No lugar onde m’assento,
Na tarde d’um dia fresco,
De ti ficou o rosto torto,
O ralho maldisposto.
E quem se lembra do pouco
Que ficou?... Talvez os netos,
Do nosso vulgar vulto
Nas roupas velhas,
Usadas e descambados sapatos
Das dores nas costas,
Nos teus apressados passos,
Os meus fregueses anónimos,
De cabelo mal cortado,
Os vizinhos da casa do lado,
(Se nem nos cumprimentamos)
De tudo ficou um pouco,
Dos passeios, nas fotos
Do sofá onde te deitas,
E persiste no teu cheiro
No canteiro que não tratas,
(por falta de tempo)
Do teu materno jeito,
E nos queixumes quotidianos,
Dos meus silêncios do costume,
No não revelar que nos amamos.
De tudo ficou um pouco,
Nas zangas da janta na mesa,
Seguido dum calar mouco.
Ficou um pouco de tudo,
Na razão que entender busco,
Na ternura que me sai a custo,
Do meu mau cheiro de boca.
Ficou sempre um pouco por ver,
No meu segredo de Voyeur,
E na fúria de galgar o mundo.
Ficou um pouco de tudo,
No teu mundo a Preto e branco,
E naquele onde cresceu o medo.
Do meu ego de gaiato crescido,
Apesar de tudo ficou um pouco,
Tentei ser discreto a meu modo,
Nesta minha falta de gosto,
Ajudado por quem dele tem muito.
(suposto era não insistir escrevendo)
De tudo ficou um pouco,
Do vento nas sebes, nos muros,
Um pouco das sílabas e ruídos,
De rimas e de calçadas de musgo,
Do duro chão do esquecimento,
E nas rugas de velha na testa.
…trago um pouco de TU...do,
(num lugar que não quero vago)
Jorge M.M.Santos (10/2010)
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