Bebe da minha alma
Na pressa de Chegar
Farol
Sendo eu navio transponho o brilho escuso do mar e fujo do olhar
tão rápido como o louco muda de esgar.
Sendo um nado vivo transporto comigo fachos de lucidez comum,
como obrigações e estas ilusões de vida sem nada de verdade para partilhar,
se nem lúcido consigo de razões fogos-fatus empunhar.
Por quem me tomas...
se nem me importo que me reconheças logo
como perdido ou resgatado ,
eu faroleiro...espiando o navio no nevoeiro denso
como um louco marinheiro longe do mar.
Agora ,ao raspar da solidão o sal e a pele áspera
nada mais me resta que esta carne em sangue-viva
e uma intensa sensação de dor como de quem espera
na floresta e nu ser amarrado e rasgado por silva brava.
Jorge Santos
À margem de ti
Nada se passa em mim sem Ti,
" irmã coragem"
nadas longe...ou ficas na margem insegura,
sem amarra...
"ao Deus dará" ,nem digo:-- "vai", ou desminto o destino
que me colhe todos os dias mais uma,outra,... e outra hora
e que nem me falte essa tua ancoragem
de "Porto sem medo"
lá , onde nem me encalho nem me perco,
sendo eu , só miragem de ti ,
nado no destino dos teus restos de Luas irmãs,
irmã coragem ,
sê a minha margem, senta-me no teu colo
e conta-me uma historia infinita
onde nada se passe..nada,
depois descreve-me em surdina,
isso que nos céus se passa e nos rodapés
desenha-me amanheceres com quentes cores ,
e nas margens rudes
e cavadas
e nos afluentes talhados dos mares sem fundo...
onde nada se passa ,
deixa-me repousar à tua margem...
Jorge Santos
08/2010
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Elegia ao silêncio
Sei o motivo
Tear
Na orla da noite
Frases
Frases do andar por andar “da gente” na rua despida
Frases que querem vir para a frente do título e desmenti-lo
Perdido estou em magras frases da minha rasca vida !
Perdido na mansão ou corredor temporal da frase sem sal
Tenho umas outras frases que se me avizinham
Frases fininhas, em tiras, na mente, que me vêm e vão,
Em gatafunhos secretos e sinais na fase do sermão
Que um mero filósofo (ares a fidalgo da rua) de único sentido
E rondo frases à roda da tabuleta melancolia,
Seu interminável e redondo uso!
Não me encontro com ninguém que me louve
(tenho fases, como a lua, “aquela lua fundeada entre o cais e a maré”.)
No dia em que alguém perguntar ser minha
A frase que “algum pessoa” leu,”não é dia de eu ser só eu”
E, quando chegar esse dia,
O outro “eu” liberto de cada pagina em tiras fininhas cortada,
Ao contrário
Que aconteça o contrário
do inventor ainda não inventado,
nem que o sino toque no campanário
o "reqiem" vezes sem conta badalado,
o pau de canela adoçante no chá,
saiba só a chocolate ou café forte,
que o erro gramatical seja predicado,
e o ordenado na conta do pobre
seja bem mais aumentado,
que o mundo gire as avessas,
até ficar de cabeça tonta,
que eu por essas travessas,
batendo de porta em porta,
com o boné ao contrario,
encontrarei um poeta,
que escreva por linhas tortas.
Jorge Santos
03/2010
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O medo instituído
Esconjuro e dano as forças do universo
que do fogo inútil forjaram este imundo prodígio
por dentro , por fora e ainda do avesso
e este vulgar Homem profeta (absurdo e doentio)
desde o "ghetto" à Medina de Mecca ele rezou,
balbuciou as Thora's enquanto Germanizou o medo,
ignorou a desgraça e deserdou o livre pensamento,
estropiou a humana emoção , jurou segredo,
com lábios cosidos, sobre aquele sujo e imenso degredo.
(é branco o livro sagrado que encosta ao peito)
JORGE MANUEL MENDES DOS SANTOS
27/03/2010 http://namastibetphoto.blogspot.com
Flores do prado
"croquis ",mas o desassossego é tanto,
que rasgo de pronto , as maquetas
e pinto com os dedos besuntados
nas paletas os botões ,as rosas
e os oceanos de emoções
que não consigo descrever,
por estas letras.
trago em mim a percepção do caos,
mas é nas flores iguais que o meu coração
aquece e esquece os momentos maus,
riscos e mais riscos não se me apagam da mente,
nem me embebedam ,diferente das planícies verdes,
essas desprendem-se-me da mente , como papagaios
de papel ,soltos do cordel e o rapaz
que corre ao longo do floral
não me agarra,não me apaga nem me vê mais
sou todo eu todo feito todo vaio
de flores de maios...
Jorge Santos
03/2010
http://joel-matos.blogspot.com
Alma d'espantalho
De pano,nem por ser espantalho
Podem ser menos humanos seus ais
Seus sonhos papeis e coração de chocalho
Oco até ao pau que o sustenta
Não sente?,é ele próprio "a tormenta"
e o esteio,quem chora nas manhãs,
solitárias e tardes certas.
Jorge Santos
03/2010 http://namastibetpoems.blo
Barbearia
Nunca serei nada do lado de fora dele,
Não posso mais do que querer ser,
Parte dos sonhos e de todos os lugares.
Sou filho comuna do vazio e cantoneiro
Quero...
Quero as suavidades pequenas e leves,
De poder sentir as brisas, soprando mansas
E nelas , leves , voem penas e esperanças,
Absortas em saudades de gestos suaves.
Quero sonhos flagrantes, madrugados,
Cores e horizontes fardados, como amantes,
Quero ter de volta os bandos migrados,
De aves vestidas e nelas beber como dantes.
Troco tomos e tomos de obras de artes,
Pelos sentidos tombos, suaves, do vinho,
a alegria de viver ,os caminhos e os enterneceres
Quero dançar de novo feito dançarino.
Jor
http://joel-matos.blogspot.co
assim assim...
Eu quis ter um desses dias "assim assim"
Montei o monte claro que foi Olimpo
E foi quando voltei de querubim,
E virei costas aos sinais do tempo.
Eu quis ser um desses dias totais de vento
Com estandarte xadrez,armadura e tudo
Mas tudo o que consegui foi ficar mais tonto
E correr com o furor desfraldado
Se o meu sonho de ser tão alto
Fracassou foi porque faltei ao encanto
Cansei do contador de contos não fui coerente
Nem agarrei pela frente o elefante da sorte
Se trafiquei causas vesgas , foi por assim haver
Contrafeito todas as "merdas" e fazer de travesseiros,
As fraldas do monte Vesúvio, fiquei a feder
Por dentro e por fora tresandava , de maus cheiros.
(Fui eu sim ,num dia assim/assim)
Jorge Santos
Morcegario
O Morcegario
Como descrer das fabulosas noites
A destapar céus, vestidos negros Cravados a buracos de alfinetes Sem neles mesmo admitir prodígios!?
Como descrever, aos olhos de cegos, Simples silvos, inventados nas foices De mil acompanhantes de Demónios, Sedentos, em tectos e estalactites.
E… agoiro d’ meus últimos sonhos, Ouço gritos em morcegarios imensos Ajoujados em velhas tradições
Nem resisto, saem-me dos pulmões Feridos catadupas de maldições, De vultos Negros e bandos de Morcegos.
Joel Matos (2010/02)
O Morcegario
Causas Presas (Free Tibet)
Asas d’vento
E sonho é meu, o de virar vendaval e entrar,
De rompante, pelas plumas destas adentro,
Ir e não parar, mas fico na sala-de-estar,
Para aí, todo-o-dia morar, tudo quieto.
HOrus
O olho de HOrus
À volta de bolhas de cristais translúcidos, mariposas esvoaçam enquanto sons abafados intangíveis criavam uma atmosfera densa, fragial no ritual das videntes da Florença fim de tarde, sentia-se em casa e avança, por entre aquela multidão que dança em rodas de bruxas, feiticeiras, alguns turistas e carteiristas ítalos, caminha alheio e defronte dele abre-se a porta da catedral renascentista da cidade, convida-o um monge tapado a preceito a entrar, ele olha para trás sobre os ombros ainda o monge não se tivesse enganado e pergunta-lhe sussurrando:
- quem? Io?
O monge baixa ligeiramente a cabeça em sinal afirmativo.
Os passos ecoam na Basílica, o esvoaçar de uma coruja perto do altar e a luz ambígua e pouca que se esgueira pelos vitrais penetram fundo no espírito de Joel, como se aquele segundo tivesse sido congelado para jamais o abandonar e o perseguisse futuramente fosse para onde fosse na demanda mística que se propusera.
Aquele segundo tinha-o visto de soslaio nas auras de cristal da rua das videntes.
Provavelmente Joel nunca sentira calafrio tão intenso percorrer todo o corpo e fixar-se no fundo das costas, entrara numa imensa galeria de estantes com pergaminhos e escritos antigos, um escrito em hebraico chamou-lhe a atenção, o título “ עינו של אלוהים” (O olho de Deus), exactamente aquele que o monge retirou cuidadosamente e pousou sobre a grande mesa que compunha todo o centro da sala.
Retirou-se lentamente e em silêncio como tinha entrado deixando Joel só na enorme galeria.
Durante o percurso que realizara na Peregrinação a Santiago de Compostela mencionava-o em registos murais e frisos das muitas igrejas mas duvidara da autenticidade do códice, agora tinha-o ali iluminado pela luz vagabunda dos vitrais da catedral.
Símbolos e mais símbolos afluíam aos olhos espantados de Joel, esperava encontrar uma nova definição para a luz e renascia o interesse pelas transcrições que o seu pai anotara décadas antes num velho bloco, só faltava mesmo era dar sentido a todos aqueles gatafunhos.
Agora o céu era maior, caminhava desde muito cedo num descampado tingido com os primeiros laivos da madrugada, desde que partira há quatro dias de S.Jean Pied de Port , subindo as encostas íngremes dos Pirenéus até aqui a Atapuerca atravessara vários tipos de paisagem, vinhas recém-vindimadas ,Carvalhais anãos ,cidades grandes e lugarejos com apenas algumas casas pobres , encontrava-se finalmente no reino das pedras ,no mais antigo domínio que o homem tinha gerado e também o mais inextinguível, magnífico senhor das pedras sentia-se ao calcorrear aquele descampado ,para outros simples calhaus mas para Joel tinham um significado bem mais lapidado, os requintes estavam nas pedras milenares desquinadas pelos pés de quem usufruíra do caminho.
O espanto revela-se como numa pedra da roseta nas simbologias que se escondiam nas brochuras amarelecidas, Maria não tinha uma cultura extravasante mas sabia o som dos silêncios e dos sussurros do vento em árvores e caminhares de miles de anos, o mesmo som abafado da rua das videntes de Florença, exactamente os mesmos cheiros e sigilos. Fez-se um silêncio de cera, os conceitos escondidos nos pergaminhos tinham os mesmos prenúncios, dir-se-iam entoados por todas as fecundadas em unanimidade.
Deixou de relacionar os caminhos cruzados nas terras dos “Vera cruz” ou a Itália do renascimento dos senhorios mas com, simplesmente “Maria da Luz”, com o nascimento do Homem perante o Olhar de Deus, a senda da Luz.