comum
Com os demais, tal como os cheiro a jasmim e
Cana cortada, todavia era minha alma incompleta

Sem os desígnios que inventei só porque sim,
Marquês dos sonhos e de tudo o que não tem fim
Em mim próprio, estar perto de ter estrelas no colo,
Em vez de estilhaços e pedaços de cana bamboo,

Não me concedem o direito aos saberes todos
Da Terra, a mim tanto se-me-dá, esqueço e ponho
Os desígnios acima de tudo e da copa das florestas
Pra que o mundo me deixe a sorte certa de ser eu,

Crível quanto as plantas cortadas em viés e delta,
Marquês dos sonhos, catedrais que erigi, só em solo
Do que poderiam ter sido ruínas que ninguém conhece,
Impossível dormir sem a veleidade de ser feito de céu,

Deusas princesas brincando com minha alma
E eu dono dos jardins de “quanto-se-pensa-existe”,
Num tempo em que as paisagens eram florestas,
Deus deixou um espaço entre os ramos pra que o luar

Me revelasse o caminho, a vereda que sigo e me levará 
Ao que inventei, só porque quis chamar de desígnio
Ao que é natural em mim, sonhar tanto e tudo,
Desde que o mundo me deixe sonhar acordado.




Jorge Santos (03/2017)
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Pois que eu desapareça






Pois que eu desapareça.

Anseiam por noticias da minha morte,
Dou-vos o estéril, devo-vos a dor 
Que não me vem, não a tenho real,
Essa não, o real é sal e eu só sou um tal,

Anseiam por notícia da minha morte,
Pois que guardem a vida vossa a sete,
Oito trancas, pois eu não morri no começo,
Nem morrerei no final do acto, só depois,

Esta minha alma fria é aço e não chora
Com o nascer do dia, nem morre agora
Com o ultimo bocado do sol, pra morrer ´
É preciso somente parar de sonhar

E eu não paro, canto até me deixar dormir
Ou quando não tiver mais remédio, 
Como outros estéreis, ou vontade de viver,
Que a tenho de real e imensa,

Anseiam por noticias da minha morte,
Dou-vos a agonia minha em prosa
E o sal provém desta lágrima que teima
Em não parar, é realmente água falsa

E flui, fluirá depois que eu desapareça...




Jorge Santos (04/2017)
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Do mar m'avisto .






Do mar m'viste,

Do mar me visto,
O céu não tenho,
Faz frio no meu
Peito em pedra,
Gelo ou icebergue,
Assim outros terra e ar,

Sonhos são mantras,
Onde só ondas antes,
Agora ilusão, Atlantes
Do mar, me visto
Do sonho que me perdi
E do que era em gente

E o céu não tenho,
Nem marés d'horizonte,
Faz frio, serei peixe,
O que há em mim, 
E me tapando se veste
De mares Atlantes,

Acaricio um mito,
O ritual sou eu, o manto
E o ceptro pó, em mim
Próprio não mando,
Cansado d'haver mundo,
Oh mar, meu leito ...

Do mar me visto,
O céu não tenho,
Suposto me dar asas
Ou guelras, nada me serve,
Nem onde és meu,
Eu sou teu ente,

Do mar me vês, por quem 
Me sonhas, descrente ! 
Pedra de gelo ou solo
D'gente ...





Jorge Santos (03/2017)
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Cicatrizes hão-de encher-me de poderes ...





Há de tudo, pessoas feridas, pessoas cicatrizes,
Pessoas marcantes, mas há e haverá sempre 
Pessoas gerando luz, como candeeiros de rua
De foco claro no escuro são elas que nos fazem

Partir muros esventrar estrelas inventar a própria
Voz de Cristos e dar vida a naturezas mortas, há-
De tudo e basta o simples esperar e escutar para
Aparecerem de embrulhos distintos, essas pessoas

Que a gente perde por não andarmos devagar
Escutando o vento, o mar e as cicatrizes, que nus
Temos todos, gémeas da alma, marcadas 
Pra serem sempre candeias nos caminhos da-gente

Há de tudo, pessoas lindas de morrer, pessoas fatais
Pessoas malmequer e pessoas verdade,pessoas 
Deitadas, Pessoas d'en'pé ... pessoas marcantes
São poucas, mas há-as e hão-de encher-me os dias

Pobres.




Jorge Santos (03/2017)
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Ler é sonhar sonhos doutros ...





Ler é sonhar o sonho dum outro,


Ler é sonhar o sonho doutro,
Invejo quem que não sonha
Simplesmente o sonho dele,
Pois não sei se se reproduz
Um sonho sonhado por mim nele,

Eu nunca sonharei sonhos
Doutros, não me cabem 
Nem jamais saberia como 
Caber neles à noitinha,
Rejeito o sonhar alheio, se leio

O que me faz é não dormir, 
Assisto desperto ao ritual
Que os sonhos tecem na mente,
Assim como o pêndulo, 
Que regula o tempo que se vai

E a mim me aborrece,
Aborrecem-me sonhos sem de mim
Serem e ler não é sonhar,
É pensar que se sonha um sonho
Destinado a ser coisa outra,

Ler é sonhar um sonho morto,
Sonhar é tão claro que separa
Do real o que não sendo assumo. 
Falso o sonhar que não sou eu
A ter, sonho sonhado em primeiro

Não em segundo ou terceiro,
Defino os meus sonhos pela 
Novidade e estranheza não pelo
Conteúdo que se explica, 
Mas por nada terem a dizer

Ao outro, ler é sonhar um sonho
Parado adormecido e porque se 
Folheia ao de leve, não sofro 
Com ele, ignoro-o, só isso
É não ler ...



Jorge Santos (03/2017)
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Diário dos imperfeitos







Diário dos imperfeitos 



Às vezes preciso tanto de saber
Porque ponho todas as minhas
esperanças nas rosas e ignoro
os malquereres, fazem-me lembrar 

O aroma perdido da natureza, a seiva
O desejo de não saber o que quero,
Qual dos caminhos tomo, o coração
Ou o cérebro que não vê, nem tem 

Dor odor, imagino milhares na minha
Campa quando não puder mais ver
Nem saber sequer quem as pôs, não
Preciso estar indeciso no que preenche

A divisão da minha alma nem agora,
Nem para sempre, digo quem me dera
Ter a esperança que tinha, líquida
Quanto no parque infantil e criança

Depois demiti-me de ser da terra 
Pedaço chão, pedra e encarnei do poeta
O ofício de sonhar um mundo completo
E novo e é nele que ponho esperanças

E dele cuido, como se fosse jardim meu
E todo mundo, mesmo neste imperfeito 
Tempo,às vezes preciso mesmo é de 
Tempo e de ânimo onde deposite este 

Sonho que fiz meu, este é o meu ofício ...




Jorge Santos (02/2017)
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Medo de virar pó




Tenho medo de tornar pó
Só porque pó é feito
De infinitos e defeitos eu
É só o que sinto ser,

Visto o que não existe
O tamanho do fato e o sapato,
são doutrem, exagerados
os punhos e a alma se fosse real

Igual ao dó que tenho
De mim próprio, todo falso
Eu e ele até à raiz do cabelo,
E eu o defeito que janta comigo

Tenho medo de virar pó
Sendo dois o trigo e eu agora,
Confessou-me à tardinha,
Lembro-me tão bem, fosse ontem

Seara que o vento leva,
Do mesmo mal que me dói, 
Amei tanto de tanta coisa,
Lancei flores como tanta gente,

Ao vento a ilusão também,
De ser perene eu aqui ou vagar
Pra ser estrela de manhã à noite,
Passei sem ser, não vou ficar

Visto que não existo,
Só o medo de virar pó
Eu, quem pensou ser pessoa-una
Da manhã, de tarde confundo-me

Com o disfarce que uso
Carnavalesco (um nada-ser)
O tudo-eu alheio, falso
Xerox-cópia.

Tenho medo de tornar pó,
Só porque pó é feito do que sinto,
Sobretudo raízes e signos, instinto ...




Jorge santos (02/2017)
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Passado eu, azul triste, translúcido ...







Passado eu, azul triste Lúcio.


Cantam suavemente triste/azul
Como quem embala nas ondas
Um filho de mar fardado, serei eu,
Serão sereias sem passado nem futuro

Ou sombras do que é verde
Azul puro ou do que eu lembrar
Embora não possa amar tristes
Sombras e nem do mar ouvir no búzio

O cantar sem morrer d'amor por Lídia 
Ou por elas, sereias sem nome dado,
Debruçado adormeço sobre este
Mar antigo, cansado de ser filho ou Lúcio 

D'Iemanjás sereias, orixás rainhas
Do mar envoltas... a manhã jaz
triste e azul, sem cor serei eu, serei
Ou serão sereias do mar sem ódio, passando Py,

Passado eu, azul triste, Lúcio anil.




Jorge Santos (02/2017)
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tradutor

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