Conseguisse eu ...




Conseguisse eu conversar
Num peculiar, anónimo 
Ou mesquinho remédio
Anódio, placebo sem efeito
Quanto a melodia 
Que tenho vindo a cantar
No meu canto peculiar
Vago, conseguisse eu
Dar a um bardo encanto
Que conduzisse a vontade quando
Alheia ao que falo sem efeito,
Pois se tudo o que digo respiro
De verdade como converso
Em estrangeiro, 
Essa língua materna
Da ilusão que se sente
Numa única frase, 
(Se a quisermos achar)
A melodia que tenho vindo
A cantar,
Conseguisse eu,estrangeiro
Achar-me na vossa alma
Peculiar quanto baste
E branco …
Jorge Santos (10/2016)
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Aquando dormem as estrelas ...








Aquando dormem as estrelas, 
Dedico a alma a evocar o dia
Na quinta que rodeia o coração
Meu, como um mundo onde existo

E sou seu ,aquando dormem as 
Estrelas consigo pôr a alma fora
E a noite dentro do peito, evoco
O dia por receio de não amanhecer

Numa parte da alma e não em todo o céu,
Aquando dormem as estrelas em
Minha roda a lua é minha esposa,
Minha terra e esta alma confusa

Dedica-se a evocar o dia que destrói,
Tal como se fosse nação da guerra,
O sol, embora sendo igual o pó
Desta terra e os escombros que tem,

Aquando dormem as estrelas, no céu
E em mim repousam ou dançam de roda
Evocando o que há-de o ser novo dia
E é vida, antes coisa nenhuma,

Aquando dormem as estrelas, nos montes
Meu coração corre e canta ao meu ouvido
Coisa alguma, suposto seria eu escutar
Quanto o coração sonha dentro, em mim 

Vigia meu sonhar único, colado ao ouvido
Atento, na penumbra aquando dormem
as estrelas e o céu rebola e rola ...








Jorge Santos (09/2016)




Me levem os ares ...






Me levem os ares porque quero
Pertencer ao terreno ignoto sem
Precisar que me adornem a campa
Ou que me chorem e ao que oprime
Saber ser corrompido como esteiro,

Me levem os ares num soluço
E em poeira abale pois os caminhos
São feitos de pó e é um privilégio
Ir pegado aos sapatos e cascos,
Aos buxos e às árvores e às aguas,

Me levem os ares e a emoção
Com que vivo num nó gordo amarrado
Até ao mais profundo dos abismos,
Para regressar nos outros, nos parques
E na paisagem ou ficar no ar

Pro resto da minha vida,me levem
Os ares e me deixem sentir ser
Parte da vossa, como a dor ou a alegria,
Eu estou onde o meu espírito paira,
Apenas não sei definir como e onde,

Me levem os ares sem substancia,
E ao couro do meu corpo pra onde
Não preciso de sensações ou de cura,
Para o infinito desejo que ainda visto,
E vibra tanto, me levem ...




Jorge Santos (09/2016)
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Incólume quanto Ricardo Reis ...





Incólume quanto Ricardo Reis ...



Há quem diga que viu,
( tomando por reais as coisas que o não são)
um escritor de língua pátria nos soturnos passeios
duma rua da freguesia de Campo Grande


1700-190 Lx a 30 Novembro, pelas 5 horas
da madrugada,
- faz mais de um século, quase nada,
continuam magníficos, talhados, incólumes
quanto a cidade por onde ainda passam descalças
e calçadas,
pessoas pequenas e grandes, enormes


Nessas soturnas calçadas caladas
do Campo Grande ao Chiado por
onde passam grandes enormes pessoas e pequenas também,
ficaram descritas com cem palavras nos passeios
talhados desta cidade azulejo
que nem de azul ou anil tem, ou se veste do Tejo certo
nas cores ou sem elas bem,


Mas usa de palavras como se fossem
os céus sete e os desejos
mil pedaços certos, desta pátria incolor
e incólume ,
Ficou escrito como um grito de ar em luz crua
dessa cidade que dorme,


Há quem diga que foi por sentir correr
por si o rio como por seu leito a 30 Novembro de 1935,
tal e qual como no ano da morte de Ricardo Reis



Jorge Santos(10/2016)
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O legado das minhas mãos ...





O luar nas minhas mãos
Fez uma estrada,um caminho de prata
A cheio que vai da consciência
Ao lugar onde dela me perco,

O luar das minhas mãos,
É tão de perto quanto a vastidão
Ou o mistério a assomar
Por entre o arvoredo ...

O legado das minhas mãos,
Tem um peso que custo
A levantar e me mantém nos píncaros,
Preso aos ramos, à terra, aos rochedos

E à estrada de todos os medos,
Que não só meus mas se vêm
Através de mim e dos meus dedos,
Em prata de luar e no arvoredo,

No veludo do musgo manhã cedo,
A julgar serem mãos minhas
A verde e veias, todo eu
Luar e céu, rochedo e orvalho

No lugar das minhas mãos...


Jorge Santos (08/2016)
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Sonhar agora ...









Culpo o pensar por tudo,
As árvores e o mar
O vento sem parar e o mundo
Puder sonhar meu sentir,

Culpo o pensar por tudo,
A vontade, sobretudo a
Pequena, a natureza parece
Ilusão apesar de ser feita
Para me achar e não pra me
Perder dela,

Culpo o pensar por tudo,
O que fica e tudo que há,
Antes do pensar meu está
O que os outros conhecem
Já que não sei eu mas podia,
Escutando o dia e o vento,

Culpo o pensar por tudo
O que é e o que foi, tudo isso
É o que é e o pensar incluo
Nesse mundo sem terra,
Quanto mais minha
A consciência de tudo ou todos,

Culpo o pensar por tudo
Mesmo o mesquinho e o destino,
Puder ser outro que não isto,
Outra coisa é o sonho,
Onde creio em tudo e que sinto,
O vento sem sossego,

As árvores e o mar
O vento sem parar e o mundo
Puder sentir meu sonhar
D'agora, o mesmo...






Jorge Santos (08/2016)




Leste nas minhas mãos ...





Leste nas minhas mãos
As veias que me destroem
E os sinais que vêm da mudança,
Pintados a castanho negro,

Leste nas minhas mãos
O futuro em partes,
Por ordem decrescente
E pontos de cruz,

Leste nas minhas mãos,
Nada que seja público,
Nem valha a pena confirmar
Se indulto ou apenas aspereza,

Os sinais que vêm na lembrança,
Pintados a castanho negro,
Leste nas minhas mãos,
Desesperança, frio ou medo,

Peço-te não leias não...


Jorge santos (08/2016)
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Onde quer que vás ...




Onde quer que vás, apenas
Não há passado nem presente, 
Nem esperanças nem certezas,
Há espaços exteriores e libertação,

Onde quer que vás apenas,
A honra das cinzas é o sonho
E o viver era nada, imperfeição
Perfeita , viagem através dos olhos

Onde que que vás apenas cabemos,
Nas dimensões pequenas um vaso 
Não nos contém, já que não nos podem
Reduzir em tamanho às doutros

Sonhos, onde quer que vás
Não sei se diga mas em nós não cabe 
O mundo e viajamos de baixo 
Pra cima sobretudo onde quer 

Que foste, apenas foste, não fugiste
Viajaste num sonho,
Onde quer que vás eu já lá fui,
Ou ainda vou ...


Jorge Santos (07/2016)
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Sou o mais intolerante dos homens ...




De facto sou o mais intolerante dos homens,
Dorme nos meus braços e faz neles morada
O inútil e o nada, nem um só pensamento
Parece a mim remédio para a intolerância

E a descrença, qual sinto a valer o mesmo
Que o stock de regras e medidas homologadas
Que grassam nos meus cotovelos de humores
Incertos, temo valer menos do que peso

No mercado do insucesso da invicta tolerância
A crédito, esse que não possuo deveras nem sou
Grato quando viro para dentro os olhos e o sorriso
Mal feito. Sou intolerante de feitio, mero espécime

Que entende aramaico sem ser de lá, nem de perto ...



Jorge Santos (Julho 2016)
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Despeço-me demasiado depressa ...




Aceito o ar frio como uma recompensa
Uma bênção, não preciso do calor de gente 
Nem de uma casa adequada,
Decente, não estando frio

Assim como dentro dest'alma
Onde vivo e faz sempre frio e corre o ar
Sendo outono ou aceso Verão e
Contínuo o frio nestes braços,

Aceito tudo aquilo que me vence,
Não sem causa ou mandato,
Despeço-me demasiado depressa
Do que arde e da noção do que se chama

Emoção ou calor sem que da alma venha ...



Jorge Santos (07/2016)
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Ceramista quântico ...




Julgo que vida seja dista,
Mais do brilho estelar, quanto
Da consciência conjunta
Destes seres terminais,
Cerâmicos quanto o narrador, 
Quebradiços quanto o espaço,
Quimérico quanto um vasto
Duvidar que vida seja disso
Vasilhame, vaso do que se diz 
Que brilha e é espaço consciente,
Se eu visto isto e isto em 2 pernas,
Além de narrador narrado
Que ser cuido, trapezista galáctico,
Ceramista quântico e vasilhame.
Julgo que seja dista a consciência,
Duma outra que real fosse, à outra que
Menos nos custa embora egoísta,
Sobreviver ao conhecimento cerâmico…

Coração duende






Amo-te sem saber como,
Tomo os espinhos por
Rosas em botão e o ocre
Sabor de terra por açafrão,

Cominhos, amo sem saber
Eu como te amar e quanto
O amor é triste ou forte,
Vivo montado num escadote

Pra ser visto com nitidez
Por todos e por ti que me 
Lembras a lucidez do campo
A brisa no meu cabelo branco

Amo-te sem saber como 
O que conheço é um sentimento
Que ninguém tem tal como
O vento que ninguém conhece

Mas sente, eu sinto que amo
Mas nem sempre nem toda
A gente ou lugar e o céu
Não tem explicação pro que sinto 

Sem razão aparente, espinhos 
Açafrão e cominhos .rosas em botão
E o ácido da terra quando chove
Nela e em meu coração duende .



Jorge Santos (03/2016)


Segmentos derosa ...






Adicionei à minha colecção, 

Da boca as que disse boas
E não digo já, a que valia
Por dois, das ouvidas da rua

jamais quero tê-las na 

Mesa, cabeceira da opinião
Generalista como prova
Que não sou louco

De fora pra dentro,

Prefiro as que substituem 
Pequenas impressões
Como seja dizer nada

Sendo o que me agrada

No crepúsculo a adição 
Do que é grande e fácil
De meter pelo pescoço

Adicionei à minha colecção

Certos segmentos
Sinónimos de bocas sorrindo
Senão flor,caule,

Será isso que estou sentindo

Na boca, as que disse
Boas, normal você não dizer
nada...




Jorge Santos (03/2016)

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Por uma outra ...









E eu deixei meus olhos 
Sobre a mesa, que são
Doze a contar do centro,
Os meus dedos que dizem

Quem sou não, pauso
A minh'alma na pele
E admito ter deixado
De morar em mim

E morro no que deixei 
Por entre os dedos,
Ou seja um amor inteiro
Por habitar, suponho

No centro que a mesa 
Tem, um céu doce...
Doze olhos meus
Que deixei no campo,

No entanto, a contar
Me perco e na pele 
Dos seios seus serei
Boca, Onde deixei

Meus olhos não ando,
Nem mando este 
Coração lá passar, 
passando no que sinto

Por uma outra,
Uma-outra-mesa
Ou tampo antigo
D'altar...







Jorge santos (0372016)







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Tudo o que pudesse ter sido eu não ...




Tudo o que pudesse ter sido eu não fui,
É preciso achar querer ser coisa
Alguma, para outra uma coisa ser sendo
Tudo o que quis foi aprender a ter
Uma coisa qualquer, um coração

Que foi e deixou de ser, tivesse-o
Antes de o pensar, tê-lo-ia esquecido
E procurar tê-lo antes de o achar
Duvido, se o fixar ou deixar abalar pra um
Qualquer lado, menos no meu peito

Que falta e ao encontro que o fez 
Parar ontem depois e amanhã ao meio-dia
Em ponto, tivesse eu posto relógio
No pulso, não o tivesse esquecido
Na cabeceira da cama, na mesa

Tudo o que ele tivesse sido, eu não fui
Ao encontro e perdi tudo quanto 
Me doi ter porque não tenho, nem coração
Nem peito, sou uma incompleta coisa
Nenhuma se alguma coisa fui

Foi pretexto, numa mão tinha o futuro,
Nas minhas duas lembro o então 
E o movimento com que moldo
E torço o peito ao tentar dar
Um nó solto ao fio com que falo,

Não ao que vai de mim tão pouco,
Entorto-me como uma colher
Tanto, não faz sentido o que teimo
Haver no fundo e colhê-lo não
Do covo, mas do cimo e da borda,

Deselegante o que tento dizer, 
Extingo o que se distingue ao apontar
Um dedo da mão que tudo vê
Surpreendente é o pouco que sinto
E esquecer no momento de prever

E ser ultrapassado pelo que quero 
Dizer ao atacador do sapato esquerdo,
O que eu sou ao tal adivinho bruxo,
Dando corda ao relógio de pulso,
Tudo o que pudesse ter sido eu não,

Sou uma rasa, incompleta coisa...



Jorge Santos (03/2016)
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Janela de sótão








Janela de sótão

Chove sim, Nada demais,
Aqui vivo dentro de mim,
Pois aí não chove, apenas
Adoço e colho a sensação que 

Ouço da janela, como uma
Súplica de quem chama
Assim por mim, sem querer
Coisa alguma, apenas chover

Certo, assim sem sossego
E sem parar,chove sim,
Nada mais que chuva, a chuva
Cai-me da mão, fria desolada

Cai no meu coração faz tempo,
Um conveniente vão abriga 
Minh'alma, ind'agora lá fora 
Chamava meu nome e chiava

O vento suplicando, agora 
O que ouço é apenas chuva,
Dessa que adoça ao chover 
A sensação de gostar tanto

De viver dentro do vão de
Sótão à janela, abrigado do
Vento que ind'agora chiava,
Chamava chamando p'lo

Meu nome e agora nada,
Ouço da janela apenas uma
Súplica lavada que clama
Assim solta, sem m'inspirar

Coisa alguma, apenas chover,
chover, chover mais nada...



Jorge santos (02/2016)
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Papagaio de cana, papel e gente





Pobre fera,

Aquele que ama
De verdade, sem saber,


Aquele não


Preparado pra morrer,

Como fera morre,


Fera cujo coração
Derrete quanto 
O céu arde,

Fera fiel ou mito,
Da garganta ao umbigo,
Maldição e sombras,

Pobre fera,
Onde se deita mora,
E toda gente que vai'bora,

Com medo da onça,
Feras de zoo,
Feras sem esperança,

Pobre fera,
Sou eu sem ser
Onça,

Papagaio de papel e fita,
Que se lança
No vento contra,

Obediente
Que nem fera mansa,
Fera de zoo, fera sem esperança

Papagaio de cana 
E papel
À onça meia e gente.





Jorge Santos (02/2016)

Não ser eu "toda-a-gente"












Não ser eu toda-a-parte, em toda a gente
Sentir bastante perante o que me comove
E o que é pasmo, não fazer eu parte maior
Do a seguir a mim, de um modo natural e leve
Quase como se fosse instituído por plena lei,

Congénita, a tranquilidade ter a orgânica
Lunar e desse mar o êxtase, a ambição doce 
De acariciar a erva alta fofa e as faces dóceis 
Em toda a parte e toda a gente nas breves
Coisas, essenciais ao que alma minha sofre

E sente igual a essa surpreendente gente 
Não sendo trás e frente tod'essa gente eu,
Faça o que faça pra que me não demova ter
Dos sentidos os extremos destes e o excesso
Próximo dos sentir passar como camião 

Desgovernado ou comboio de excessiva carga.
Não ter eu metade a que agrade a mim mais
Que à outra parte de gente de que faço fraca
Parte, não ser eu toda a gente e toda a parte
Que emociona os sentidos dessa alegria única.

A paixão de ter algo, é uma pipa sem fundo,
Ter sossego, é outra coisa e tem a ver
Com o fogo que herdámos da mãe Terra
E não do estômago que motiva a fome
E a miséria de querer tudo e mesmo

O que não empresta felicidade às rosas
E o perfume às açucenas de chão de terra,
Não ser eu toda-a-parte, em toda a gente
Sentir bastante perante o que me move,
E o que eu pasmo ...










Jorge santos (02/2016)






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O Santo sobrou









Santosobrou


Tento sobrar-me dia-a-dia 
Sonhando-me, mas não sei
Que sonho ter, em que sobre
Essa premissa d'eu ser o sonhar
Meu,

Acabarei por não passar disso,
julgando-me vivo num sonho,
Morto que mais vale nem outro
Sonho ter se do sonhar meio
Digo, cansei

Do'ver, símbolos onde existem
senão maus ladrilhos, despregados
Roubados da paroquia do Santo
Sonhar dos despertos supérfluos,
(O Santosobrou)

Tentei segurar-me dia-após-dia,
Ao corrimão da torre do relógio,
Como é lógico, pra quem quer 
Olhar olhos-nos-olhos a glória,
Sem chamar por ela. nomes feios,

O campanário é do tamanho certo 
Para ver-frente-a-frente, 
Hora-a-hora, o estranho que sou
Por ter, ao andar uma volta, um fuso,

-Ou por prometer ao sonhar novo uso
Do sonho e crê-lo sonho meu... 



Jorge Santos (02/2016)
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Coração de boi





Não tanto como me corrói 
A poesia por dentre outras
Dores como que doem como
Não sémen, mas areia

Da que corre nas veias
Com que me disfarço e faço 
Meu o prazer de sentir a
Vida em mim bem viva,

Tanto me corrói grão a grão
Bago a bago, bem
Dentro do coração boi
Q'inda trago ao peito

Embora inchado, 
Não tanto como doi,
Porque um coração,
Não doi nem parte,

Se fica no que estou
A sentir e no que senti,
Quando me aperta
Ele como se fosse

Uma outra mão,
Não quente, não minha, 
Mas dess'outro mundo,
Que corre e rói estas veias

D'veludo táctil ...


Jorge Santos (0272016)
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Encanto teu





Encanto teu, engano meu 
Úlcera, pus, com sorte terei podre
E comum raiz com o meu nariz
Torto, quanto mais do público

Tão lírico quanto apaixonado
Pela voz deles, branda e minha
A ideia de ser a fala desses
Em falta, qual sulipa de linha,

Férrea antes do descarrilamento
Do trem de ferro e lata cobre,
Engano o teu, te cresce a barriga
Do Conforto e no decote meu

Urtigas, Garopas e outros peixes
De menor importância, na saliva
Do meu cachaço de Hebreu
Herege,ateu diminuto do meu útero

Ulceroso falso, poesia com pus e
Melaço...



Jorge Santos (02/2016)
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Menor mundo






E eu deixei o ponto onde me digo,
Por outro monte de meu invento,
Cerca do sítio que na minha visita
Alcanço e consente a noção de voz,

Que tenho mal no queixo embutido,
Prezo o que contém dentro o hálito
Pouco esclarecedor, em todo’caso
Deixei o ponto onde me digo Molière

Do palco mais alto, nem por isso
Preciso anunciar que me mudo,
Com três pancadas redondas
No chão-palco do menor mundo

E sem enredos de mil e uma noite
Ou arrelias de actor bêbado, de 
novo e a cada sessão da peça.






Jorge Santos (02/2016)
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tradutor

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